segunda-feira, 20 de agosto de 2012








Φ Cap XVII: Finalmente Roma - Gabriel Φ





       Assim que amanheceu, todos já estávamos de pé e prontos para partir. Eu, Rachel e Arthur, montamos nossos pégasos. Ethan, Peter e Thiago, em Nidhogg, o dragão de estimação deles. Tanto o dragão quanto os pégasos eram igualmente rápidos, logo, chegamos rapidamente à Roma.
        — Estão preparados? — Perguntei, embora eu mesmo não estivesse.
       — Se estar pronto para lutar, mas não ter a certeza que vai sobreviver, é estar preparado, então, eu estou. — Disse Ethan.
     Pousamos bem no meio da arena do Coliseu, onde já haviam alguns esqueletos saindo do chão. Sacamos as armas. Sete adolescentes parados em formação de círculo, no meio do Coliseu, não é uma coisa que se impressione, ainda mais quando o adversário é um exército de monstros. Mas estávamos lá, e íamos lutar até o fim para salvar o mundo.
       Os esqueletos não eram tão fortes e bons quantos os primeiros que eu enfrentara alguns dias atrás. Apenas alguns se reerguiam e não mais de uma vez. O que me levava a pensar que o semi-deus estava ficando fraco, que invocar todo aquele exército, estava o cansando. Talvez fosse a nossa chance de vencê-lo.
      Depois de algum tempo, os esqueletos, que apareciam e logo viravam pó, pararam de vir. Mas outras criaturas foram aparecendo. Eram cães infernais, telquines, gigantes e outras criaturas que provavelmente eram nórdicos, pois eu não conhecia.
      A arena se encheu, tínhamos de sair dali, mas todas as entradas já estavam bloqueadas, por monstros nada simpáticos e o caminho até ela também. Nesse momento, eu lembrei de um pedaço da profecia: apenas no dia final, todos os heróis se reunirão. Então, aquele havia de ser o último dia? Mas, e o sonho que eu tivera com Rachel, no qual nós éramos velhos? Mas eu acho que deveria confiar mais na profecia, do que em um sonho. Ou não? Minha cabeça estava confusa. Eu só sabia de uma coisa: se dependesse de mim, aquele NÃO seria o último dia.
       Depois disso, só lembro de ter acordado com a pior dor de cabeça da minha vida. Minha visão estava embaçada, meus amigos em volta de mim. O lugar em que estávamos era escuro, apenas uma ou duas lâmpadas iluminavam o local. Parecia bem antigo, tinha teias em todo o lugar, e onde quer que encostasse havia poeira, muita poeira. 
       De repente, uma onda de imagens começou a vir em minha mente: o coliseu, vários monstros vindo pra cima de mim... e uma que me assustou muito. E foi a que não saiu de minha mente. Era a imagem do chão se abrindo e o semideus filho de Hades surgindo do buraco. Ele gargalhava, mas, ao mesmo tempo, seu olhar mostrava seriedade e ódio.



         — Olá hã, Gabriel, certo? Bom isso não vai importar já que você vai ser só mais um que vai morrer. Prazer meu nome é Joe, mas acho que você já sabe disso. Você pode derrotar todo esse exército, pode até me matar, mas o Kraken vai destruir tudo e todos e aqueles deuses finalmente vão cair. Você não tem chance, você... — ele perdeu o equilíbrio, se ajoelhou e tossiu.
       Lembro de correr para cima dele e, quando estava bem perto, um gigante me acertou com seu porrete do tamanho de uma porta. BAM! Bem na minha cabeça. EU voei e, assim que caí, eu perdi a consciência vendo meus amigos me pegarem e correrem.
     Acordei de novo, estava dentro de alguma construção. Ouvi alguns barulhos do lado de fora. Tentei levantar, mas o máximo que consegui foi ficar sentado, escorado na parede. Thiago viu e veio até mim.
        — Ei, cara, está tudo bem?
        — Vou ficar melhor. Mas, onde estamos?
       — Em uma casa abandonada que encontramos. Tivemos que correr muito, você levou uma pancada feia.
       — É — disse eu colocando a mão na cabeça. — E... E esses barulhos do lado de fora?
        — São dragões, eles estão nos procurando.
     Me levantei cambaleando, mas já estava bom, bom o suficiente para correr. Os outros cinco estavam sentados à mesa, conversando.
      — … Kraken — dizia Rachel a Arthur — O único jeito de derrotá-lo é com a cabeça da Medusa! Se não a tivermos, não teremos chance! O Kraken sozinho, matou um punhado de titãs... acabar com nós seria mais do que fácil!
        — Nós vamos — disse Thiago aproximando-se da mesa.
        — Aonde? — Perguntei.
       — Atrás da Medusa oras, não é da cabeça dela que precisam? Deixe com a gente. Apenas sobreviva enquanto não voltamos, ok? - Fiz uma careta.
        — Tem certeza? — perguntou Rachel preocupada, o que, eu admito, me deixou com ciúmes. — Afinal, só de olhar para ela você vira pedra e, como se isso não bastasse, ela vive no sub-mundo! Como vocês vão chegar lá?
        Ethan deu uma risada.
      — Fácil — disse ele. — Nidhogg já esteve por lá e, com certeza sabe o caminho. Então, estamos combinados assim?
        Rachel deu de ombros.
        — Se vocês insistem...
      Thiago assoviou e Nidhogg apareceu arrancando o teto. Ele parecia um cachorro quando vai passear. Abanava seu “rabinho” fazendo um certo vento. Então ele abaixou a cabeça e Ethan, Peter e Thiago subiram nele.
      — Rachel — disse Thiago. — Tente não sentir muita falta de mim. — e deu uma risada enquanto Nidhogg ganhava altura e três dragões para o perseguir.
        Trinquei os dentes. Nidhogg sumiu nas nuvens.
       — Você fica lindo com ciúmes — disse Rachel dando uma pequena risada.
         Dei de ombros.
        — Você pareceu não importar muito com ele dando em cima de você não é?
        — Ah, não seja bobo, afinal, sou uma garota bonita, tenho que aguentar isso, e, mais uma coisa: eu gosto é de você seu bobinho.
      Então ela me deu um beijo na ponta do nariz. Eu ainda não estava totalmente calmo. Mas, naquele momento, eu teria que esquecer aquilo, pois um esqueleto montando um dragão nos viu e partia para cima de nós. Uma grande onda de fogo, veio e queimou grande parte do cômodo onde estávamos, mas nós já estávamos do lado de fora, correndo meio sem direção, apenas fugindo.
       Ter um lagarto gigante que voa e um esqueleto “vivo” atrás de você não é la a melhor coisa do mundo, mas pior ainda, é quando na sua frente, vários pedaços de metal começam a se juntar e formam um gigante de bronze: Um colosso. Ele era da altura de um eucalipto, usava uma espada do meu tamanho, estava todo vestido com roupas de guerra e estava pronto para nos matar.

      Ele investiu contra mim. Eu esquivei e ataquei seu braço, minha espada acertou-o, mas apenas fez algumas faíscas. O colosso era bem lento. Mas era muito forte. Em um dos golpes que ele desferiu, sua espada acertou uma árvore e a cortou.
      Rachel, arremessou suas foices, e a corrente entre elas, se enrolaram nas pernas do colosso e ele caiu. BAM! Um barulho muito alto, e um leve tremor. A calçada havia sido destruída. Arthur correu, pulou e cravou sua espada nas costas do monstro. De lá saiu um líquido preto, acho que era óleo.
     Eu parti para cima, para terminar logo com isso, mas uma visão me fez cair para trás. Por um segundo, talvez menos, o mundo se transformou. Embora tenha sido em um intervalo pequeno, eu consegui ver todos os detalhes. O lugar que eu vira, era assustador. Haviam várias construções em ruínas, tudo estava em chamas. Eu ouvia o barulho de uma guerra, mas não via nada. Nas nuvens, quando relampeava, podia-se ver a sombra de criaturas lutando. Não só criaturas, humanos também. Seria uma visão do futuro? Teria a ver com a profecia?



       De repente, me vi deitado e o colosso prestes a me golpear. Rolei e consegui desviar do golpe. Rachel me olhava com os olhos arregalados que diziam: por que de repente você cai assim e fica deitado, só esperando para ser golpeado? Você quer morrer?
      Dei de ombros e fiz um sinal dizendo que depois contaria tudo a ela. Levantei-me pois o colosso já estava atacando de novo. Desviei e cravei a minha espada em seu braço. Ele o ergueu e eu quase fui lançado para longe. Mas consegui me segurar. Quando o braço estava bem alto, chacoalhando, eu me soltei, e enquanto descia, golpeei sua testa, a lâmina da espada ficou inteira para dentro do rosto do colosso, e enquanto eu descia ela descia também, abrindo o rosto do monstro. Eu caí. Quando olhei de novo, uma estátua com a cabeça dividida ao meio vinha para cima de mim. Mas já estava mais lenta. Vários golpes se sucederam, até que ela ajoelhou-se, e eu fiz uma bola de gelo e terminei de amassar toda a sua cabeça.
      Nos escondemos de novo, dessa vez, em um restaurante fechado. Lembrei que estava com fome. Fui até a cozinha e fiz alguns pratos. Torci para que os monstros não sentissem o cheiro, e não viessem atrás de nós. Enquanto comíamos, eu contei sobre minha visão à Arthur e Rachel, ninguém soube explicar aquilo, o que me deixou preocupado.
       Assim que pensei no filho de Hades de novo, eu quase tive um ataque. Eu já o vira antes, ele era o antigo diretor da minha escola: Joe. Ele estava um pouco diferente, mas eu tinha certeza que era ele. O que ele fora fazer em minha casa? Seria por isso que ele tentara me matar na escola?
       Senti- me tonto e mais confuso do que já estava. Resolvi deixar essas coisas de lado e fui para perto de Rachel, que estava sentada num canto sozinha, com vários parafusos, porcas e alguns pedaços de metal. Rapidamente, ela fez um pequeno coração que veio voando até mim, e se abriu, mostrando uma foto nossa, que, a propósito, eu não fazia ideia de quando havia sido tirada.
        — Hã, Rachel — chamei eu.
        — Sim? — disse ela docemente, mas com um olhar um pouco triste.
        — Você me desculpa?
        — Pelo que?
      — Ah, você sabe, por aquele ataque de ciúmes a pouco, me desculpe, é que eu gosto muito de você, e não quero, por hipótese nenhuma, te perder.
        — Ah não sei Gabriel.
       Seu olhar ainda estava triste, como se estivesse sofrendo por causa do fato.
        — Por favor! Não vai se repetir, eu juro!
     — Não é por isso, é que, bem, eu... eu não gosto mais de você. Me desculpe.
      Uma lágrima escorreu em seu rosto. Eu levei um choque, aquilo doeu muito mais que da vez em que aquela dracaenae me golpeou.
       — Então, aquele cara te conquistou, em um dia? E o coração que você acabou de fazer para mim?
       — Não Gabriel, ninguém me conquistou, e o coração, é para você nunca se esquecer de mim! Bom, tenho certeza que não vai mesmo, mas talvez não sejam lembranças boas.
     Dois deles traidores. Essas palavras da profecia ressoaram em minha mente. Seria Rachel a traidora? Não, não era possível.
       — Você … — quando eu ia completar, eu vi algo em seus olhos, que me deram uma certeza: ela estava mentindo. — Você não está falando a verdade! Você ainda gosta de mim!
        — Não, Gabriel — disse ela, mas dessa vez não tão convincente. — Eu não gosto mais de você, acabou.
         — Então diga isso olhando para os meus olhos.
      Ela se virou e seus olhos azuis olharam para os meus profundamente. Quase me perdi naqueles belos olhos. 
        Ela começou a falar:
        — Eu... — ela dizia sem virar o olhar. — Eu...
       Então eu a beijei. Ela não recusou, e logo depois ela me deu um longo abraço.
        — Me desculpe! Eu, eu não queria mentir! É só que era preciso...
        — Mas por que?
      — Por que, eu vou morrer. É o trato. E eu queria que você ficasse com lembranças ruins de mim, para não sentir saudade, não ficar triste. Queria que fossem as lembranças de eu terminando com você, sem motivo, falando que eu não gostava mais de você.
        — Morrer? Trato? Que trato?
       — Foi o trato com Hades... Quando me encontrei com ele, ele me disse que uma grande batalha estava por vir, e que um de suas criações, o Kraken, iria atacar, e nós perderíamos. Então, eu fiz um trato, minha vida pela do Kraken e a salvação de vocês.
        Fiquei pasmado.
        — Então, o único jeito de você não morrer é matar Hades?
      — Sim. Ou seja, não há jeito. Assim que o Kraken surgir, Hades o mandará de volta para o Tártaro.
        — Então, eu vou ter que fazer isso.
        — Isso o que?
        — Matar Hades.
        — O QUE? Mas, por que? E não há como!
      — Por que eu não vou te perder! Eu entraria numa guerra... Eu contra titãs, deuses e monstros, todos juntos, só para não te perder. Então, desafiar só Hades vai ser moleza. E, eu descubro um jeito, não importa como, eu vou te salvar.
       Ela abriu um sorriso. Ela estava linda, como nunca eu a vira antes. Mesmo com toda a fuligem, ferimentos e tudo mais, seus olhos azuis brilhavam, intensos, um azul estonteante, e seu sorriso... Bem, eu já estava perdido só em seu olhar, quando vi seu sorriso, aí que eu esqueci mesmo quem era, aonde estava e tudo mais.
        — Obrigada! Não sei como agradecer essas palavras!
       — Com três coisas. Primeira: Você vai lutar até o fim, não vai desistir, nunca! Segunda: não vai sair por aí, trocando sua vida pela vida de monstros ridículos como esse. E terceira: vai me dar mais um beijo daqueles que só você sabe. Combinado?
        — Combinado — disse ela sorrindo e logo depois me dando um beijo.
       Foi quando eu ouvi o grito do que parecia um exército de meninos que estavam trocando a voz, e umas vozes femininas que pareciam de fãs estéricas de alguma banda ou jogador. Em seguida um grito um pouco mais assustador, mais seco, como se não tivesse vida. O restaurante onde estávamos, era bem na borda da cidade. Alguns metros à frente, já era apenas um campo. Um extenso campo com uma rodovia perfeita atravessando-o.
       Assim que saímos vimos uma cena um tanto quanto incomum. À nossa frente, havia um exército realmente. Não deu para contar, mas posso jurar que havia pelo menos um milhar de adolescentes e adultos. Todos vestidos para a guerra, em formação, parecendo apenas a espera de uma ordem. E, do outro lado do campo, em uma montanha no horizonte, um exército, no mínimo, dez vezes maior e mais assustador, todos monstros ao que me parecia. Então, eu, Laio, Arthur e Rachel nos juntamos a esse exército. Agora eram mil e quatro contra dez mil. Fácil.
        Fomos passando e, mais a frente estava Alfeu. Ele logo nos reconheceu e veio até nós.
       — Todos os campistas do mundo — foi dizendo ele apontando para o nosso exército.
        — Contra todos os monstros existentes — disse eu apontando para os dez mil monstros. Ok, vamos lá.
       Saquei minhas armas, como se fossem um espelho, o exército todo sacou também.
       Olhei para Alfeu e ele sorriu dizendo:
       — Você é o líder.
      Eu ia protestar, mas vi o exército inimigo gritando e começando a correr até nós, tínhamos no máximo cinco minutos.
      — Vamos lá! — gritei. — Eu sei que muitos de vocês não gostam de deuses, não pediram para estar aqui, mas creio que vocês gostam de suas famílias, morar nesse planeta, e, principalmente viver! Porque, se esse cara conseguir o que quer, vai ser o fim de tudo isso! Então, lutem acabem com cada um desses monstros!



        Um grito de aprovação de todos.
        — Preparar! Atacar!
     Os arqueiros, esticaram o fio de seus arcos e muitas flechas zuniram no ar enquanto corríamos para cima do inimigo. Foram muitos “puf”, e vários monstros viraram pó.
        Vi Rachel do meu lado, olhei para ela, e fiz um sinal de positivo com a cabeça, ela sorriu e eu lembrei que tinha uma promessa a cumprir, então, não poderia morrer ali, nem eu, nem ela.
      Na linha de frente dos monstros, estavam esqueletos com escudos e lanças, para evitar ferimentos e mortes desnecessários, eu criei uma onda, que desequilibrou e desarmou alguns deles, criou uma brecha grande o suficiente para entrarmos.
     Aquilo foi uma das melhores coisas que eu já fiz. Fui golpeando, esquivando, defendendo. A cada golpe, um monstro virava pó. Juntavam vários em mim, mas eles não eram páreo. E eu estava totalmente consciente de meus movimentos dessa vez, tudo mesmo, esquives, ataques, defesas. Nem sequer ameaçava um companheiro, e, com meu reflexo aguçado, até defendia alguns.
       A tarde ia caindo, e a batalha continuava. De dentro de algumas barracas que haviam atrás de nós, começaram a sair umas engenhocas. Filhos de Hefesto — pensei.
       Haviam algumas bem legais, algumas não, as únicas coisas que eu achei estranho, foram um porco gigante de bronze que voava, e um tubarão com patas, mas de resto, haviam coisas incríveis. Catapultas que tinham vários recipientes que ficavam girando, o que fazia um disparo contínuo, um lança-chamas de fogo grego, uma balista com flechas tele-guiadas e outas coisas igualmente ou mais interessantes
        Meus parceiros ao meu lado, sempre mudavam, menos uma : Rachel. Ela estava sempre lá a meu lado, golpeando graciosamente, nos ajudávamos, dávamos as costas, defendíamos um ao outro. Tudo numa perfeita sincronia. Como se um soubesse o que o outro ia fazer.
       Em algum momento depois que a noite caiu, Laio se juntou à mim. Ele ia golpeando perfeitamente, ele sem dúvida era um dos melhores guerreiros de todo o exército. Até que ele fez uma coisa que me surpreendeu: Ele deu as costas para o exército inimigo, olhou em meus olhos, sorriu malignamente, e me golpeou.
        Defendi, e olhei para ele com cara de surpresa.
        — Tra...Traidor — gaguejei eu. — Você, você é ele. Mas por que?
       — Simples — disse ele rindo. — Por que eu ficaria do lado que vai perder? Eu não sou idiota, sei escolher o lado vencedor.
       Então ele investiu de novo. Defendi, os exércitos formaram um pequeno círculo em volta de nós para assistir a batalha.
        — Você não quer se juntar a nós? Ainda tem chance... — disse ele apontando a ponta da espada para mim.
        — Nem em mil anos — falei entre dentes.
      Foi aí que a nossa luta começou. A cada golpe mais forte, que chegava mais perto de acertar, o exército correspondente gritava em apoio. Eu golpeei-o na altura do peito. Ele aparou com a espada, eu a girei e fiz um movimento de desarme. Lancei sua espada para o alto. Ele ergueu o escudo, e ela foi atraída para ele. Assim que encostou, os dois começaram a se fundir, transformando-se naquele escudo que dera um tiro que quase matara a dracaenae. E agora estava mirando em mim.
       Aquilo lançou uma bola de energia que, ao tentar defender, me lançou para longe. Caí de costas no chão. Foi como se eu tivesse que segurar o mundo sendo arremessado em mim.
       O exército gritou, enquanto eu me levantava. Eles batiam as espadas e lanças nos escudos. Ele disparou de novo. Dessa vez, eu rolei e desviei. Quando o disparo tocou o chão, se expandiu, transformando-se numa grande esfera que fez uma cratera no chão.
        Laio riu.
        — Você não tem chance pirralho.
        — É o que vamos ver.
      Ele deu mais um disparo. Pus o escudo na minha frente. Prendi bem meus pés no chão e aquilo o acertou. Dessa vez, não fui lançado, ou seja, o bola se expandiu no meu escudo, e eu teria de segurar tudo aquilo. Fui sendo arrastado para trás. Mas eu resistia. Criei forças e dei um passo a frente. Mais um, e o bola de energia continuava a destruir meu escudo. Fui avançando e o disparo perdendo força, até que consegui jogá-lo para o lado.
      Corri para cima dele. Um erro. Ele disparou e aquilo foi bem na minha barriga. Fiz toda a força do mundo, e não fui arremessado de volta ao coliseu. Aquilo doía como nada havia doído até hoje. Isso enquanto não havia expandido. Quando isso aconteceu, senti-me queimando inteiro. Mas mesmo assim, dei um passo à frente. 
      Vi seu rosto através da grande bola de energia azul. Ele estava surpreso, e já preparava outro disparo. Consegui me desvencilhar, minha armadura estava destruída, e eu, todo queimado, aquilo ardia, mas eu nem liguei para isso naquela hora.
     — É assim que você vai matar Hades? — gritou ele. — Assim que vai salvar aquela garota irritante? Duvido. Assim que eu te matar, eu vou matá-la, só para ela não sentir muito a sua falta.
      Senti a raiva me dominando. Ele disparou de novo. Ergui um muro de água que parou o tiro. Corri para cima dele. Mais um tiro. Com minha espada mesmo, fiz um movimento que rebateu o tiro para à minha direita. Estava bem próximo dele. Ataquei, ele defendeu com seu escudo-canhão e rapidamente o transformou em espada e escudo de novo. Recomeçamos a batalha. Quando percebi, meu escudo já estava inteiro de novo. Talvez uma de suas habilidades, além de sempre aparecer nas minhas costas, mesmo quando eu o perdia.
        Ataquei, Laio aparou e contra-atacou, eu desviei rolando para trás. Ele fez seu canhão de novo. E atirou. Aquilo me pegou em cheio. Eu fui arremessado para uns dez metros de distância, caindo em cima de alguns meninos que assistiam a luta.
        Tentei me levantar, mas não consegui. Aquilo realmente havia acabado comigo. Fiquei com a cara na grama, com dificuldade até para respirar. Foi quando lembrei da promessa que eu havia feito à Rachel. Eu nunca quebrara uma promessa, e essa não seria a primeira vez.
        Vamos filho — disse a voz de meu pai em minha mente — esse não é seu verdadeiro poder. Seu poder não está na raiva, e sim, na felicidade, na paz, tente buscar isso, e você experimentará um poder que nunca viu.
       Naquele momento, como eu já estava pensando em Rachel, eu já havia me acalmado um pouco. Pensei na minha mãe, nos meus amigos, e eu todo o mundo, que precisava que eu o ajudasse, pois eles nem sabiam o que estava acontecendo. Fui me levantando, minhas queimaduras não existiam mais, e davam lugar a uma pele perfeita.
        Quando fiquei de pé, todo mundo me olhou surpreso e os campistas gritaram em apoio. Realmente eu sentia algo diferente, não estava com raiva de Laio, estava apenas querendo salvar o mundo, manter as pessoas bem. Eu estava em paz.
         Parti para cima de Laio novamente. Ele estava surpreso por eu estar vivo, mas já estava pronto para atirar novamente. E o fez. Eu desviei com tanta facilidade, como se o tiro viesse em câmera lenta em minha direção. Apenas fiz um movimento com o lado direito do corpo, e a bola de energia passou por mim, explodindo um pedaço de terra atrás de mim.
       Continuei correndo, ele estava a poucos metros de mim. Mais um disparo, eu o rebati com a espada e pulei para cima de Laio. Ele se defendeu com o escudo, e rolou para longe de mim. Transformou seu escudo em uma lança, e investiu de novo. Eu defendi com meu escudo, e contra-ataquei. Mas ele estava fora do alcance de minha espada. Tentei avançar, mas ele me impedia com a lança, não importando da maneira que eu fosse.
      Então, eu tive uma ideia. Desprendi o escudo de meu braço, e arremessei-o em Laio. Para ele aparar, ele teve que virar sua lança na horizontal, removendo o raio de defesa que ele havia estabelecido. Corri para cima dele de novo. Quando ele viu, transformou sua lança em uma espada e um escudo. Ataquei com tamanha força, que ele desequilibrou e não conseguiu contra-atacar. Eu continuei golpeando, e ele defendendo, mas cada vez em situação pior. Chutei seu escudo e ele foi parar longe. O meu já estava novamente e minhas costas. Mais uma vez, ele fez alguma coisa e a espada atraiu o escudo, e, quando eles se encostaram, se transformaram numa espada de duas mãos, toda de bronze, mas muito reluzente.
        Os golpes dele estavam mais forte por causa da espada, mas eu conseguia defender bem. Em um contra-ataque meu, eu o consegui ferir na perna. Ele ajoelhou. Fui para cima de novo. O dragão entalhado e minha espada brilhava. Eu ia atacando sem parar, usava a água agora, só com a mente, não precisava fazer gestos como antes. Ele mal conseguia se defender.
         Foi então que eu ataquei e lancei sua espada para longe. Dessa vez, ele não a atraiu, e eu pus a espada em seu pescoço. Ele se levantou, e segurou a lâmina rente à sua barriga, na altura do umbigo. Deu um suspiro e cravou a lâmina em seu próprio corpo. Eu tirei rapidamente, pela primeira vez, minha espada continha sangue.
        Ele caiu sorrindo.
        — Vo...Vo...Você — gaguejou ele, com a mão no ferimento. — Você está apenas cumprindo a profecia... ago...agora você está pronto, vai lá, salve a sua garota, e mude para o nosso lado o quanto antes... Você matou um de nós, ainda tem milhares... e... e o Kraken. Você tem a chave para derrotá-lo. — Então ele suspirou a última vez e morreu em meus braços.
       Os exércitos ficaram em silêncio por um instante antes de voltar à guerra.
       Eu estava indo para a batalha novamente quando vi uma coisa no topo da colina: a dracaenae.


sexta-feira, 10 de agosto de 2012






Cap XVI: E... finalmente, Gabriel. (Tiago)





     Viajamos por horas nas carruagens, mas não conversamos muito. Pelo que percebi, elas estavam ali para nos levar aonde quiséssemos, sendo que as ordens de nos ajudar vieram do próprio Odin. Disse que estávamos indo ao monte Elbrus, e ela concordou em nos levar.
    Descobri também que seus nomes eram Fernam, Gina e Brunie, e que eram descendentes das antigas valquírias, Freya, Gunnr e Brunhilde. Percebi também que não falavam dinamarquês tão bem, então nos falávamos somente pelo inglês.
    Após muita conversa, e depois de horas de viagem, Fernam me chamou novamente.
     _ Estamos chegando – ela disse quando começou a fazer uma descida lenta – aqui está o Monte Elbrus.
      À nossa frente, uma das maiores montanhas que eu já vi, apareceu. Tinha o topo rodeado de neve e nuvens. Em algumas partes era tão íngreme que ninguém poderia escalar. Era rodeada por uma floresta de pinheiros, e um sistema de teleféricos levava os visitantes até a metade da montanha.
      Era uma paisagem bela e agradável, mas as nuvens que circundavam a montanha não combinavam com a beleza do lugar, dando um ar de perigo a ela.
       _ Vamos pousar ali – ela apontou para uma clareira abaixo de nós – não podemos passar dali, por conta do vento e de uma antiga magia grega, que nos impede de chegar voando lá.
        _ Certo – respondi.
    Ela fez um sinal para as outras meninas que estavam nas outras carruagens e assim começaram uma manobra para aterrissarem. Senti um frio na barriga quando a carruagem ficou de ponta cabeça, descendo em direção ao chão a uma velocidade incrível, mas logo a manobra foi desfeita, e estávamos no chão, são e salvos.
     _ Montaremos um acampamento rápido para vocês aqui – uma das meninas disse ao se aproximar – Muito prazer, Gina, descendente de Gunnr.
         _ E eu sou Brunie, descendente de Brunhilde – disse a outra.
      _ Prazer, Thiago, filho de Odim – respondi. – obrigado por terem atendido ao chamado, se não estaríamos mortos.
        _ Foram só ordens de Odim – Gina respondeu – o de sempre.
       _ Acho que vocês estão bem cansados, portanto vamos todos descansar cedo – Fernam disse – Já esta anoitecendo, e pode ficar muito frio.
      Seguindo o conselho dela, fomos comer um pouco, depois fomos dormir. As meninas ficaram em uma barraca separada, é claro. Mas quando acordei à noite, percebi que algo estava errado. Peter não estava na barraca, então decidi procurar por ele. Sai da barraca e procurei ao redor. Em pouco tempo vi ele nos limites da clareira, fitando a escuridão, totalmente parado. Não sabia o que ele estava fazendo, mas decidi não incomodar, então entrei novamente na barraca e voltei a dormir. Teríamos um dia muito importante pela frente, quando amanhecesse e eu precisava descansar.
      No dia seguinte, acordamos e fomos nos arrumar. Tomamos um banho rápido em um pequeno córrego, perto do acampamento e trocamos de roupas. Vesti um casaco de couro aberto, por baixo uma camiseta com a palavra “Viva o Rock” em dinamarquês, uma calça jeans e um coturno militar preto. Peter usava um moletom preto um pouco mais grosso, calça jeans preta e até um tênis Adidas que as garotas haviam deixado para ele. Ethan estava vestido com um casaco de lã vermelho, um pouco diferente do figurino que ele usa normalmente, uma calça estilo exército preta e um tênis rebook.
     Voltamos ao acampamento, onde as valquírias estavam nos esperando, com um pequeno café da manhã pronto. Enquanto comíamos, Fernam se aproximou, para conversar.
      _ Thiago - Fernam me chamou - somos proibidas de subir esse monte, por isso só iremos até aqui com vocês. Estaremos a espera para levar quem for preciso, para onde você quiser.
     _ Sim, eu entendo – respondi. – obrigado por tudo.
    Depois de tomar o café da manhã, nos despedimos das garotas e partimos. Fomos em direção ao sopé da montanha, deixando o acampamento improvisado para trás.
    Assim, começamos uma caminhada em direção aos teleféricos para nos levar o mais alto o possível na montanha. Mas quando chegamos lá, não tinha ninguém, o local estava abandonado e assustador.
     Mesmo assim, fizemos eles funcionarem e subimos o máximo possível. Em uma parte da montanha, a neve impedia a passagem do teleférico, então tivemos que abandoná-lo.
     Começamos a subir a montanha a pé. Enquanto subíamos, as marcas de que alguma coisa não estava certa iam ficando cada vez mais evidentes. Aquele era um local visitado por pessoas de todo mundo, mas agora estava totalmente vazio.
     Caminhamos o quanto nos foi possível, mas uma tempestade começou a se formar e a nos castigar. Em poucos segundo nos vimos no meio de um inferno branco, de neve e vento. Andávamos com muita dificuldade e avançamos pouco no início. Achamos um lugar para esperar a tempestade passar e ficamos lá por algumas horas.
     Assim que a tempestade passou, pude ver que estávamos a uma altitude bem elevada. À nossa frente, em um terreno não tão íngreme, uma trilha se abria em direção ao que parecia ser uma construção no meio da neve. Assim que vi aquilo, mostrei aos outros e corri para lá, com a esperança de encontrar minha mãe.
    Mas as esperanças foram substituídas por um terror imenso. Assim que alcançamos o local, vimos que ele estava todo destruído, com as cabanas todas queimadas e estraçalhadas. Com certeza era um acampamento inimigo. 
    Enquanto andava à procura de uma pista do que ocorrera ali, ouvi um rugido estrondoso. Olhei em direção ao barulho. Foi então que vi fogo saindo de uma caverna, a algumas centenas de metros acima de nós, no pico oeste da montanha. Se tinha algum lugar onde eu pudesse descobrir o que estava acontecendo, era ali.
     Nos preparamos para a luta e fomos em direção à caverna. Era um local tenebroso, com alguns lugares da parede pegando fogo, assim como alguns lugares do chão, havia também alguns esqueletos chamuscados no chão.
     Entramos na caverna e fomos surpreendidos quando um monstro gigante surgiu na nossa frente, na escuridão. Não tive tempo para reagir. Uma só patada do monstro e acabei voando longe. Mas não me machuquei muito.
      Peter começou a atirar, mas o monstro o atacou também, fazendo-o voar longe. Ethan estava agora sozinho para lutar contra um monstro, contra um... Acredite se você quiser, mas assim que o monstro viu que Ethan estava sozinho, ele saiu das sombras, revelando-se um dragão, isso mesmo, um dragão.
     O dragão soltou uma coluna de fogo. Ethan foi totalmente engolido pelo fogo, eu somente observava enquanto tentava me levantar.
     Um grito, vindo de dentro das chamas, deixou meu cabelo em pé. Não era um grito de dor, nem de agonia, ou de medo. Era um grito de raiva. Assim que o fogo diminuiu, vi Ethan completamente intacto.
      Mas o que? Perguntei-me. Tentava buscar uma resposta, mas outra voz, a de meu pai, foi quem respondeu.
      _ O poder do pai dele finalmente despertou nele. Loki, é o deus do fogo e parece que Ethan nasceu com uma resistência anormal ao fogo graças a isso.
    Não pude deixar de sorrir. Isso era incrível, aquele fogo deveria ter derretido até mesmo titânio e lá estava Ethan, intacto.
     _ Thiago – Ethan chamou – eu cuido dessa lagartixa, fique para trás. – o modo como ele falou não deixou dúvidas de que ele seria capaz.
     _ Certo. – me virei e fui em direção ao Peter, que parecia meio tonto ao tentar se levantar.
      Afastei o Peter do local da batalha, e fui me embrenhando um pouco mais na caverna. Ele parecia meio mal, acho que tinha batido a cabeça em uma pedra, ou algo assim, então deixei ele no chão um pouco. Ele começou a murmurar algumas coisas estranhas, como sim senhor, ou vou fazer isso senhor e outras coisas sem nexo.
     Olhei em volta, para ver onde estávamos. À minha volta havia algumas colunas das arquiteturas gregas, o que me chamou muito atenção. Continuei caminhando e pude ver que estava indo em direção a algumas celas.
     Enquanto caminhava, vi vários esqueletos no chão, de antigas pessoas que acabaram presas ali até a morte. Mas quando me aproximei das últimas celas, tive uma visão que me amedrontou mais ainda. Um pequeno amontoado de panos, na parte escura da cela, me chamou a atenção. Enquanto olhava, tive a impressão de que ela havia se mexido.
      Me aproximei mais ainda, com o coração já na boca e vi que o amontoado de roupas era uma mulher. Ela virou a cabeça lentamente, e vi um rosto muito familiar a me observar.
      _ Mãe – soltei minhas armas e coloquei minha mão entre as barras da cela, em direção a minha mãe. Assim que ela me viu, se levantou e veio pegar a minha mão.
      Estava magra, mas ainda tinha seu sorriso intacto. Seus cabelos estavam pretos, com algumas áreas em branco, e sua pele estava manchada de sujeira.
     Pedi para que se afastasse e arrebentei a porta da cela. Assim que ficou livre, ela pulou para me abraçar, chorando de alegria. Enquanto eu estava abraçado com ela, ouvi um ruído atrás de mim. Me virei rapidamente e lá estava a imagem de uma pessoa, envolta em sombras.
     _ Thiago – a sombra tinha uma voz pesada, estranha de se ouvir – Eu estive te observando Thiago. – e soltou uma gargalhada rouca. – Eu vim aqui, para ordenar que se renda, antes que todos aqueles que conhece e ama sejam mortos.
     Senti uma fúria descomunal crescer dentro de mim. Protegi minha mãe com o braço, e, colocando o máximo de raiva na voz, respondi a ele.
     _ Você – e apontei para ele – não vai se safar, cria de Hades! Eu vou acabar com você! Não vou parar até ter destruído todo seu exército. Me espere, eu vou atrás de você – e ataquei a sombra, que se desfez ao toque da minha espada.
      A raiva começou a diminuir gradualmente e voltei a pensar normalmente. Senti a mão de minha mãe em meu ombro o que me encheu de coragem novamente. Foi aí que ouvi um rugido e me lembrei do Ethan lutando contra o dragão.
      Corri em direção ao Peter, que parecia estar se recuperando. O ajudei a se levantar. Com minha mãe atrás de nós, corri para a câmara onde a batalha com o dragão havia começado.
      Quando cheguei lá, vi que Ethan estava montado nas costas do dragão, sem nenhuma preocupação com o risco.
      Assim que entramos na sala, o dragão virou a grande cabeça em nossa direção, rosnando um pouco. Pensei que ele iria cuspir fogo, mas Ethan fez um sinal e o dragão ficou quieto.
       _ O que você fez? – eu perguntei.
       _ Ah, não foi nada – Ethan respondeu – eu havia lido em um livro, que se você mordesse a orelha de um dragão, ele virava seu, então foi isso que eu fiz.
     _ Você... Mordeu a orelha de um dragão – Peter parecia tão incrédulo quanto eu – como você pode ter pensado... Como... Isso é ridículo.
     _ Ridículo sim, mas eu ganhei um dragão. E aliás quem é essa ai? – perguntou apontando para minha mãe.
       _ Sou eu, a Célia – minha mãe deu um passo para frente, ficando visível para ele – como vai Ethan?
      Assim que Ethan viu que se tratava da minha mãe, desceu apressado do dragão, veio abraça-la. Estava tão feliz de vê-la quanto eu. Ela era como uma mãe para ele.
     _ Devemos voltar para o acampamento – Peter disse – Lá nós conversamos mais.
     Todos concordaram e Ethan deu a ideia assustadora de voarmos no dragão, mas ninguém estava afim disso.
    Quando estávamos prestes a sair da caverna, a sombra do semideus inimigo apareceu novamente à nossa frente, só que agora seu rosto se formou, nos fitando com uma raiva extrema.
    _ Vocês vão se arrepender do que estão fazendo aqui crianças. E principalmente você – ele apontou para mim, com dedos magros – eu vou destruir tudo que conhece – e novamente desapareceu.
     _ Bastardo – eu disse – Nós temos que acabar com isso. Vamos voltar para o acampamento.
     Voltamos para o sopé da montanha rapidamente, com o dragão nas nossas costas. Quando as valquírias nos viram, ficaram alegres e correram na nossa direção. Mas assim que viram o dragão se aproximando, achando que era um inimigo, se prepararam para matá-lo. Isso teria acontecido se não fosse eu ter avisado elas aos gritos para não atacar.
         _ Fernam – eu gritei – não ataque ele, Ethan está nele.
         _ O que?
     Nos aproximamos rapidamente e explicamos para elas o que estava acontecendo. Fiz um sinal para que Ethan aterrissasse com o dragão e se juntasse a nós. Atendendo, ele manobrou o dragão, e, levando-o em direção a clareira, fez com que pousasse, causando um grande estrondo e levantando poeira e neve para os lados.
     _ E então meninas, – Ethan disse enquanto se aproximava – o que acham do meu dragãozinho de estimação?
     _ Ele não é um dragãozinho qualquer – Gina respondeu – ele é o Nidhogg, criatura que antigamente causou muita destruição ao mundo.
     Ethan pareceu um pouco surpreso pela revelação e olhou desconfiado para o dragão, mas logo em seguida esqueceu isso, e ficou com um sorriso enorme.
    _ Fernam, Gina, Brunie, essa é minha mãe, Célia – apontei para minha mãe que estava atrás de nós – acabei de salvar ela de uma cela na montanha.
     _ Muito prazer em conhecer você Célia – responderam elas, cumprimentado minha mãe.
    _ O prazer e todo o meu, meninas. – ela se virou para mim - Elas são muito bonitas – minha mãe disse bem baixo – qual delas é a sua namorada?
   _ Mãe! – eu protestei, mas acabei rindo, junto com ela. Pelo que vi o período de cativeiro não havia mudado o humor dela.
     Não parecia, mais já havia se passado muitas horas desde que saímos do acampamento, então preparamos uma rápida refeição. Arrumamos também algumas roupas novas para minha mãe e logo ela parecia uma pessoa normal, pronta para outra aventura.
    Enquanto conversávamos animados uns com os outros, o grasnar de um corvo chamou a atenção de todos. Olhei em direção ao barulho, vi que um corvo estava nos observando. O corvo voou em nossa direção e pousou no chão a alguns metros de nós. As valquírias logo o saudaram, mas isso não pareceu chamar a atenção dele. Ele me olhou bem nos olhos, em seguida olhou para minha mãe.
     _ Olá Célia – a voz de meu pai saiu da boca do corvo – estava torcendo para você ser resgatada pelo Thiago.
      _ Obrigado – ela respondeu, animada.
     _ Filho – ele se virou para mim - o que você vai fazer agora que resgatou sua mãe?
    _ Minha missão era resgatar todos os reféns feitos pelo inimigo. Agora que resgatei o último deles, estava pensando em... – fiz uma pausa, por não saber o que falar.
     _ Ir atrás daquele que provocou tudo isso não é?
     _ Isso mesmo – respondi com toda a minha confiança.
   _ Então você gostará de saber disso: minhas investigações dizem que alguma coisa importante esta acontecendo no Egito, em Cairo, para ser mais exato.
     _ É o semideus inimigo? – perguntei
    _ Não sei dizer se é ele ou não, mas uma grande quantidade de magia vem daquele lugar, portanto lá seria um bom lugar para você começar a investigar.
      _ Então eu irei.
    _ Ótimo. É importante que você parta imediatamente e vá para Cairo o mais rápido o possível.
      _ Certo, acha que as valquírias...
    _ Elas não podem levar vocês lá, filho. Infelizmente não. É longe demais dos meus domínios e da fonte de poder delas.
     _ Então iremos com o Nidhogg – Ethan disse.
    _ É uma boa ideia – meu pai olhou para Ethan e depois para o Nidhogg, que parecia estar dormindo nessa hora. - Quem diria que a história de morder a orelha dele fosse verdade – Odin parecia se divertir com a ideia – quem diria.
     _ Bem, é melhor partirmos imediatamente, não é? – eu disse.
     _ Está certo – Odin respondeu – não poderei ajudá-lo muito lá, filho, mas estarei sempre te observando. Lembre-se disso – assim que disse isso, o corvo saiu voando em direção ao céu. Logo sumiu.
  Começamos então a nos preparar para uma nova viagem. Arrumamos comida, dinheiro, remédios, salgadinhos, ou seja, os suprimentos básicos.
Quando estávamos prestes a sair, fui conversar com minha mãe.
     _ Mãe – eu a chamei – sinto muito ter que deixá-la de novo.
     _ Tudo bem meu filho – ela me deu um forte abraço – você vai para tentar resolver tudo, para que voltemos pra casa em paz. – ela soltou um soluço –    Estou muito orgulhosa de você, meu filho.
   Abracei-a bem forte. Depois, ter que soltá-la doeu mais do que eu imaginava. Assim que consegui soltar o abraço ela me olhou bem nos olhos, soltou um sorriso, enquanto apontava com a cabeça o Nidhogg. Soltei um sorriso e fui em direção a ele.
    Me despedi novamente das valquírias, pedindo que levassem minha mãe até à nossa cidade, Bronderslev, o que aceitaram fazer. Agradeci e subi no dragão. Apesar de ter uma escama bem dura, pude sentar bem confortável nas costas dele. Olhei novamente para minha mãe que com um sorriso no rosto, se despediu. O dragão bateu as asas duas ou três vezes para poder se levantar do chão. Logo estávamos voando, a uma velocidade incrível, em direção a Cairo.
     E foi lá que nós encontramos Gabriel, o semideus filho de Poseidon. Ele parecia já me conhecer, e como fiquei sabendo depois, já havia sonhado comigo. Conversamos um pouco e ele me apresentou ao grupo dele, a Rachel, filha de Hefesto, e o Arthur, filho de Atena.
     Após conversarmos, fomos atrás de um hotel para poder descansar. Achamos um que era muito estranho. Era incrivelmente arrumado e limpo. Nem parecia que a cidade lá fora quase havia sido totalmente destruída. Nós ficamos em um quarto de frente para o do Gabriel. Os quartos eram bonitos e bem arrumados. Além de terem ótimas camas, os chuveiros também eram ótimos.
      Tomamos banho e comemos um pouco. Liguei a TV para ver as notícias. Estava a tanto tempo sem saber o que estava acontecendo no mundo que levei um susto quando vi tudo aquilo passando na TV. Em um dos canais, mostravam imagens do mar morto, onde uma enorme criatura estava destruindo todos os barcos que passavam por la. Um deles, pelo que pude ver, era nórdico, mas estava “camuflado”, parecendo só mais um barco comum. Nos outros canais a mesma coisa. O mundo estava um caos e somente uma pessoa estava fazendo tudo isso.
       Fui deitar com uma inquietação enorme! Quase não consegui dormir. Após algumas horas, finalmente peguei no sono. Estava cansado. Muita coisa passava pela minha cabeça. Eu sabia que o dia seguinte seria importante. Sabia que eu precisaria estar cem por cento para derrotar meus inimigos.