Capítulo XIV: Encontro meu pai (Tiago)
Encontrar meu pai foi uma das melhores coisas que poderia acontecer comigo. Desde que eu consigo me lembrar, sempre perguntava pra minha mãe sobre meu pai e ela sempre se esquivava, tentava levar a conversa para outro assunto ou então dava rápidas respostas. Nunca falando a verdadeira identidade do meu pai.
Mas
essas perguntas foram respondidas quando eu tinha sete anos. Um
acidente com um fenris forçou a minha mãe a procurar a ajuda do
acampamento. Eu estava brincando com a neve, no fundo da minha casa,
quando três fenris apareceram. Os corvos que sempre ficavam para me
proteger tentaram me salvar, mas dois dos fenris os atacaram, e o
terceiro veio na minha direção. Foi então que aconteceu a coisa
mais estranha até aquela época. Com um clarão, o lobo saiu voando.
Quando
olhei para onde o brilho veio, minha mãe estava com a mão
estendida, na qual usava um anel muito estranho. Da palma da mão
dela, saia uma luz estranha, e na outra havia um pedaço de
pergaminho antigo que ela segurava com força. Os seus olhos que
sempre mostravam uma grande alegria e seu sorriso típico haviam
sumido. Eles haviam dado lugar a um olhar sério, mas sábio, e uma
expressão de seriedade.
Quando
perguntei a ela o que tinha acontecido naquele dia, algumas semanas
depois, a expressão dela mudou novamente, para a mesma que ela tinha
naquela ocasião.
_ Seu
pai... – ela começou com a voz calma, que deu lugar para uma voz
mais séria – Sabe filho, antes de você nascer, eu era fascinada
pela magia que cercava o mundo. Deve ser por isso que seu pai se
apaixonou por mim. Quando eu tive você, ele precisou voltar para o
reino dele e me deixou com uma folha de um livro de magia, junto com
um anel com força mágica suficiente para um feitiço, para o caso
de precisar te proteger.
_ A
senhora ainda tem aquele anel?
_ Não.
Depois que eu o usei, ele se desfez e a folha do livro eu a queimei.
Eu não podia usar magia de novo, porque não tinha mais poder
mágico, então não fazia sentido guardar aquilo.
Enquanto
conversávamos, o taxista colocava minhas coisas no porta-malas.
_ Você
acha que eu vou ficar bem se eu for para esse acampamento?
_ Sim,
eu acho. Seu pai disse que esse dia chegaria e que seria o certo você
ir.
_ Ele
disse mais alguma coisa?
_ Disse
para você ter força e tentar fazer as coisas o melhor possível –
ela me abraçou – fique bom ok?
_ Pode
deixar mãe e quando eu voltar, eu prometo que não deixarei nada te
machucar, tá?
_ Hey,
- o taxista já estava me chamando - lad os få det overstået.
_ kun
et minut – minha mãe me abraçou, de novo – fique bem tá?
_ Você
já disse isso.
Ela
riu e eu fui em direção ao taxista. Entreguei-lhe o endereço do
acampamento que seria minha casa por algumas temporadas. Assim que o
táxi começou a se mexer, eu olhei para trás e vi que ela estava
sorrindo. O que eu não sabia era que veria esse sorriso mais uma ou
duas vezes, antes de ela ser sequestrada.
Eu
havia prometido a ela que não deixaria nada iria lhe acontecer, mas
falhei. Agora ela estava em algum lugar da Europa, cercada de
monstros, talvez machucada e sozinha.
E
agora eu conheci meu pai. Com certeza ele tentou protegê-la. E
também me deu mais força. Só tenho o que agradecer a ele.
Enquanto
pensava em várias coisas ao mesmo tempo, senti alguma coisa tocando
meu rosto, foi aí que eu percebi que eu estava deitado em uma cama,
e alguém chamava meu nome.
_Thiago?
– a voz tava meio longe e alguma coisa continuava a cutucar meu
rosto. Isso me irritava.
_
Esperem um pouco – era a voz de uma mulher – deixa-me procurar
aqui... Onde está... Aqui – alguém aproximou alguma coisa do meu
nariz e um cheiro forte me fez acordar.
Me
levantei rápido e uma dor nas costas me fez soltar um grunhido.
_
Calma ai cara, você não tá cem por cento ainda. – pelo o que eu consegui
ver, depois que a minha visão normalizou, eu estava deitado em uma
cama de hospital, cercado por Ethan, Peter e uma enfermeira que pelo
que eu podia ver, ou estava agachada, ou era uma anã – você caiu
de costas em cima de mim quando voltamos.
_ Onde
estamos? – dei uma olhada em volta de novo. Eu estava em um quarto.
Um daqueles em que os pacientes ficam quando internados. Havia um
soro com um líquido meio marrom, algum remédio dos anões, ao meu
lado. Havia também uma bandeja de sopa, que já estava bem fria e
uma TV ligada em algum canal de noticias. O repórter estava
conversado com uma mulher sobre os atuais acontecimentos na moda. –
Como chegamos aqui, e quem é você? – eu apontei pra enfermeira -
Porque minhas costas doem e você disse que eu caí em cima de você?
_
Hei! Calminho aí, garotão – a voz da anã era bem mais calma do
que eu pensava, com um leve sotaque alemão – você ainda tá meio
machucado, seu corpo não se acostumou com as mudanças que seu pai
fez em você. Quanto ao meu nome, é Ana, e você esta na cidade de
Magdeburgo. Não sei ao certo como vieram parar aqui, a não ser pelo
fato de o que parecia que bifrost fora aberta para vocês.
_ Foi
aí que você caiu em cima de mim.
_
Eu acho que seu corpo ainda não tinha se acostumado com a magia que
seu pai lhe passou – ela colocou um termômetro na minha boca –
por isso quando voltou estava fraco e machucado.
_
E vocês? – eu olhei para Peter e Ethan – estão bem?
_
Ficamos preocupados, você apagou por vários dias e nenhum desses
remédios que eles usavam te fazia acordar.
_
Eu até fiz umas brincadeiras com você. – Ethan parecia achar
graça de tudo – fiquei cutucando seu rosto, pra ver se acordava ou
alguma coisa assim, mas não adiantava. Então a Ana teve a ideia de
usar esse troço aqui – e mostrou o que parecia ser um frasco com
algum liquido dentro – então você acordou.
_
Como viemos parar aqui?
_
Seu pai trouxe vocês aqui – uma pessoa entrou no quarto, era outro
anão, usava um terno preto e um pequeno chapéu na cabeça. No canto
da boca, um charuto soltava uma fumaça cinza. Não parecia ser muito
velho, tinha uma barba raspada, e uma cara carrancuda – e isso foi
uma irresponsabilidade – ele tinha o mesmo tom de voz de Ralgler,
sempre de mal humor. – Trazer três crianças para o meio da
Alemanha.
_
Estamos ma Alemanha?
_
Sim estamos – Peter se aproximou – parece que fizemos um pouco de
estragos quando chegamos.
_
Um pouco de estragos? Bifrost é uma poderosa criança. Assim que
ela é ativada, uma onda de energia aparece ao redor dela, por isso
só a usamos em lugares longe de qualquer casa. Seu pai a ativou no
meio de uma cidade inteira! Ele destruiu o telhado de sete casas, e
arrancou quatro arvores do chão! Não foi fácil convencer as pessoas
de que foi um simples tornado mesmo com a névoa encobrindo tudo. –
ele ficou andando de um lado para o outro. – os custos foram altos
e a cada dia a imprensa questiona mais e mais. Ele é um
irresponsável.
Como
esse cara chama meu pai de irresponsável?
_
Vocês três, saiam e fechem a porta. Eu quero coversar com o Thiago.
– ele tirou o chapéu e esperou que eles saíssem – Assim é melhor –
ele deu uma tragada no charuto e depois se virou para mim – diga-me
garoto, você já tinha visto seu pai antes? Responda-me com rapidez
e sinceridade e não tente mentir para mim, garoto.
_
Certo senhor. Mas antes, quem é você?
_
Eu sou o prefeito da cidade, assim como o chefe do conselho dos
anões. Agora se não for atrapalhar de novo, quero fazer as
perguntas.
_
Sim, senhor.
_
Quais foram as circunstâncias de seu encontro com ele? E... você já
o tinha visto antes?
_
Estávamos fugindo de um acampamento inimigo e sofremos um acidente.
– enquanto eu ia falando, ele ia fazendo sinal para que eu
continuasse e olhava para o outro lado do quarto - Me lembro de ter
visto um turbilhão de cores ao meu redor, Bifrost – ele concordou
-, e depois de estar sendo levado a algum lugar. Só quando chegamos
e que eu vi que estávamos em Valhalla. Lá eu conversei com meu pai,
pela primeira vez na vida.
_
Ele te deu alguma coisa?
_
Deu todos os meus poderes de semideus, e também me deu isso – e
entreguei o pequeno dispositivo para ele. Ele examinou o dispositivo,
olhando com um ar de suspeita, mas depois me devolveu.
_
Não se esqueça de usar isso em uma ocasião de extrema necessidade.
_
Sim, senhor.
_
Quanto aos seus poderes, a magia ficará um pouco escondida, até que
seja exercitada. Você será somente um semideus com as forças de um
Asgardiano. Depois que voltar da missão você vai começar a treinar
ela para ser um mago de verdade.
_
Sim, senhor
_
Agora, levante-se dessa cama e vá comer algo. Você já esta aqui
há muitos dias. Levante-se e dê uma olhada no mundo lá fora.
Ele
se virou para ir embora, quando, no meio do caminho, parou, colocou a
mão no bolso e tirou um colar que me era um pouco familiar.
_
Isso foi encontrado quando nossos investigadores estavam nos rastros
do grupo que raptou as pessoas que vocês estão procurando – e me
entregou o colar – espero que lembre o porquê de estar aqui. – e
saiu do quarto
Era
um colar que minha mãe usava. Ele era na forma de um coração,
feito de prata. Em um lado tinha uma foto dela, e do outro, uma foto
minha. Éramos bem parecidos. Eu com os olhos pretos, característicos
de meu pai, e ela com olhos castanhos, cabelo preto e um sorriso que
eu não via fazia um tempo.
Me
levantei da cama e coloquei minhas roupas, ignorando a dor nas minhas
costas. Aonde quer que ela estivesse eu não iria ficar parado,
esperando ela simplesmente aparecer, eu já tinha ficado muito tempo
parado.
Assim
que terminei de colocar a roupa, saí do quarto. Chamei Ethan e Peter
e fui atrás de um computador.
_
O que você tá fazendo?
_
Espere e verá.
Entrei
no Google maps e procurei no bolso o endereço da casa para onde as
armas eram levadas. Esse endereço era o que eu havia pegado no
acampamento inimigo algum tempo atrás. Digitei o endereço e
apareceu tudo, número da casa, rua.
_
Precisamos ir para lá. – eu disse – mas como?
_
Táxi? – Peter perguntou,
_
Tem que ser um jeito mais rápido. Não podemos ir de avião?
_
Com essa tempestade de neve caindo? Acho que não.
_
Então teremos que ir de táxi.
_ Eu
vou ligar para um agora mesmo. – dizendo isso, Peter foi atrás de
um telefone.
_
E suas costas cara? – Ethan colocou a mão no meu ombro
_
Vai melhorar. – soltei um suspiro – sinto saudades da minha mãe.
_
Eu sei. Lembra que quando minha mãe morreu foi a sua mãe que cuidou
de mim depois? Também sinto falta dela.
_
Faz tempo isso. - soltei outro suspiro.
_
A gente vai achar sua mãe, não se preocupe.
_
Pessoal - Peter tinha voltado do telefone – já chamei o táxi,
vamos arrumar nossas coisas.
Voltei
para o quarto em que eu estava e juntei minhas coisas. As coisas do
Peter e do Ethan estavam em outros quartos.
Enquanto
pegava minhas coisas, Ana voltou, com um embrulho nas mãos.
_
Então vocês já vão? – ela perguntou.
_ Precisamos
ir, já demoramos muito aqui.
_
Não vou impedi-los – ela se aproximou e me ajudou a arrumar minhas
coisas, deixando o embrulho de lado – mas vou dizer uma coisa, o
mundo esta muito diferente, tome cuidado.
_
Não se preocupe, eu sei me cuidar.
_
Não duvido disso – ela pegou um embrulho de novo – Tome e leia
durante a viagem o máximo que conseguir, depois o deixe dentro do
táxi, ele voltará a mim. Agora você não pode ficar com ele, mas
depois ele será seu. – e me entregou.
Era
um livro, com capa de couro antigo, muito desgastado. Assim que eu o
abri, vi que era composto de várias fórmulas, palavras de vários
dialetos diferentes. Um livro de magia.
_
Você já deve ter visto algum com a mesma aparência, mas nenhum é
como esse. Ele tem fórmulas poderosas, que muitos não conseguem
usar. Você, já que é um semideus, pode ler os quatro primeiros
capítulos, nada mais que isso! Ou a magia vai acabar matando você
de cansaço.
_
Obrigado!
_
Não precisa agradecer. Agora vá e encontre sua mãe.
Eu
voltei para a entrada do hospital, onde Ethan e Peter já estavam
esperando. Enquanto andava, vi que o hospital estava com uma
quantidade de pessoas acima do normal. Vários deles estavam meio
congelados, ataque típico de gigantes do gelo.
_
As coisas estão estranhas mesmo – eu sussurrei.
_
O que? – Ethan perguntou.
_
Não, nada. Onde está o táxi?
_
Já está chegando. – ele pegou e se virou para mim – o que é
isso? – ele apontou para o livro.
_
Ah, só um presente. Um livro de magia pra ser mais exato.
_
Que fera – ele pegou o livro, abriu e fez cara de surpreso - não
tem nada aqui - e passou o livro para Ethan, que disse a mesma coisa.
_
Estranho – peguei o livro de novo e estava tudo lá, desenhos,
palavras de varias línguas e outras coisas – eu consigo ver
normal.
_
Ah, vá entender – Ethan se virou para a rua – ele chegou.
O
táxi estava chegando. Na direção, havia uma pessoa pequena, mais
um anão com certeza. Assim que ele chegou na nossa frente, ele
desceu do carro e meu palpite estava certo, era um anão.
_
Olá senhores. Meu nome e Marlon. Tragam suas malas aqui. – ele foi
até o porta malas, abriu e, em alguns instantes, sem a ajuda de
ninguém, as guardou – Vamos então? O endereço, por favor. – eu
entreguei o endereço a ele – bom, vamos então.
Entrei
no banco de trás, junto com Peter e Ethan, e por sorte, não ficamos
apertados. O anão entrou no carro e sentou-se em uma cadeirinha
adaptada para ele. Manobrando, nós saímos do hospital, indo em
direção a alto-estrada.
_
Digam-me, senhores – ele ia dirigindo e lançando olhares rápidos
pelo retrovisor – seus pais são pessoas conhecidas? – Tirei os
olhos do livro, que eu já havia começado a ler, e dei uma olhada
para os outros. Com certeza ele sabia quem nós éramos, mas queria
confirmar.
_
Sou filho de Odin e estes são filhos de Tyr e Loki – assim que
ouviu isso ele perdeu o controle do carro, mas rapidamente controlou
de novo.
_
Então, estão em alguma missão?
_
Sim – eu respondi.
_
E certamente precisam chegar rápido a seu destino. – Ele olhou
pelo retrovisor novamente e seus olhos tinham um olhar de cobiça –
se me derem um pagamento bom, posso levá-los através de uma passagem
mais rápida.
Eu
olhei para o lado e vi que meus amigos estavam esperando uma resposta
minha. As únicas coisas que eu tinha era o livro, algumas centenas
de euros, o colar da minha mãe e minhas armas. Eu peguei o colar na
mão e tirei as fotos da minha mãe e a minha e entreguei a ele o
colar vazio junto com os euros.
_
Ah sim. Isso é o suficiente - e pegou o colar – se segurem.
Ele
atravessou as pistas da rua, de um lado a outro e entrou em uma
viela. No final dela, havia um muro, que se aproximava cada vez mais
rápido. O taxista pegou o celular e discou um número e começou a
conversar com alguém. Enquanto isso o muro se aproximava cada vez
mais.
Ele
terminou de falar, guardou o celular e acelerou mais ainda. Nessa
hora Peter, Ethan e eu já estávamos gritando... A parede se
aproximava mais e mais rápido.
Então,
ela simplesmente sumiu, dando lugar para um túnel, que seguia cada
vez mais fundo. Antes que todas as luzes se apagassem, consegui ler
uma coisa escrita em uma placa, “cuidado com a cabeça” e então,
com os faróis ligados, entramos no túnel, deixando a luz lá atrás,
no buraco que apareceu na parede.