domingo, 10 de junho de 2012








Capítulo XIV:  Encontro meu pai (Tiago)





     Encontrar meu pai foi uma das melhores coisas que poderia acontecer comigo. Desde que eu consigo me lembrar, sempre perguntava pra minha mãe sobre meu pai e ela sempre se esquivava, tentava levar a conversa para outro assunto ou então dava rápidas respostas. Nunca falando a verdadeira identidade do meu pai.
     Mas essas perguntas foram respondidas quando eu tinha sete anos. Um acidente com um fenris forçou a minha mãe a procurar a ajuda do acampamento. Eu estava brincando com a neve, no fundo da minha casa, quando três fenris apareceram. Os corvos que sempre ficavam para me proteger tentaram me salvar, mas dois dos fenris os atacaram, e o terceiro veio na minha direção. Foi então que aconteceu a coisa mais estranha até aquela época. Com um clarão, o lobo saiu voando.
     Quando olhei para onde o brilho veio, minha mãe estava com a mão estendida, na qual usava um anel muito estranho. Da palma da mão dela, saia uma luz estranha, e na outra havia um pedaço de pergaminho antigo que ela segurava com força. Os seus olhos que sempre mostravam uma grande alegria e seu sorriso típico haviam sumido. Eles haviam dado lugar a um olhar sério, mas sábio, e uma expressão de seriedade.


    Quando perguntei a ela o que tinha acontecido naquele dia, algumas semanas depois, a expressão dela mudou novamente, para a mesma que ela tinha naquela ocasião.
    _ Seu pai... – ela começou com a voz calma, que deu lugar para uma voz mais séria – Sabe filho, antes de você nascer, eu era fascinada pela magia que cercava o mundo. Deve ser por isso que seu pai se apaixonou por mim. Quando eu tive você, ele precisou voltar para o reino dele e me deixou com uma folha de um livro de magia, junto com um anel com força mágica suficiente para um feitiço, para o caso de precisar te proteger.
    _ A senhora ainda tem aquele anel?
   _ Não. Depois que eu o usei, ele se desfez e a folha do livro eu a queimei. Eu não podia usar magia de novo, porque não tinha mais poder mágico, então não fazia sentido guardar aquilo.
    Enquanto conversávamos, o taxista colocava minhas coisas no porta-malas.
    _ Você acha que eu vou ficar bem se eu for para esse acampamento?
   _ Sim, eu acho. Seu pai disse que esse dia chegaria e que seria o certo você ir.
    _ Ele disse mais alguma coisa?
   _ Disse para você ter força e tentar fazer as coisas o melhor possível – ela me abraçou – fique bom ok?


   _ Pode deixar mãe e quando eu voltar, eu prometo que não deixarei nada te machucar, tá?
    _ Hey, - o taxista já estava me chamando - lad os få det overstået.
    _ kun et minut – minha mãe me abraçou, de novo – fique bem tá?
    _ Você já disse isso.
    Ela riu e eu fui em direção ao taxista. Entreguei-lhe o endereço do acampamento que seria minha casa por algumas temporadas. Assim que o táxi começou a se mexer, eu olhei para trás e vi que ela estava sorrindo. O que eu não sabia era que veria esse sorriso mais uma ou duas vezes, antes de ela ser sequestrada.
    Eu havia prometido a ela que não deixaria nada iria lhe acontecer, mas falhei. Agora ela estava em algum lugar da Europa, cercada de monstros, talvez machucada e sozinha.
    E agora eu conheci meu pai. Com certeza ele tentou protegê-la. E também me deu mais força. Só tenho o que agradecer a ele.
    Enquanto pensava em várias coisas ao mesmo tempo, senti alguma coisa tocando meu rosto, foi aí que eu percebi que eu estava deitado em uma cama, e alguém chamava meu nome.
    _Thiago? – a voz tava meio longe e alguma coisa continuava a cutucar meu rosto. Isso me irritava.
    _ Esperem um pouco – era a voz de uma mulher – deixa-me procurar aqui... Onde está... Aqui – alguém aproximou alguma coisa do meu nariz e um cheiro forte me fez acordar.
    Me levantei rápido e uma dor nas costas me fez soltar um grunhido.
   _ Calma ai cara, você não tá cem por cento ainda. – pelo o que eu consegui ver, depois que a minha visão normalizou, eu estava deitado em uma cama de hospital, cercado por Ethan, Peter e uma enfermeira que pelo que eu podia ver, ou estava agachada, ou era uma anã – você caiu de costas em cima de mim quando voltamos.
   _ Onde estamos? – dei uma olhada em volta de novo. Eu estava em um quarto. Um daqueles em que os pacientes ficam quando internados. Havia um soro com um líquido meio marrom, algum remédio dos anões, ao meu lado. Havia também uma bandeja de sopa, que já estava bem fria e uma TV ligada em algum canal de noticias. O repórter estava conversado com uma mulher sobre os atuais acontecimentos na moda. – Como chegamos aqui, e quem é você? – eu apontei pra enfermeira - Porque minhas costas doem e você disse que eu caí em cima de você?
    _ Hei! Calminho aí, garotão – a voz da anã era bem mais calma do que eu pensava, com um leve sotaque alemão – você ainda tá meio machucado, seu corpo não se acostumou com as mudanças que seu pai fez em você. Quanto ao meu nome, é Ana, e você esta na cidade de Magdeburgo. Não sei ao certo como vieram parar aqui, a não ser pelo fato de o que parecia que bifrost fora aberta para vocês.
     _ Foi aí que você caiu em cima de mim.
    _ Eu acho que seu corpo ainda não tinha se acostumado com a magia que seu pai lhe passou – ela colocou um termômetro na minha boca – por isso quando voltou estava fraco e machucado.
    _ E vocês? – eu olhei para Peter e Ethan – estão bem?
  _ Ficamos preocupados, você apagou por vários dias e nenhum desses remédios que eles usavam te fazia acordar.
   _ Eu até fiz umas brincadeiras com você. – Ethan parecia achar graça de tudo – fiquei cutucando seu rosto, pra ver se acordava ou alguma coisa assim, mas não adiantava. Então a Ana teve a ideia de usar esse troço aqui – e mostrou o que parecia ser um frasco com algum liquido dentro – então você acordou.
    _ Como viemos parar aqui?
   _ Seu pai trouxe vocês aqui – uma pessoa entrou no quarto, era outro anão, usava um terno preto e um pequeno chapéu na cabeça. No canto da boca, um charuto soltava uma fumaça cinza. Não parecia ser muito velho, tinha uma barba raspada, e uma cara carrancuda – e isso foi uma irresponsabilidade – ele tinha o mesmo tom de voz de Ralgler, sempre de mal humor. – Trazer três crianças para o meio da Alemanha.
   _ Estamos ma Alemanha?
  _ Sim estamos – Peter se aproximou – parece que fizemos um pouco de estragos quando chegamos.
   _ Um pouco de estragos? Bifrost é uma poderosa criança. Assim que ela é ativada, uma onda de energia aparece ao redor dela, por isso só a usamos em lugares longe de qualquer casa. Seu pai a ativou no meio de uma cidade inteira! Ele destruiu o telhado de sete casas, e arrancou quatro arvores do chão! Não foi fácil convencer as pessoas de que foi um simples tornado mesmo com a névoa encobrindo tudo. – ele ficou andando de um lado para o outro. – os custos foram altos e a cada dia a imprensa questiona mais e mais. Ele é um irresponsável.
    Como esse cara chama meu pai de irresponsável?
   _ Vocês três, saiam e fechem a porta. Eu quero coversar com o Thiago. – ele tirou o chapéu e esperou que eles saíssem – Assim é melhor – ele deu uma tragada no charuto e depois se virou para mim – diga-me garoto, você já tinha visto seu pai antes? Responda-me com rapidez e sinceridade e não tente mentir para mim, garoto.
    _ Certo senhor. Mas antes, quem é você?
    _ Eu sou o prefeito da cidade, assim como o chefe do conselho dos anões. Agora se não for atrapalhar de novo, quero fazer as perguntas.
     _ Sim, senhor.
    _ Quais foram as circunstâncias de seu encontro com ele? E... você já o tinha visto antes?
   _ Estávamos fugindo de um acampamento inimigo e sofremos um acidente. – enquanto eu ia falando, ele ia fazendo sinal para que eu continuasse e olhava para o outro lado do quarto - Me lembro de ter visto um turbilhão de cores ao meu redor, Bifrost – ele concordou -, e depois de estar sendo levado a algum lugar. Só quando chegamos e que eu vi que estávamos em Valhalla. Lá eu conversei com meu pai, pela primeira vez na vida.
    _ Ele te deu alguma coisa?
   _ Deu todos os meus poderes de semideus, e também me deu isso – e entreguei o pequeno dispositivo para ele. Ele examinou o dispositivo, olhando com um ar de suspeita, mas depois me devolveu.
    _ Não se esqueça de usar isso em uma ocasião de extrema necessidade.
    _ Sim, senhor.
  _ Quanto aos seus poderes, a magia ficará um pouco escondida, até que seja exercitada. Você será somente um semideus com as forças de um Asgardiano. Depois que voltar da missão você vai começar a treinar ela para ser um mago de verdade.
    _ Sim, senhor
   _ Agora, levante-se dessa cama e vá comer algo. Você já esta aqui há muitos dias. Levante-se e dê uma olhada no mundo lá fora.
Ele se virou para ir embora, quando, no meio do caminho, parou, colocou a mão no bolso e tirou um colar que me era um pouco familiar.
    _ Isso foi encontrado quando nossos investigadores estavam nos rastros do grupo que raptou as pessoas que vocês estão procurando – e me entregou o colar – espero que lembre o porquê de estar aqui. – e saiu do quarto
    Era um colar que minha mãe usava. Ele era na forma de um coração, feito de prata. Em um lado tinha uma foto dela, e do outro, uma foto minha. Éramos bem parecidos. Eu com os olhos pretos, característicos de meu pai, e ela com olhos castanhos, cabelo preto e um sorriso que eu não via fazia um tempo.


    Me levantei da cama e coloquei minhas roupas, ignorando a dor nas minhas costas. Aonde quer que ela estivesse eu não iria ficar parado, esperando ela simplesmente aparecer, eu já tinha ficado muito tempo parado.
Assim que terminei de colocar a roupa, saí do quarto. Chamei Ethan e Peter e fui atrás de um computador.
    _ O que você tá fazendo?
    _ Espere e verá.
   Entrei no Google maps e procurei no bolso o endereço da casa para onde as armas eram levadas. Esse endereço era o que eu havia pegado no acampamento inimigo algum tempo atrás. Digitei o endereço e apareceu tudo, número da casa, rua.
     _ Precisamos ir para lá. – eu disse – mas como?
     _ Táxi? – Peter perguntou,
     _ Tem que ser um jeito mais rápido. Não podemos ir de avião?
     _ Com essa tempestade de neve caindo? Acho que não.
     _ Então teremos que ir de táxi.
   _ Eu vou ligar para um agora mesmo. – dizendo isso, Peter foi atrás de um telefone.
    _ E suas costas cara? – Ethan colocou a mão no meu ombro
    _ Vai melhorar. – soltei um suspiro – sinto saudades da minha mãe.
   _ Eu sei. Lembra que quando minha mãe morreu foi a sua mãe que cuidou de mim depois? Também sinto falta dela.
     _ Faz tempo isso. - soltei outro suspiro.
     _ A gente vai achar sua mãe, não se preocupe.
   _ Pessoal - Peter tinha voltado do telefone – já chamei o táxi, vamos arrumar nossas coisas.
    Voltei para o quarto em que eu estava e juntei minhas coisas. As coisas do Peter e do Ethan estavam em outros quartos.
     Enquanto pegava minhas coisas, Ana voltou, com um embrulho nas mãos.
     _ Então vocês já vão? – ela perguntou.
     _ Precisamos ir, já demoramos muito aqui.
    _ Não vou impedi-los – ela se aproximou e me ajudou a arrumar minhas coisas, deixando o embrulho de lado – mas vou dizer uma coisa, o mundo esta muito diferente, tome cuidado.
    _ Não se preocupe, eu sei me cuidar.
  _ Não duvido disso – ela pegou um embrulho de novo – Tome e leia durante a viagem o máximo que conseguir, depois o deixe dentro do táxi, ele voltará a mim. Agora você não pode ficar com ele, mas depois ele será seu. – e me entregou.
    Era um livro, com capa de couro antigo, muito desgastado. Assim que eu o abri, vi que era composto de várias fórmulas, palavras de vários dialetos diferentes. Um livro de magia.


    _ Você já deve ter visto algum com a mesma aparência, mas nenhum é como esse. Ele tem fórmulas poderosas, que muitos não conseguem usar. Você, já que é um semideus, pode ler os quatro primeiros capítulos, nada mais que isso! Ou a magia vai acabar matando você de cansaço.
    _ Obrigado!
    _ Não precisa agradecer. Agora vá e encontre sua mãe.
   Eu voltei para a entrada do hospital, onde Ethan e Peter já estavam esperando. Enquanto andava, vi que o hospital estava com uma quantidade de pessoas acima do normal. Vários deles estavam meio congelados, ataque típico de gigantes do gelo.
    _ As coisas estão estranhas mesmo – eu sussurrei.
    _ O que? – Ethan perguntou.
    _ Não, nada. Onde está o táxi?
    _ Já está chegando. – ele pegou e se virou para mim – o que é isso? – ele apontou para o livro.
    _ Ah, só um presente. Um livro de magia pra ser mais exato.
   _ Que fera – ele pegou o livro, abriu e fez cara de surpreso - não tem nada aqui - e passou o livro para Ethan, que disse a mesma coisa.
   _ Estranho – peguei o livro de novo e estava tudo lá, desenhos, palavras de varias línguas e outras coisas – eu consigo ver normal.
    _ Ah, vá entender – Ethan se virou para a rua – ele chegou.
O táxi estava chegando. Na direção, havia uma pessoa pequena, mais um anão com certeza. Assim que ele chegou na nossa frente, ele desceu do carro e meu palpite estava certo, era um anão.
    _ Olá senhores. Meu nome e Marlon. Tragam suas malas aqui. – ele foi até o porta malas, abriu e, em alguns instantes, sem a ajuda de ninguém, as guardou – Vamos então? O endereço, por favor. – eu entreguei o endereço a ele – bom, vamos então.
    Entrei no banco de trás, junto com Peter e Ethan, e por sorte, não ficamos apertados. O anão entrou no carro e sentou-se em uma cadeirinha adaptada para ele. Manobrando, nós saímos do hospital, indo em direção a alto-estrada.
    _ Digam-me, senhores – ele ia dirigindo e lançando olhares rápidos pelo retrovisor – seus pais são pessoas conhecidas? – Tirei os olhos do livro, que eu já havia começado a ler, e dei uma olhada para os outros. Com certeza ele sabia quem nós éramos, mas queria confirmar.
     _ Sou filho de Odin e estes são filhos de Tyr e Loki – assim que ouviu isso ele perdeu o controle do carro, mas rapidamente controlou de novo.
     _ Então, estão em alguma missão?
     _ Sim – eu respondi.
    _ E certamente precisam chegar rápido a seu destino. – Ele olhou pelo retrovisor novamente e seus olhos tinham um olhar de cobiça – se me derem um pagamento bom, posso levá-los através de uma passagem mais rápida.
    Eu olhei para o lado e vi que meus amigos estavam esperando uma resposta minha. As únicas coisas que eu tinha era o livro, algumas centenas de euros, o colar da minha mãe e minhas armas. Eu peguei o colar na mão e tirei as fotos da minha mãe e a minha e entreguei a ele o colar vazio junto com os euros.
    _ Ah sim. Isso é o suficiente - e pegou o colar – se segurem.
    Ele atravessou as pistas da rua, de um lado a outro e entrou em uma viela. No final dela, havia um muro, que se aproximava cada vez mais rápido. O taxista pegou o celular e discou um número e começou a conversar com alguém. Enquanto isso o muro se aproximava cada vez mais.
    Ele terminou de falar, guardou o celular e acelerou mais ainda. Nessa hora Peter, Ethan e eu já estávamos gritando... A parede se aproximava mais e mais rápido.
    Então, ela simplesmente sumiu, dando lugar para um túnel, que seguia cada vez mais fundo. Antes que todas as luzes se apagassem, consegui ler uma coisa escrita em uma placa, “cuidado com a cabeça” e então, com os faróis ligados, entramos no túnel, deixando a luz lá atrás, no buraco que apareceu na parede.