terça-feira, 12 de março de 2013








       Faltando apenas um dia para o ataque, eu estava andando pela cabana onde Gabriel dormia, eu passei perto de seu aquário, e, quando eu o toquei tive uma visão.
       E o que eu vi foi assustador. Um grupo de humanos estava lutando com espadas e escudos, na base de um monte, contra um exército de monstros. Mas até aí, tudo “normal”. O estranho foi depois disso: eu vi homens do exército de mortais, atirando com suas armas, tanques, aviões, caças, tudo isso lutando contra os monstros. O céu estava de uma cor laranjada, quase vermelho, uma cor que eu nunca tinha visto antes.
       Haviam homens gigantes, de uns 4 metros cada, do lado dos humanos. Eles usavam armaduras gregas, e, na mão de um deles, eu vi um raio. Na mão de outro, um tridente, e um outro, usava um manto negro de sombras.
      Aqueles eram os deuses, e eles estavam na batalha, o que era muito preocupante, pois deuses não costumavam entrar em batalhas assim, pois não estavam ligando muito para o mundo.
Mais a frente do exército eu reconheci Gabriel, Arthur, eu e... Letícia!? Sim, a mais nova campista estava lá, lutando ao nosso lado. Onde estariam Thiago e Ethan?
      De repente, a visão mudou. Eu estava em uma oficina, muito bagunçada por sinal. Havia várias engrenagens e engenhocas em cima das mesas, havia alguns robôs destruídos no chão, e outros, catando esses restos de metal.
     Foi quando um homem velho, vestido como um ferreiro, com seu rosto todo sujo devido ao seu trabalho, apareceu de um canto escuro. Percebi que ele andava mancando, nas mãos dele, alguns parafusos, e dos bolsos via-se chaves de fenda, martelos, enfim, tudo o que um inventor precisaria.



       Ele veio até mim, pôs aquela mão pesada sobre mim, olhou no fundo dos meus olhos e disse:
       _ Filha _ então aquele era meu pai! Aquele senhor, era Hefesto, o deus das forjas! _ Primeiramente, eu queria te pedir desculpas por não ter aparecido antes, por nunca ter ligado ou mandado um e-mail, mas é que a vida de um deus não é lá das mais fáceis, e não tem muitas folgas também.
Seu olhar parecia triste, como se realmente ele estivesse arrependido, ou triste por não ter acompanhado meu crescimento.
    _ Mas agora, o assunto que realmente importa _ continuou ele, retomando a expressão de seriedade. _ Você está passando por um momento delicado certo?
        _ Gabriel... _ sussurrei eu.
    _ Sim, esse problema. _ Sua expressão agora, mostrava um ar de preocupação. _ Ah aquele menino travesso, se eu o pegasse... Mas enfim, temo que vou ter que te dar um responsabilidade maior do que você poderia aguentar, mas não vejo ninguém melhor para isso.
       _ Você está me chamando de incompetente? Você me traz aqui só para isso?
       _ Não é incompetência, é falta de experiência eu diria, mas eu confio que você vai evoluir durante a invasão, eu acredito que você será capaz de cumprir com a tarefa que eu vou lhe dar.
Eu estava com raiva, não queria mais ouvir nenhuma palavra daquele velho; incompetente, eu? Eu já havia salvado o planeta! Quem haveria de ser mais competente então?
      Foi quando eu lembrei do trato que fiz com Hades, de como eu havia agido precipitadamente, de como eu tinha perdido as esperanças facilmente, de minha “falta de experiência” , é, talvez meu pai tivesse um pouco de razão, decidi ouvi-lo mais um pouco.
        _ Gabriel tem uma certa invulnerabilidade certo? _ falou ele novamente.
_ Hum, sim, foi um presente de Poseidon.
        _ Minha filha, durante esses dias, eu vim forjando uma coisa, uma coisa muito poderosa.
       Ele foi até uma mesa e pegou uma coisa que parecia uma pistola, só que dourada, e a pôs em uma caixa.
        _ Essa arma, _ disse ele dando a caixa pra mim _ ela pode matar quase qualquer coisa com um tiro, e eu estou te entregando ela. Mas cuidado, ela só tem uma carga, então, use-a bem.
        _ Você está falando pra mim atirar nele?
       _ Se você quer entender assim... Mas o que é certo, é que uma escolha muito difícil estará em suas mãos, e eu acho que você é a única capaz de fazê-la no tempo e da maneira correta.
      Relutante, peguei a caixa q continha a arma. Assim que a peguei, ela brilhou e sumiu. Acho que fora transportada pra dimensão real, afinal eu ainda estava em um sonho depois de tudo.
Eu ia me virando para sair, quando meu pai pôs a mão em meu ombro e disse:
       _ Filha, você é mais vital nessa guerra do que você imagina, grandes coisas estão por vir, e você é uma das principais e mais importantes peças, não se subestime!
         Não entendi muito bem o porquê daquele conselho, mas fiz um sinal de positivo com a cabeça. Foi quando a imagem começou a ficar distorcida, e a imagem do aquário da casa do Gabriel estava voltando.
       _ … chegaram! _ disse uma voz ao fundo. _ Rachel! _ continuou ela; agora eu já ouvia com clareza, era Alfeu atrás de mim. _ Eles chegaram! A invasão começou! Venha!
        Quando eu assimilei as palavras dele, me virei com uma expressão de espanto. A invasão pela qual todos estavam apreensivos começara. Eu comecei a ouvir o barulho de fora, uma pequena guerra estava acontecendo lá.
     Saí o mais rápido que pude, e vesti minha armadura. Peguei minhas armas, inclusive a minha mais nova, dada por meu pai. Aquilo pesava mais que tudo em minha bolsa.
         Corri pelos corredores ofegante, a cada passo que eu dava, a barulho se tornava mais intenso, espadas se encontrando, monstros grunhindo, adolescentes gritando, tudo estava um caos.
     Quando virei para o corredor principal, dei de cara com Arthur e Letícia,que estavam encurralados por um minotauro. Eu entrei na luta para ajudá-los, afinal, já havíamos vencido um minotauro, outro não seria difícil. Se bem que da outra vez, ele estava conosco. Talvez por isso fora mais fácil.
     Mas agora não era hora de ficar imaginando hipóteses, ele não estava com a gente e ponto, deveríamos nos virar. Mas começamos a apanhar, como pequenas crianças indefesas, aquilo me fez sentir inútil, se eu não poderia vencer um simples minotauro o que dirá um titã, gigante ou algo pior que isso.
     À medida que o tempo de luta avançava, íamos recuando pelos corredores, fugindo do minotauro, até que surgiu uma parede atrás de nós e ficamos presos. O minotauro estava cada vez mais perto de acertar um golpe, e, no momento que ele ia me acertar, a parede ao lado explodiu, e um escudo voou na cara no minotauro. Ele ficou atordoado, havia muita poeira, e tudo que eu vi foi uma silhueta pulando no minotauro, logo depois, poeira dourada, indicando a morte do monstro.
       _ Eles são meus _ disse uma voz de dentro da fumaça.
Antes que eu pudesse reconhecer, Gabriel saiu correndo de dentro da fumaça pra cima de nós três. Eu fiquei paralisada. Arthur e Letícia o atacaram, mas não eram páreos, sem nem mesmo parar de correr, Gabriel acertou os dois e os pôs inconscientes no chão.
       Agora ele vinha pra cima de mim, sua expressão era outra, de ódio, dor, uma expressão que não era do Gabriel que eu conhecera um dia. Eu estava paralisada, não conseguia me mexer, ele acabara de vencer facilmente dois amigos meus e não seria diferente comigo.
      Quando ele estava a uns três passos de mim, de um corredor à direita, surgiu outra silhueta pulando pra cima dele. Gabriel foi arremessado contra a parede, e caiu.
       A silhueta era de Thiago!
       _ Cheguei atrasado? _ perguntou ele.
       _ Na verdade, bem na hora _ respondi.
Gabriel já havia se levantado, e partia pra cima de nós de novo. Dessa vez eu não estava mais tão perplexa.
      _ Rachel _ chamou Thiago _ eu cuido dele, vá ajudar Ethan na entrada, ele está com sérios problemas lá.
     Não confiei muito, mas assenti e saí correndo, com o canto dos meus olhos, vi o começo da luta; uma luta com um padrão de qualidade jamais visto, afinal, a habilidade de batalha dos dois era incomparável.
   Corri um pouco, e cheguei à entrada. Ethan realmente estava com problemas. Ele estava na porta da base, que estava totalmente destruída agora, lutando contra um manticore, e ele estava sozinho.
     Mas antes mesmo de eu conseguir chegar perto, ele acertou uma marretada na cabeça do manticore que se desfez em pó na hora. Eu desacelerei. Ele sorriu pra mim, e quando abriu a boca pra falar algo, o chão tremeu e ele desequilibrou. Ele olhou para trás, e uma expressão de espanto tomou seu rosto.
       Voltei a correr, e quando atravessei a poeira que estava na porta, vi um monstro grande, muito grande, vindo para nossa direção.
_ Gigante de Gelo _ disse Ethan com um medo na voz.
       O gigante tinha uns oito metros de altura, era todo branco, afinal, ele era feito de gelo. Carregava uma clava gigante apoiada no ombro. E olhava com um olhar aterrorizante para nós dois.
       Atrás dele, um exército de monstros aguardava ansiosamente pela ordem de invasão, com certeza estávamos perdidos.
      Ethan partiu pra cima do gigante. Eu como que por reflexo atirei minhas foices, e as correntes dela se enrolaram nas pernas do gigante, e o fizeram cair, Ethan rapidamente o acertou, e seu golpe rachou a cabeça do gigante, mas não o matou.
      Um apito soou, eu não tenho a mínima ideia de onde tenha vindo, mas o exército gritou em resposta e avançou. Eles iam invadir a base.
Começaram a correr pra cima de nós, o gigante já estava de pé; algumas pessoas, inclusive Alfeu, tinham vindo pra porta fortificar as defesas, mas nada que fosse aguentar muito.
     Olhei para Alfeu a espera de alguma coisa miraculosa que pudesse nos ajudar, ele pareceu ter entendido o que eu esperava, e pôs a mão no bolso.
Pareceu procurar algo, o que será que ele iria tirar do bolso? Talvez uma arma mágica muito forte, ou então algo que chamasse reforços, ou algo do tipo, mas, o que ele tirou, foi algo mais inesperado, impressionante, que me deixou em estado de choque.
      Ele foi tirando a mão do bolso, um item pequeno foi surgindo na mão dele, e era... nada mais nada menos que... A CHAVE DO ALARME DO CARRO.
Pelos deuses, de que aquilo iria adiantar? Iríamos fugir? Atropelar monstros?
Olhei com uma cara de desapontamento. Ele sorriu pra mim, e apontou a chave para o cristo redentor.
    Ah ótimo, agora Alfeu tinha enlouquecido de vez. O que ele estava pensando em fazer? E aquela por acaso era hora de ter um ataque de esquizofrenia? Deuses, que vergonha!
      Mas quando ele apertou o botão, algo muito impressionante aconteceu: os olhos do cristo piscaram em laranja, assim como os faróis de um carro quando o alarme está sendo desativado. E ele também fez o “ PI PI” tradicional barulho que faz quando abrimos o carro.
     Os braços do cristo começaram a se fechar, as partes da estátua que formavam a túnica se quebraram inteiras, e se esculpiram em uma armadura grega de batalha.
       Jesus vestido com uma armadura grega era a coisa mais estranha que eu já tinha visto, mas qualquer coisa que pudesse nos ajudar naquele momento eu estava agradecendo.
      O exército parou, e como a estátua ficava num monte atrás deles, eles se viraram todos, e viram o que era apenas uma velha estátua parada num monte a décadas, correr pra cima deles, agora trajada para uma guerra.
    Ela acabou com uns 30 monstros com apenas um chute, uma grande quantidade de poeira dourada ia subindo à medida que a estátua ia golpeando.
      _ Ei, Rachel _ chamou Alfeu, vá com Ethan pra dentro de novo, talvez Thiago precise de vocês.
       Assenti e puxei Ethan pra dentro. Corremos ofegantes pelos corredores, e começamos a ouvir a luta dos dois, cada vez mais alta. Quando viramos em um corredor maior, vimos Thiago de joelhos na frente de Gabriel, que estava pronto para dar um golpe com sua espada.
    Ethan correu, e tentou golpear Gabriel pelas costas. Mas com um movimento rápido, Gabriel defendeu colocando a espada na frente da marreta. Quando as duas armas se chocaram, uma explosão de energia, e um barulho estrondoso foram produzidos, os dois foram arremessados longe.
        _ Rachel, tire Thiago daqui, RÁPIDO! _ gritou Ethan se levantando.
        _ Certo, aguente as pontas aí, eu já volto.
       Peguei Thiago, apoiei-o nos ombros e fui arrastando ele até a enfermaria da base, lá eu poderia cuidar dos ferimentos dele. E mais uma vez, deixei um amigo meu lutando com Gabriel, eu estava me sentindo na função errada, eu não deveria estar apenas de suporte, carregando feridos, olhando para as lutas, eu deveria lutar também! Meu pai me dissera pra não me subestimar, que meu valor e importância eram maiores que eu pensava.
     Mas depois eu cuidaria disso, agora, meu amigo estava muito ferido se apoiando em mim, e eu ia cuidar dele.