Capítulo XII: Recrutando reféns (Tiago)
_ Vamos morrer –
disse Ethan de dentro da armadura, ao meu lado.
Nós havíamos pegado a
armadura de dois sentinelas que estavam fazendo a guarda um pouco
afastados do acampamento e agora estávamos prestes a fazer a coisa
mais maluca possível: nos infiltrar.
_ Para onde? –
perguntei.
_ Aquele galpão à
esquerda tem os galões de gasolina – disse ele apontando. Aquele é
dos reféns – apontou para outro – e aquele tem um caminhão.
_ Teremos quanto tempo?
_ Esteja pronto em 5
min.
Eu concordei e nos
separamos. À minha volta, vários monstros andavam pra lá e pra
cá, carregando caixas, afiando lâminas, treinando e outras coisas.
Uma coisa me chamou
atenção. Os humanos que estavam trabalhando não pareciam serem
normais. Pareciam estarem sendo controlados.
Enquanto observava,
vários deles carregaram diferentes caminhões com caixas, que pelo
que pude ver, tinham várias espadas e armaduras. Assim que
terminaram, entraram no espaço que sobrou e partiram em um comboio
de cinco caminhões.
Lá dentro outros
monstros e guerreiros inimigos conversavam. Decidi tentar descobrir o
que estava acontecendo e fui na direção deles. Assim que me
aproximei, vi que estavam conversando em grego antigo, uma língua
que eu não dominava tão bem.
Com o que entendi, eles
disseram que estavam atrasados em mandar as mercadorias. E que eles
deviam levantar acampamento em no máximo dois dias. Eu teria ficado
mais, porém me lembrei do plano e de como o tempo era curto. Então
fui à cabana dos reféns.
Assim que estava saindo
do lugar, um dos guerreiros me chamou.
_ Ei novato – ele veio
em minha direção – vá à cabana quatro e chame o Rickie. Preciso
falar com ele. Sabe onde fica a cabana quatro não é novato?
_ N ... não senhor.
_ É claro que não
sabe, só trazem os novatos até esse acampamento. É a cabana do
lado da cozinha, e vá rápido.
_ Sim senhor.
Isso iria só me
atrasar, mas eu não podia deixar de lado. Caso o fizesse, eles
iriam suspeitar e iriam atrás de mim, estragando totalmente o
plano. Me apressei indo em direção a cozinha, que ficava do outro
lado do acampamento. Enquanto ia, vi Ethan saindo de um dos galpões
e indo em direção a outro. Era melhor me apressar mais ainda.
Cheguei à cabana
quatro, que parecia deserta a não ser pela presença de uma pessoa,
e assim que entrei, disse que estavam chamando o Rickie.
Fiquei sozinho naquela
cabana e tive uma ideia. Em cima de uma mesa, vários papéis e
mapas estavam abertos. Resolvi dar uma olhada.
Em uma pasta havia o
nome de várias pessoas e diferentes endereços. Um deles era o
endereço de minha casa, com o nome e uma foto minha e da minha mãe.
Ao lado dos nomes, lia-se “capturada e em nosso poder”. Assim
que li aquilo, minhas esperanças de encontrar minha mãe
aumentaram, então decidi ir até o local dos reféns, antes que
Ethan aparecesse lá.
O lugar onde eles
estavam era um pouco afastados do centro do acampamento. Na porta,
havia somente dois guardas.
_ Olá – estávamos
falando em dinamarquês, mas preferi escrever em português – vim
aqui para a troca de turnos.
_ Que demora – o
guarda da direita disse – estou cansado e com fome, você deveria
ter vindo aqui mais cedo.
_ É que eu sou novato
então não sei muito das coisas. – eu respondi – Nem sei onde eu
ia ficar ou o que ia fazer. Eles nunca dizem aos novatos
_ E enviam alguém
totalmente despreparado. - o guarda da direita disse- Venha vou lhe
mostrar o que tem aqui.
Ele usou uma chave que
estava pendurada num cordão em seu pescoço para abrir a porta e
soltar as correntes. Ele entrou seguido pelo outro guarda. Os dois
ficaram de costas para mim. Aproveitei isso, e assim que os dois
entraram, bati na cabeça dos dois, fazendo-os desmaiarem.
Derruba-los foi mais
fácil do que pensei. Mas o que foi difícil foi acalmar cerca de
vinte pessoas que estavam dentro do galpão.
Estavam amarradas, de
boca tampada com lenços. Dava para ver o medo nos olhos de alguns,
evidentemente os mortais, e uma estremas raiva nos olhos de outros,
os semideuses.
_ Calma pessoal, sou eu,
Thiago Graeves, filho da Célia Graeves, do acampamento de
Bronderslev. Vim aqui para salvá-los.
Comecei o difícil
trabalho de abrir as algemas e tirar os panos que cobriam a boca de
todos. Muitos dos que estavam lá eu conhecia só de vista. Deu pra
reconhecer umas dez pessoas. Pais e filhos, ou somente alguns que
estavam sozinhos, que eu sabia que não tinham pais. Acabei lembrando
de minha mãe, que pelo que parecia, não estava lá.
_ Você esta sozinho? –
perguntou uma menina enquanto se levantava, com o nome de Lisa, eu
acho.
_ Não – respondi
virando para ela – Há cerca de cinquenta ou sessenta elfos
espalhados ao redor do acampamento, esperando para atacar. Enquanto
isso, um amigo meu está colocando explosivos em alguns locais e
também está procurando um carro. São bastante monstro mas...
Ouvi uma batida na
porta. Puxei minha espada e preparei meu escudo enquanto virava para
a porta. Meu coração disparou. Ao meu lado, os outros haviam
pegado as armas dos guardas que estavam desacordados e estavam
prontos para lutar com quem quer que fosse.
_ Thiago – era a voz
de Ethan – está ai?
_ Ethan seu... –
abaixei as armas e sinalizei para que os outros fizessem o mesmo.
Abri a porta e me deparei com Ethan – Você está...
_ Quieto! – ele entrou
me empurrando enquanto examinava os outros - Pensei que haveriam
mais – ele se virou para mim – e sua mãe?
Sinalizei que não para
ele. Ele disse uma praga em dinamarquês e se virou para os outros:
_ Meu nome é Ethan.
Faço parte do mesmo acampamento do Thiago. Vocês sabem onde uma
mulher chamada Célia está?
_ Ela foi levada junto
com outros ontem – respondeu Lisa – sinto muito.
_ Droga! De qualquer
modo, temos que continuar com o plano, então escutem bem, pois só
vou dizer isso uma vez. Tem cerca de sessenta elfos preparados para
atacar e também tem três barracões que eu coloquei explosivos. Eu
irei explodi-los, dando inicio a uma chuva de flechas dos elfos.
Então atacaremos. Ai vocês entram, e atacam junto.
_ Mas como vamos lutar
com poucas armas? – disse um menino atrás de Lisa.
_ Ah, já ia me
esquecendo – ele pegou uma bolsa que trazia e abriu ela no chão.
Dentro havia espadas e arcos o suficiente para todos ali dentro. -
achei isso dentro de um dos galpões. Achei que seria necessário.
_ Isso e bom – eu
disse me levantando – Agora que vocês tem armas e já sabem do
plano, nós iremos voltar para os elfos agora. Tenham sorte e que Tyr
guie suas espadas.
_ O mesmo a você
garoto!
Vamos à luta (Tiago)
Sair do acampamento sem
que ninguém visse foi bem fácil, já que o acampamento parecia ter
menos inimigos circulando. Os elfos estavam preparados, e como sempre
já estavam a nossa espera.
_ Fingor – eu chamei –
já avisei eles, podemos começar. Mas antes eu quero falar uma coisa
que eu descobri.
Disse a ele o que ouvi
da conversa dos inimigos e sobre os caminhões que saíram do
acampamento.
_ Nós vimos os cinco
caminhões saindo, não fizemos nada contra eles pois se fizéssemos
nossa presença poderia ter sido notada facilmente.
_ E isso não seria nada
bom. Mas o que eu não entendi é como os monstros não nos
perceberam pelo cheiro, ou alguma coisa assim.
_ É que nossa magia não
deixa que eles nos notem. Assim podemos cercar o acampamento, sem
eles perceberem.
_ Isso é incrível.
Então vocês podem ...
_ O papo está ótimo –
interrompeu Peter – mas nós temos uma invasão para começar e eu
estou ansioso para que comece logo.
_ Filhos de Tyr –
disse fingor revirando os olhos – são sempre assim. Vamos começar.
Ele pegou o celular,
discou e disse apenas “pronto” e desligou novamente.
_ Arqueiros, não
desperdicem flechas. Matem o máximo possível. Ethan, pode explodir
os galpões.
Assim que Fingor disse
isso, Ethan pegou o detonador e apertou o botão. Assim que apertou,
três dos sete galpões do acampamento explodiram, lançando pedaços
de madeira pelo ar.
_ Arqueiros, ATAQUEM! –
ao comando de fingor, uma saraivada de flechas foi disparada.
Lá embaixo, os monstros
desordenados e com medo corriam pra lá e para cá. Assim que as
flechas chegaram, vários monstros viraram um amontoado de neve, ou
então de poeira dourada.
_ Avançar!
Atacamos. Enquanto o
outro grupo descia do outro lado do acampamento, os prisioneiros
saíram do galpão e atacaram juntos. Desorientados, vários monstros
foram rapidamente mortos. Porém, como eram mais de uma centena,
ainda havia muitos.
Os guerreiros se
recuperaram rapidamente do susto inicial e começaram o
contra-ataque. Um deles me atacou com a espada de cima para baixo,
direto na minha cabeça. Defendi e joguei a espada dele longe. Não o
matei, mas lhe dei uma boa pancada com a minha soqueira. Pancada
suficientemente forte para desacordar qualquer um.
Ethan estava cuidando
dos Fenris, junto com Peter. Cada ataque do martelo dele era um
monstro que voava.
Os elfos também lutavam
muito bem. Moviam-se silenciosamente, sem esboçar qualquer reação,
derrotando qualquer coisa que estavam em seu caminho, com no máximo
um ou dois golpes de suas adagas.
As pessoas mortais
tentavam se afastar da luta sendo protegidas, de qualquer um que
tentasse matá-los, pelos elfos.
Por alguns segundos, vi
que havia me adiantado demais e que estava sozinho entre os inimigos.
Alguns monstros estavam me cercando. Mas Peter logo apareceu para me
ajudar.
_ oi – ele disse,
ficando de costas para mim enquanto carregava – precisa de ajuda?
_ E você, precisa?
Nós dois rimos mas a
situação estava feia para nós dois. À nossa volta, uns quinze
fenris e uns dez esqueletos nos cercaram. Eles estavam prestes a
atacar, quando o ronco de um motor chamou a atenção de todos. Ethan
passou atropelando metade dos monstros que estavam nos cercando com
uma Dodge Ram preta.
Assim que passou pelos
monstros, ele foi em direção ao portão do acampamento em alta
velocidade, e em segundos ele sumiu. Mas eu devia me preocupar com
isso depois. Os monstros que não foram atropelados estavam com mais
raiva do que nunca e atacaram todos de uma vez.
Mas eu também estava
com mais raiva do que nunca. Em segundos, e um atrás do outro, eles
foram sendo destruídos. Em segundos, aqueles que haviam nos cercado
já estavam mortos. Mas eu queria lutar mais. Fui atrás de outros,
derrotando todos os que apareciam na minha frente. Alguns tentavam
fugir assim que viram o que eu estava fazendo, mas eu os seguia e
destruía todos.
Peter tentava me chamar
e sempre que tentava me alcançar, acabava lutando com algum monstro,
o que nos distanciava mais.
Estava com raiva e
preocupado. Porque Ethan havia ido embora? Será que nos traiu? Não!
Isso é bobagem, ele nunca faria isso, talvez tivesse uma boa razão
para isso.
Na minha frente, a
alguns metros, cinco esqueletos armados com lanças, formaram uma
linha e estavam correndo em minha direção. Não hesitei e corri em
direção a eles. Estava com tanta raiva que não consegui ouvir o
som do carro que havia nos salvado há pouco.
Ethan novamente apareceu
para nos ajudar, atropelando os cinco esqueletos, todos de uma vez,
mas assim que pode, parou o carro e desceu.
_Olá! – Ele deu a
volta no carro – Acabei quebrando o braço então tive que me
afastar um pouco da luta – e apontou para o braço que estava em
uma posição estranha - não dava pra lutar assim.
_ Eu pensei... Ah deixa
quieto! – eu disse abaixando a cabeça – belo Strike.
_ Obrigado.
_Thiago – uma voz
atrás de nós me chamou – parece que a luta acabou – era Fingor
que vinha em nossa direção – Algum problema aqui?
_ Só meu braço que
quebrou – disse Ethan mostrando o braço.
_ Isso e fácil de se
ajeitar. – ele pegou uma bolsa que trazia, pegou um cantil, uma
pomada e um pedaço de gaze - tome um pouco – e entregou o cantil –
Peter me ajude aqui.
Enquanto eles enfaixavam
o braço de Ethan, entre um ou dois palavrões que ele soltava,
decidi dar uma olhada em volta para ver como o acampamento estava.
Assim que olhei em volta, vi uma pessoa parada na sombra de algumas
árvores. Ele olhava para nós e parecia furioso.
Quando pensei em alertar
Fingor, o vulto se virou e desapareceu no escuro.