terça-feira, 12 de março de 2013








       Faltando apenas um dia para o ataque, eu estava andando pela cabana onde Gabriel dormia, eu passei perto de seu aquário, e, quando eu o toquei tive uma visão.
       E o que eu vi foi assustador. Um grupo de humanos estava lutando com espadas e escudos, na base de um monte, contra um exército de monstros. Mas até aí, tudo “normal”. O estranho foi depois disso: eu vi homens do exército de mortais, atirando com suas armas, tanques, aviões, caças, tudo isso lutando contra os monstros. O céu estava de uma cor laranjada, quase vermelho, uma cor que eu nunca tinha visto antes.
       Haviam homens gigantes, de uns 4 metros cada, do lado dos humanos. Eles usavam armaduras gregas, e, na mão de um deles, eu vi um raio. Na mão de outro, um tridente, e um outro, usava um manto negro de sombras.
      Aqueles eram os deuses, e eles estavam na batalha, o que era muito preocupante, pois deuses não costumavam entrar em batalhas assim, pois não estavam ligando muito para o mundo.
Mais a frente do exército eu reconheci Gabriel, Arthur, eu e... Letícia!? Sim, a mais nova campista estava lá, lutando ao nosso lado. Onde estariam Thiago e Ethan?
      De repente, a visão mudou. Eu estava em uma oficina, muito bagunçada por sinal. Havia várias engrenagens e engenhocas em cima das mesas, havia alguns robôs destruídos no chão, e outros, catando esses restos de metal.
     Foi quando um homem velho, vestido como um ferreiro, com seu rosto todo sujo devido ao seu trabalho, apareceu de um canto escuro. Percebi que ele andava mancando, nas mãos dele, alguns parafusos, e dos bolsos via-se chaves de fenda, martelos, enfim, tudo o que um inventor precisaria.



       Ele veio até mim, pôs aquela mão pesada sobre mim, olhou no fundo dos meus olhos e disse:
       _ Filha _ então aquele era meu pai! Aquele senhor, era Hefesto, o deus das forjas! _ Primeiramente, eu queria te pedir desculpas por não ter aparecido antes, por nunca ter ligado ou mandado um e-mail, mas é que a vida de um deus não é lá das mais fáceis, e não tem muitas folgas também.
Seu olhar parecia triste, como se realmente ele estivesse arrependido, ou triste por não ter acompanhado meu crescimento.
    _ Mas agora, o assunto que realmente importa _ continuou ele, retomando a expressão de seriedade. _ Você está passando por um momento delicado certo?
        _ Gabriel... _ sussurrei eu.
    _ Sim, esse problema. _ Sua expressão agora, mostrava um ar de preocupação. _ Ah aquele menino travesso, se eu o pegasse... Mas enfim, temo que vou ter que te dar um responsabilidade maior do que você poderia aguentar, mas não vejo ninguém melhor para isso.
       _ Você está me chamando de incompetente? Você me traz aqui só para isso?
       _ Não é incompetência, é falta de experiência eu diria, mas eu confio que você vai evoluir durante a invasão, eu acredito que você será capaz de cumprir com a tarefa que eu vou lhe dar.
Eu estava com raiva, não queria mais ouvir nenhuma palavra daquele velho; incompetente, eu? Eu já havia salvado o planeta! Quem haveria de ser mais competente então?
      Foi quando eu lembrei do trato que fiz com Hades, de como eu havia agido precipitadamente, de como eu tinha perdido as esperanças facilmente, de minha “falta de experiência” , é, talvez meu pai tivesse um pouco de razão, decidi ouvi-lo mais um pouco.
        _ Gabriel tem uma certa invulnerabilidade certo? _ falou ele novamente.
_ Hum, sim, foi um presente de Poseidon.
        _ Minha filha, durante esses dias, eu vim forjando uma coisa, uma coisa muito poderosa.
       Ele foi até uma mesa e pegou uma coisa que parecia uma pistola, só que dourada, e a pôs em uma caixa.
        _ Essa arma, _ disse ele dando a caixa pra mim _ ela pode matar quase qualquer coisa com um tiro, e eu estou te entregando ela. Mas cuidado, ela só tem uma carga, então, use-a bem.
        _ Você está falando pra mim atirar nele?
       _ Se você quer entender assim... Mas o que é certo, é que uma escolha muito difícil estará em suas mãos, e eu acho que você é a única capaz de fazê-la no tempo e da maneira correta.
      Relutante, peguei a caixa q continha a arma. Assim que a peguei, ela brilhou e sumiu. Acho que fora transportada pra dimensão real, afinal eu ainda estava em um sonho depois de tudo.
Eu ia me virando para sair, quando meu pai pôs a mão em meu ombro e disse:
       _ Filha, você é mais vital nessa guerra do que você imagina, grandes coisas estão por vir, e você é uma das principais e mais importantes peças, não se subestime!
         Não entendi muito bem o porquê daquele conselho, mas fiz um sinal de positivo com a cabeça. Foi quando a imagem começou a ficar distorcida, e a imagem do aquário da casa do Gabriel estava voltando.
       _ … chegaram! _ disse uma voz ao fundo. _ Rachel! _ continuou ela; agora eu já ouvia com clareza, era Alfeu atrás de mim. _ Eles chegaram! A invasão começou! Venha!
        Quando eu assimilei as palavras dele, me virei com uma expressão de espanto. A invasão pela qual todos estavam apreensivos começara. Eu comecei a ouvir o barulho de fora, uma pequena guerra estava acontecendo lá.
     Saí o mais rápido que pude, e vesti minha armadura. Peguei minhas armas, inclusive a minha mais nova, dada por meu pai. Aquilo pesava mais que tudo em minha bolsa.
         Corri pelos corredores ofegante, a cada passo que eu dava, a barulho se tornava mais intenso, espadas se encontrando, monstros grunhindo, adolescentes gritando, tudo estava um caos.
     Quando virei para o corredor principal, dei de cara com Arthur e Letícia,que estavam encurralados por um minotauro. Eu entrei na luta para ajudá-los, afinal, já havíamos vencido um minotauro, outro não seria difícil. Se bem que da outra vez, ele estava conosco. Talvez por isso fora mais fácil.
     Mas agora não era hora de ficar imaginando hipóteses, ele não estava com a gente e ponto, deveríamos nos virar. Mas começamos a apanhar, como pequenas crianças indefesas, aquilo me fez sentir inútil, se eu não poderia vencer um simples minotauro o que dirá um titã, gigante ou algo pior que isso.
     À medida que o tempo de luta avançava, íamos recuando pelos corredores, fugindo do minotauro, até que surgiu uma parede atrás de nós e ficamos presos. O minotauro estava cada vez mais perto de acertar um golpe, e, no momento que ele ia me acertar, a parede ao lado explodiu, e um escudo voou na cara no minotauro. Ele ficou atordoado, havia muita poeira, e tudo que eu vi foi uma silhueta pulando no minotauro, logo depois, poeira dourada, indicando a morte do monstro.
       _ Eles são meus _ disse uma voz de dentro da fumaça.
Antes que eu pudesse reconhecer, Gabriel saiu correndo de dentro da fumaça pra cima de nós três. Eu fiquei paralisada. Arthur e Letícia o atacaram, mas não eram páreos, sem nem mesmo parar de correr, Gabriel acertou os dois e os pôs inconscientes no chão.
       Agora ele vinha pra cima de mim, sua expressão era outra, de ódio, dor, uma expressão que não era do Gabriel que eu conhecera um dia. Eu estava paralisada, não conseguia me mexer, ele acabara de vencer facilmente dois amigos meus e não seria diferente comigo.
      Quando ele estava a uns três passos de mim, de um corredor à direita, surgiu outra silhueta pulando pra cima dele. Gabriel foi arremessado contra a parede, e caiu.
       A silhueta era de Thiago!
       _ Cheguei atrasado? _ perguntou ele.
       _ Na verdade, bem na hora _ respondi.
Gabriel já havia se levantado, e partia pra cima de nós de novo. Dessa vez eu não estava mais tão perplexa.
      _ Rachel _ chamou Thiago _ eu cuido dele, vá ajudar Ethan na entrada, ele está com sérios problemas lá.
     Não confiei muito, mas assenti e saí correndo, com o canto dos meus olhos, vi o começo da luta; uma luta com um padrão de qualidade jamais visto, afinal, a habilidade de batalha dos dois era incomparável.
   Corri um pouco, e cheguei à entrada. Ethan realmente estava com problemas. Ele estava na porta da base, que estava totalmente destruída agora, lutando contra um manticore, e ele estava sozinho.
     Mas antes mesmo de eu conseguir chegar perto, ele acertou uma marretada na cabeça do manticore que se desfez em pó na hora. Eu desacelerei. Ele sorriu pra mim, e quando abriu a boca pra falar algo, o chão tremeu e ele desequilibrou. Ele olhou para trás, e uma expressão de espanto tomou seu rosto.
       Voltei a correr, e quando atravessei a poeira que estava na porta, vi um monstro grande, muito grande, vindo para nossa direção.
_ Gigante de Gelo _ disse Ethan com um medo na voz.
       O gigante tinha uns oito metros de altura, era todo branco, afinal, ele era feito de gelo. Carregava uma clava gigante apoiada no ombro. E olhava com um olhar aterrorizante para nós dois.
       Atrás dele, um exército de monstros aguardava ansiosamente pela ordem de invasão, com certeza estávamos perdidos.
      Ethan partiu pra cima do gigante. Eu como que por reflexo atirei minhas foices, e as correntes dela se enrolaram nas pernas do gigante, e o fizeram cair, Ethan rapidamente o acertou, e seu golpe rachou a cabeça do gigante, mas não o matou.
      Um apito soou, eu não tenho a mínima ideia de onde tenha vindo, mas o exército gritou em resposta e avançou. Eles iam invadir a base.
Começaram a correr pra cima de nós, o gigante já estava de pé; algumas pessoas, inclusive Alfeu, tinham vindo pra porta fortificar as defesas, mas nada que fosse aguentar muito.
     Olhei para Alfeu a espera de alguma coisa miraculosa que pudesse nos ajudar, ele pareceu ter entendido o que eu esperava, e pôs a mão no bolso.
Pareceu procurar algo, o que será que ele iria tirar do bolso? Talvez uma arma mágica muito forte, ou então algo que chamasse reforços, ou algo do tipo, mas, o que ele tirou, foi algo mais inesperado, impressionante, que me deixou em estado de choque.
      Ele foi tirando a mão do bolso, um item pequeno foi surgindo na mão dele, e era... nada mais nada menos que... A CHAVE DO ALARME DO CARRO.
Pelos deuses, de que aquilo iria adiantar? Iríamos fugir? Atropelar monstros?
Olhei com uma cara de desapontamento. Ele sorriu pra mim, e apontou a chave para o cristo redentor.
    Ah ótimo, agora Alfeu tinha enlouquecido de vez. O que ele estava pensando em fazer? E aquela por acaso era hora de ter um ataque de esquizofrenia? Deuses, que vergonha!
      Mas quando ele apertou o botão, algo muito impressionante aconteceu: os olhos do cristo piscaram em laranja, assim como os faróis de um carro quando o alarme está sendo desativado. E ele também fez o “ PI PI” tradicional barulho que faz quando abrimos o carro.
     Os braços do cristo começaram a se fechar, as partes da estátua que formavam a túnica se quebraram inteiras, e se esculpiram em uma armadura grega de batalha.
       Jesus vestido com uma armadura grega era a coisa mais estranha que eu já tinha visto, mas qualquer coisa que pudesse nos ajudar naquele momento eu estava agradecendo.
      O exército parou, e como a estátua ficava num monte atrás deles, eles se viraram todos, e viram o que era apenas uma velha estátua parada num monte a décadas, correr pra cima deles, agora trajada para uma guerra.
    Ela acabou com uns 30 monstros com apenas um chute, uma grande quantidade de poeira dourada ia subindo à medida que a estátua ia golpeando.
      _ Ei, Rachel _ chamou Alfeu, vá com Ethan pra dentro de novo, talvez Thiago precise de vocês.
       Assenti e puxei Ethan pra dentro. Corremos ofegantes pelos corredores, e começamos a ouvir a luta dos dois, cada vez mais alta. Quando viramos em um corredor maior, vimos Thiago de joelhos na frente de Gabriel, que estava pronto para dar um golpe com sua espada.
    Ethan correu, e tentou golpear Gabriel pelas costas. Mas com um movimento rápido, Gabriel defendeu colocando a espada na frente da marreta. Quando as duas armas se chocaram, uma explosão de energia, e um barulho estrondoso foram produzidos, os dois foram arremessados longe.
        _ Rachel, tire Thiago daqui, RÁPIDO! _ gritou Ethan se levantando.
        _ Certo, aguente as pontas aí, eu já volto.
       Peguei Thiago, apoiei-o nos ombros e fui arrastando ele até a enfermaria da base, lá eu poderia cuidar dos ferimentos dele. E mais uma vez, deixei um amigo meu lutando com Gabriel, eu estava me sentindo na função errada, eu não deveria estar apenas de suporte, carregando feridos, olhando para as lutas, eu deveria lutar também! Meu pai me dissera pra não me subestimar, que meu valor e importância eram maiores que eu pensava.
     Mas depois eu cuidaria disso, agora, meu amigo estava muito ferido se apoiando em mim, e eu ia cuidar dele.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012


Capítulo I – Rachel










Eu estava no topo de uma colina, e logo acima de mim havia terra, sim toda a extensão de uma planície, acima de mim, e abaixo, uma grande depressão, como se houvesse uma Terra logo abaixo da outra.
      Um rio surgia dessa colina, ele ia percorrendo toda a sua extensão, ladeado por florestas, não muito densas. Mais abaixo, via-se uma cidade, cercada por grandes muros, mas não via-se carros, nem luz elétrica, pelo menos não àquela distância.
O que eu distingui com certeza foram tochas, nas mãos de guardas que usavam armaduras, espadas, arcos, e lanças. Um pouco estranho para o século XXI.
  De repente fui puxada. Como se eu fosse um grão de poeira, e a cidade um aspirador de pó. Passei voando pelas florestas e, a medida que eu passava, as folhas das árvores amarelavam, caíam, nasciam de novo, amarelavam de novo, e assim por diante, como se o tempo estivesse passando.
Quando cheguei à cidade, ela estava em chamas e, bem no meio dela, estava Gabriel. Sim, ele mesmo, o que matou o Kraken, salvou o mundo, e o garoto pelo qual eu era apaixonada.
Mas ele estava cercado. Dezenas de monstros estavam à sua volta. Eu reconheci também Arthur, ele estava caído em um canto tentando se levantar. Foi quando uma sombra imensa cobriu Gabriel. Quando olhei, um monstro humanoide estava olhando e rindo para ele. Ele era dourado tinha uns quatro metros de altura, e perto dele, tudo estava ficando lento. Ele segurava uma foice, com uma lâmina, que só de olhar pra ela, eu senti minha vida saindo de mim.
Espere: foice, tempo lento, homem grande e dourado. Cronos! O antigo senhor dos tempos, o senhor dos titãs. Mas o que? Como? Ele havia sido cortado em mil pedaços por Zeus, e agora estava ali, inteiro, forte, e prestes a matar Gabriel.
Ele bateu o cabo de sua lança no chão, todos em volta dele caíram, Gabriel estava com uma expressão de terror nos olhos, ele usava uma camiseta verde, mas que já estava cheia de poeira e toda rasgada, estava com uma calça jeans surrada, e um tênis tão destruído, que quem olhasse meio distraído não reconheceria aquilo como um tênis.
      O Titã ergueu sua foice e passou o primeiro corte. Gabriel se defendeu, mas seu escudo se partiu tamanha a força do golpe. 
      Tentei correr pra perto dele, para ajudar, mas eu não sentia minhas pernas estava presa.
  Cronos deu mais um golpe, Gabriel o desviou com sua espada, e o corte  lançou uma espécie de anel azul que cortou tudo por onde passou: Uma árvore, uma parede que um dia fora uma casa, uma estátua. Tudo cortado como se fosse uma motosserra passando em uma folha de papel.

     
       Ele preparou mais um golpe, dessa vez ele acertou. Vi sangue voando. Gabriel não se mexia. NÃO!!! _ tentei gritar mas minha voz também não saía.
De repente ele olhou para mim.
_ O que foi garota? _ sua voz era grossa, um tom assustador. _Ah, ele? _ disse o titã apontando para Gabriel; sua expressão era de desdém. _ Ele teria que morrer mesmo, mas, se você estivesse aqui, isso poderia ter sido adiado.
  Foi quando uma bola de energia atingiu Cronos nas costas e eu acordei. Estava  suada. A primeira coisa que fiz foi ver se sentia as pernas, e, graças aos deuses elas estavam lá, firmes e fortes.

      Olhei no meu relógio. Três e meia da manhã. É, era bom eu tentar dormir de novo, não tinha escolha, era isso ou passar cinco horas sentada na cama sem poder fazer um ruído, sem poder fazer nada.
Acordei lá pelas oito horas no outro dia. Fui para o refeitório. Vi Arthur na mesa. A propósito, ele foi escolhido para participar da mesa de reuniões. Apenas Gabriel e ele, de campistas, participam. Ele estava muito feliz, pois era a primeira vez que sua inteligência era reconhecida. Ele também foi nomeado comandante das operações de estratégia e inteligência.
Eu, ele e Gabriel recebemos medalhas de honra e agradecimento por por termos salvos o mundo.
  Todos os campistas em geral pareciam mais felizes, como se sentissem o ar mais leve, mais calmo, com, digamos, menos perigos.
  Tomamos café até que Alfeu veio até nós. Ao lado dele estava uma garota, com prováveis 14 anos, uma pele bem morena, cabelos medianos lisos, mas claramente alisados por uma chapinha, presos em um rabo-de-cavalo. Seus olhos eram castanhos claro, ela usava um uniforme escolar de uma escola daqui do Rio chamada Dínamis. Usava uma calça leg, e um tênis de caminhada, como se tivesse acabado de sair da educação física.
_ Hum, Rachel? _ disse ele.
_ Sim?
_ Essa é Letícia Silva, ela é nova aqui, você poderia mostrar a base a ela?
_ Sim, claro _Quando a fitei, ela passava os olhos pelos meninos, não sei se foi impressão minha, mas ela pousou mais os olhos em Gabriel. _ Este aqui é o meu namorado Gabriel _ disse a ela apontando para ele. _ E esse é meu amigo Arthur.
Os dois murmuraram algo como muito prazer, mas nada muito animado, o que constrangeu a menina.
_ Enfim, vamos? _ disse a ela com um sorriso no rosto.
Ela tirou a expressão de desconforto e abriu um sorriso mostrando seus dentes perfeitos.
Andamos pela base, mostrei a ela os campos de treinamento, meu quarto, o quarto onde ela ficaria, explicando a ela que aquilo não era definitivo, era apenas até descobrirmos quem era o pai ou mãe dela.
Ela sorriu aliviada. Letícia era uma garota que parecia não querer chamar atenção, daquelas que não se arrumam, não fazem todos os cuidados normais de uma garota. Mas ela era bonita. E essa beleza por si só já chamava atenção. E esse descuido com si mesma, essa despreocupação em agradar a deixava meiga, uma garota linda.
_  Hum, você mora com seu pai ou com sua mãe?
Assim que fiz essa pergunta desejei ter ficado quieta. O rosto dela ficou triste, seu sorriso desapareceu.
_ Eu, bem, nunca conheci nenhum dos dois... Eles morreram na queda de um avião.
_ Me desculpe, e, sinto muito por você. Mas aqui, você ganhará uma família nova, vai ser a melhor que você poderia ter, pode ter certeza!
Ela voltou a sorrir. Mas eu via que ela ainda estava meio triste, e eu tentei de tudo para deixá-la feliz.
Depois de ter mostrado todo o acampamento, eu a deixei em seu quarto, e fui até meu quarto e me arrumei. Depois fui até a casa de Gabriel, ele estava  sentado na cama.
_ Ei _ chamei eu. _ Vamos dar um passeio?
_ Agora? _ respondeu ele com uma voz preguiçosa, se deitando de novo _ fica pra próxima.
Então eu entrei, eu estava com uma blusinha verde, um short jeans azul, e uma rasteirinha, com meu cabelo preso em um rabo-de-cavalo, jeito que eu não costumava muito deixar porque não gostava muito. Fui até lá e puxei ele pelo braço, colocando ele de pé. Quase tive que arrumar ele, igual se arruma um bebê, mas, que bom, ele fez isso sozinho.
_ E... Aonde vamos? _ perguntou ele depois de sairmos da base.
_ Fazer compras! _ respondi
_ O QUE? _ perguntou pasmo, _ Porque não há nada pior do que fazer compras com garotas, não me leve a mal, por favor.
Me limitei a sorrir.
Ele não reclamou mais e me acompanhou, chegamos ao shopping.
Tenho que admitir que ele tinha parte da razão. Eu ia arrastando ele pelas lojas, olhava, olhava, olhava, e fui comprar a primeira peça só depois de meia hora.



Lá pelas cinco horas, ele pediu um descanso. Fomos a praça de alimentação sentar um pouco, eu estava muito feliz, falando muito, e eu acho que isso contagiou ele, pois pouco depois, ele já estava falando pelos cotovelos também.
Assistimos um filme, curiosamente sobre mitologia, e no final, ouvi um jovem de uns vinte anos dizendo:
_ Humpf, aquele cara é muito fraco, eu acabaria com um titã bem mais rápido do que ele.
Eu quase ri. Aquele cara não aguentaria nem um esqueleto, quanto mais um titã, e ele fala isso só porque acha que nada disso existe... coitado.
Ficamos mais um pouco no shopping, ele também comprou algumas coisas, pois depois daqueles dias de guerra, algumas roupas deles ficaram inutilizáveis.
Voltamos para a base mais ou menos às oito horas. Tudo estava correndo normalmente, e foi assim até o fim da noite, quando fui dormir.

No outro dia, quando acordei, estava um dia lindo, o sol brilhava, havia algumas nuvens, uma temperatura agradável, e uma brisa mansa, que fazia com que a temperatura ficasse perfeita.
Fui ao refeitório, muitos adolescentes tomavam café-da-manhã lá, entre eles reconheci Arthur, comendo um grande pedaço de bolo, que tinha tantos doces e cremes que eu acho que quem comesse uma fatia daquele bolo, pegaria diabetes, ficaria obesa, e teria muitos problemas de saúde.
Sentei-me com ele. Ele comia de um jeito tão apressado que chegava a ser engraçado.
_ O que foi? _ perguntou ele com um pouco de chantilly no nariz.
_ Nada _ disse segurando o riso. _ como estão as coisas?
_ Melhor impossível, nunca me senti tão bem, ainda mais agora que não tem nenhum monstro terrível e invencível nos aterrorizando, depois do Kraken não quero ver mais nenhum polvo ou algo do tipo na minha frente pelo resto da minha vida.
_ É _ disse eu rindo. _ admito que aquilo não foi agradável, mas ele até que era fofinho!
_ Então vai lá dar um abraço nele então, depois que ele te engolir espero que ache o estômago dele fofinho também!
Meu café chegou, conversamos mais um tempo, mais tarde, nossa nova amiga apareceu no refeitório, segurando uma bandeja e perguntou tímida:
_ Eu, hum, posso sentar aqui?
_ Mas é claro! _ respondeu Arthur. _ Err, quer dizer, pode sim.
Ele ficou mais vermelho que uma pimenta, e voltou a comer seu bolo de um milhão de calorias.
_ Ah _ continuou ele. _ Me desculpe por ontem, pelo jeito que falei, é que eu estava com sono, não foi por falta de entusiasmo ao te conhecer, por que sim, é um grande prazer e, espero que não tenha ficado magoada nem nada...
_ Ela já entendeu, Arthur _ disse eu rindo, ele estava atropelando as palavras, estava nervoso. _ Não é mesmo Lê?
_ É claro! _ disse ela. _ Também é um prazer conhecê-lo.
Ela fez mais uma de suas caras meigas, Arthur riu, nervoso. Parecia que ele queria enfiar a cara no seu grande pedaço de bolo, e ficar com ela lá até morrer de diabetes. Ou sem ar mesmo.
_ Eu, bem, já acabei meu café. Vou atrás de Gabriel _ falei, mas isso foi apenas uma desculpa para deixá-los sozinhos. _ E é uma oportunidade para vocês se conhecerem melhor, vocês dois combinam, podem se tornar grandes amigos!
Arthur me olhou com uma cara de: vou te matar lentamente depois.
Devolvi uma cara de: você vai me AGRADECER depois.
Fui atrás de Gabriel, andei por toda a base e só fui encontrá-lo na garagem, mas nem deu tempo de falar com ele, ele estava entrando no carro com uma expressão preocupada, séria. Mas quando ele me viu, ele sorriu, me deu um tchauzinho e um beijo através do vidro. Devolvi.
      O carro saiu em alta velocidade e sumiu.
O resto do dia correu normalmente até que Alfeu e Gabriel chegaram, lá pelas duas da tarde. Alfeu vinha com Gabriel desmaiado em suas mãos.
_ Saiam da frente _ ele dizia a qualquer um que tentasse ver o que estava acontecendo.
Fui atrás correndo. Alfeu o levou para sua casa. Pouco depois ele acordou, Alfeu não me autorizou chegar perto, disse que precisava falar com Gabriel. Então eu esperei bem longe, mas de um lugar que dava pra ver os dois.
Assim que a conversa começou, eu vi o rosto de Gabriel perdendo toda a cor, com certeza era uma notícia ruim. A expressão dele se tornou sombria, o que me deu até medo, então, eu me virei e sentei de costas para a parede.
Logo que Alfeu saiu, eu corri até Gabriel, ele estava sentado na beira do riacho, como se estivesse pensando.
_ Ei _ disse eu _ O que ouve?
_ Apenas saia daqui. _ respondeu ele de maneira seca.
_ Mas, talvez eu possa ajudar, você pode desabafar ou algo assim.
_ Não. Já falei saia daqui, me deixe sozinho. SAIA!
Quando ele disse isso, sua mão veio pronta para dar um soco perto do meu rosto, eu chorava. Levantei e saí correndo.
Chorei o resto do dia. Por que ele havia feito aquilo? O que eu tinha feito para ele?
Conversei com Arthur, ele tentou falar com Gabriel, mas sem sucesso também, algo tinha acontecido, e Gabriel estava sombrio, com um olhar de ódio, um olhar que não pertencia a ele. Aquele não era o Gabriel que eu conhecia, com certeza não era, e eu tinha que descobrir o que tinha acontecido.
Mas antes que eu pudesse descobrir qualquer coisa, uma coisa muito ruim aconteceu.
No dia seguinte, fui até a casa de Gabriel bem cedinho para tentar falar com ele, mas ele não estava mais lá. Procurei por toda a base, avisei Alfeu, Arthur, até a Letícia, mas ninguém o encontrava.
O desespero tomou conta de mim, eu chorava desesperadamente, nunca havia chorado tanto na minha vida, só parei de chorar porque minhas lágrimas acabaram, secaram. Todos tentavam me consolar, falavam que ele ia voltar, mas eu percebia que nem eles mesmo acreditavam no que diziam. O que tinha acontecido? Alguém o levara? Ele havia ido por conta própria? Por que? Muitas perguntas vinham em minha mente, muitas hipóteses, e eu só ficava mais triste.
Fazia dias que várias equipes de busca iam e voltavam, sempre sem notícias dele. E, desde que ele se foi, uma chuva constante, fria, vnha castigando o Rio. Como se até a natureza estivesse triste, toda a alegria que reinava em todos na base acabou, mesmo os que não eram íntimos ficaram tristes, pois todos gostavam dele.
Eu ficava com o celular 24 horas por dia na mão, esperando uma ligação, uma mensagem, qualquer sinal de vida dele. Eu apertava meu aparelho em minhas mãos. Ele prometera nunca me abandonar,_ pensava eu _ e agora, bem, agora não faço a menor ideia de onde ele esteja, ele havia me abandonado, descumprido sua promessa.
Esse estava sendo a primeira vez, o primeiro momento, desde que eu conhecera aquele garoto, que eu estava me sentindo sozinha, desprotegida.
Foi quando eu percebi que estava usando a função errada do celular. Eu não deveria estar esperando uma chamada, e sim, fazendo. Fui em favoritos e disquei: Gabriel. Chamou a primeira vez, a segunda, pensamentos começaram a invadir minha mente devido a ansiosidade que eu estava. Eu pensava nele, em tudo o que havíamos passado; mais um toque; pensei em seu rosto, seu sorriso, em seu beijo, ah se eu pudesse pelo menos dizer o quanto eu o amava! Por favor, atenda! _ pensava eu.
Foi quando uma voz interrompeu meus pensamentos e me trouxe de volta ao mundo real:
_ Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagem e estará sujeita a cobrança após o sinal. _ disse a gravação do outro lado da linha, quebrando e pisoteando minhas esperanças.
Voltei a chorar. Tentei mais algumas vezes, nada. Aquilo era desesperador, o que poderia ter acontecido?
Passei o resto do dia ainda mais preocupada, nos horários de alimentação, engoli um pouco de comida, não estava com a mínima fome, mas sabia que tinha que comer pelo menos um pouco.
O dia se arrastou numa lentidão tão grande que parecia que nunca ia acabar, e a cada segundo eu me sentia sendo dilacerada por dentro, um sofrimento inexplicável.
Como esperado, eu não consegui dormir, e, no meio da madrugada meu telefone tocou. Nunca atendi um telefonema com tanta rapidez assim.
_ Saia da base, e vá para o mais longe possível em no máximo quatro dias _ disse uma voz quando eu atendi.
_ Ga... Gabriel?! _ perguntei pasma depois que reconheci aquela voz _ onde você está? O que aconteceu? Por que você não voltou? Você...
_ Apenas saia daí no tempo em que te falei _ sua voz estava sombria, seca, mas eu ainda sentia uma ponta de tristeza, dor nela.
_ Mas por que sair?
Ele nem respondeu e desligou o telefone. O que ele estaria querendo dizer? Por que sair da base? As perguntas rondaram minha mente até perto de amanhecer, quando eu dormi por puro cansaço.
De manhã, eu procurei Alfeu e contei tudo a ele. Depois de muito pensar, ele me disse que só havia pensado em uma hipótese:
_ Um ataque _ disse ele já movendo-se para os microfones que fazem a comunicação de toda a base e chamou os participantes da mesa para uma reunião urgente.
Abri o histórico de ligações em meu celular para ligar para Gabriel, mas vi outro nome que me deu uma ideia: Thiago. Reforços _ pensei _ e ele ainda é um grande amigo de    Gabriel, com certeza ajudará.
_ Alô? _ disse ele quando atendeu. _ Algum problema Rachel?
_ Preciso de sua ajuda, AGORA!
_ O que aconteceu?
_ É Gabriel, ele sumiu, e provavelmente vai participar de um ataque à base.
_ O que? Mas por que? Quando? Como? _ sua voz estava incrédula, tão assustado como eu fiquei quando Gabriel se foi.
_ Venha pra cá e eu te explico tudo.
_ Certo. Vou atrás de Ethan e em no máximo dois dias estamos aí.
Quando desliguei, Alfeu veio falar comigo:
_ Tenho que te explicar algumas coisas que eu deixei ocultas, mas agora vejo que você tem que saber. Quando eu saí com o Gabriel aquele dia, nós estávamos indo até a casa da mãe dele. O motivo, era que ela não respondia a nenhum contato, havia se silenciado por tempo demais, o que me preocupou e eu resolvi averiguar. Mas, assim que chegamos lá, Gabriel teve algum tipo de ataque assim que encostou na maçaneta. Ele simplesmente desabou, desacordado. Pus ele no carro, e fui até o interior da casa. A mãe dele realmente não estava lá. E havias sinais que ela já não estava lá há um bom tempo.
_ Então Gabriel saiu para procurar ela _ supus.
_ Não exatamente. Quando nós chegamos, ele me contou o que tinha acontecido com ele, ele tinha tido uma visão, de outro lugar, em que ele vira uma mulher ajoelhada, aparentemente amarrada, aos pés de um homem. Assim que contei a ele do sumiço de sua mãe ele já interligou os fatos, e supos que Joe havia raptado sua mãe, ficou furioso e o resto você já sabe.
_ Sim, então agora ele está atrás de Joe, que provavelmente sequestrou sua mãe. Mas algo ai não se encaixa: por que ele ligaria me falando pra sair da base em no máximo quatro dias?
Alfeu nem precisou responder, nós dois deduzimos a mesma hipótese: Gabriel havia entrado como subordinado de Joe em troca da vida de sua mãe, e, para provar sua lealdade ele teria que destruir a base.








Thiago, Nota Final







Depois de cinco dias que eu havia chegado na Dinamarca de novo, em uma tarde, meu celular tocou. Atendi e a voz desesperada de Rachel dizia:
_ Preciso de sua ajuda. AGORA!



quarta-feira, 26 de setembro de 2012






Φ Capítulo XX - O fim, ou quase isso – Gabriel Φ








      O Kraken era invencível. Não tinha como, ele era grande demais, tinha pele impenetrável, era rápido, e nós não duraríamos muito naquele ritmo.
Mas, uma sombra de esperança apareceu. Era uma sombra conhecida: Nidhogg.
O que significava que Thiago havia obtido sucesso em sua missão. A cabeça da Medusa estava com ele. Era só apontar para o Kraken e ele viraria apenas mais um ponto turístico da Itália.
Parecia simples, mas o que realmente aconteceu foi muito, mas muito pior e mais difícil. Antes do dragão conseguir descer, eles foram golpeados por um dos centenas de tentáculos do Kraken. Vi os os dois meninos mais o dragão caindo no mar. Uma sacola se soltou de um deles, e ele, a todo custo quis pegar mas não conseguiu.
Eu fiz o mar pegá-los, consegui fazer que eles não sofressem danos. Mas foi aí que eu notei uma coisa: só tinha dois meninos, três haviam saído de Roma. O que haveria acontecido?
O meu “pequeno” inimigo me lembrou da presença dele, me acertando em cheio com um de seus tentáculos. Voei uns vinte metros até bater contra uma pedra. Aquilo doeu, como doeu, mas eu não perdi a consciência, consegui me levantar no mesmo momento. Cambaleei de volta aos meus amigos. Thiago e Ethan estavam terminando de sair do mar. Nidhogg ao lado deles.
Seu sorriso era triunfante, enquanto ele me mostrava a sacola. Acabou - pensei.
Eles se juntaram a nós, e Thiago disse:
_ Não é muito bom que vocês olhem pra o que eu tenho aqui.
_ Com certeza _ disse Arthur se virando.
Assim que estávamos de costas, eu ouvi um zíper se abrindo. Algo foi puxado de lá de dentro. A cabeça da Medusa. De repente silêncio. Nada fazia barulho, nem o mar, nem meus amigos, nem o monstro.
_ Hã, o que deveria acontecer mesmo? -  perguntou Ethan.
_ Bom, o Kraken era pra virar uma estátua - respondi.
_ Entao é bom você dar uma olhadinha aqui.
      Quando eu me virei, lá estava o monstro, totalmente bem, sem nenhuma partezinha de pedra. Totalmente vivo e pronto para nos matar.
_ Como? Is... isso não é possível! O que, o que deu errado? - perguntei desesperado.
_ Eu explico - disse uma voz distante: Joe.
Olhei para a cabeça do Kraken e ele estava lá em cima, em pé.
_ O Kraken, não está mais, digamos, vivo - continuou ele, - eu o invoquei através de um selo proibido, um selo que me permite trazer seu corpo de volta, mas não sua alma, sua vida.
Arthur se mexeu ao meu lado. Exatamente como ele fazia quando estava perto de solucionar um enigma, quebra-cabeça, essas coisa do gênero.
_ Não há meio de matá-lo.
_ Ei - eu disse à Joe. - Mas os outros monstros também tinha esse selo, e foi só bater um pouquinho e eles já morriam.
_ Humpf - suspirou ele. - Esse selo, quanto maior a força da criatura, mais forte ele se torna, ou seja, para matar Kraken, você precisaria de quase o dobro da força dele. Aceite sua derrota garoto, chega de brincar, você nunca iria conseguir mesmo...
Ele continuou falando, mas Arthur chamou minha atenção, e falou em meu ouvido:
_ Tenho um plano, é desesperador, mas tenho. E, como não temos nada a perder, e nenhuma outra opção, acho que devemos tentar.
Depois de ter me contado, e aos meus amigos, todos nos preparamos. Montamos nos pégasus, e em Nidhogg.
_ Um último esforço ou uma fuga? - Riu Joe.
Trinquei os dentes.
_ Vamos ver quem é que vai rir depois dessa - provoquei.
Alçamos voo. Os tentáculos do Kraken atacavam- nos, mas nossa determinação era tanta que ficara fácil desviar. Ethan começou a disparar com sua arma, fazia grandes explosões, mas nada de dano. Apenas para distrair a criatura.
Eu e Arthur voamos para o selo no peito do monstro, eu tirei a insignia que pegara em Cairo da esfinge. Era exatamente igual. Talvez o plano de Arthur desse certo. Foi quando algo bem ruim aconteceu: Hades, o todo-poderoso deus da morte apareceu em uma grande nuvem de fumaça negra. Ele usava um grande manto negro, que virava fumaça mais abaixo, assim como sua cintura e pernas. Tinha uma expressão de extremo ódio, acho que ele sempre era assim, afinal ele tinha seus motivos.




_ Hora de pagar sua dívida - disse ele à Rachel.
Trinquei os dentes.
_ Só por cima do meu cadáver - repliquei.
_ Isso seria fácil - provocou.
Ele estava na praia, e foi andando lentamente até o mar, Rachel me olhava com uma expressão muito assustada, pedindo ajuda, suplicando para mim manter minha promessa feita anteriormente.
      Como eu odeio esses monstros! Logo agora que eu estava mais desesperado e com pressa de matar ele, ele aumentou a frequência de seus ataques, estava difícil desviar. Quando eu estava bem perto do selo em seu peito, um tentáculo me acertou e eu cai. Joguei o selo para Arthur. Nidhogg me pegou no ar, estávamos eu, Thiago e Ethan juntos.  Olhei para Arthur, quando ele ia encostar o selo no peito do Kraken, ele também foi acertado. Peguei a insignia, e um pégasus segurou Arthur. Hades já caminhava sobre a água.
Voamos para cima do peito dele de novo. E, mais uma vez fomos atingidos. Com o canto do olho vi Hades já no ar, perto do Kraken, erguendo a mão para um golpe. Isso me fez não soltar o selo, e segurá-lo com mais força ainda. Thiago também não o soltou. Fiz uma ultima e desesperadora tentativa. Convoquei o mar, que subiu com grande força, e nos arremessou para cima de novo. Eu e Thiago conseguimos cravar a espada perto do selo, ficando eu de um lado e ele do outro, ambos dependurados.
_ MORRA! - gritamos e cravamos o selo no peito do Kraken.
Aquilo se desfez, não era mais madeira, mas agora pura energia, que, quando encaixou com o selo do peito do Kraken, fez uma explosão em forma de anel, nos arremessando para longe. O mar nos pegou mais uma vez, e logo eu me pus de pé na praia e comecei a observar de novo.
_ Ainda não acabou! - gritou com ódio Joe, e ele sumiu em uma fumaça negra.
O Kraken se debateu, o selo brilhava. Ele começou a derreter, e deu seu último guincho de ódio, antes de sumir para sempre.
_ Hmpf - resmungou Hades. - eu poderia acabar com vocês agora mesmo, mas você e seu futuro me interessam... Vocês são seres humanos um pouco menos insignificantes, algo em vocês me intriga, e acho que logo logo vou descobrir o que é, e, quando isso acontecer ai poderei acabar com vocês. - Ele deu uma última risada e sumiu novamente.
Caí de joelhos. Tinha acabado, quer dizer, praticamente, mas agora estávamos muito mais perto da vitória. Nos abraçamos, e nos parabenizamos.
      _ Você realmente cumpriu sua promessa - disse Rachel.
      _ É, é o que cavalheiros e bons garotos devem fazer.
    _ Ei, os dois pombinhos - disse Arthur. - Temos que voltar para Roma, talvez ainda precisem de nossa ajuda lá.
   Quando voltamos para a cidade, a guerra já havia acabado. E os campistas haviam vencido.
Thiago já havia me contado sobre Ethan, e eu contei a ele sobre Laio, mas agora devíamos esquecer aquilo, tínhamos vencido!
O exército olhou para nós com apreensão enquanto pousávamos. Alfeu olhou para mim. Fiz um sinal de positivo com a cabeça. Ele sorriu e uma onda de aplausos começou.
Arrumamos as coisas e voltamos cada um para seu país e acampamento respectivo. Esse tinha sido um dos melhores verões da minha vida. Não, o melhor verão da minha vida.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012



Φ  Capítulo XIX - Resolvo um assunto com uma velha amiga – Gabriel








Lá estava ela: a dracaenae. No topo da colina, com seu olhar com mais ódio que da outra vez em que nos vimos. E suas espadas muito mortais estavam lá com ela também.
Ela sibilou.
_ Essstava esperando por esssse momento com muita ansssiedade.
_ Bom _ disse eu. _ eu não queria te matar, mas já que você insiste...
Ela espumou de raiva e veio para cima de mim. Se ela fosse uma humana, ganharia do Usain Bolt fácil, ela cruzou os cem metros que nos separavam em uns cinco segundos, isso desviando de todos que estavam em seu caminho.
Ela atacou. Defendi e minha espada encontrou a dela. Plín!  Ela atacou com a outra e eu defendi também.
_ Não vou deixar isso encostar em mim de novo! _ exclamei. _ Você teve sua chance quando me pegou de surpresa em relação à força dela, mas não aproveitou, agora, nem adianta tentar.
Ela sempre atendia às minhas provocações, ficava com mais raiva, e mais descuidada em seus ataques também. Tudo o que eu queria. Mas eu teria de acabar com ela em um golpe certeiro, pois um que eu acertasse e não fosse fatal, ela recobraria a sanidade e fecharia sua guarda novamente.
_ Sua mão devia ser uma cobra cega paralítica! _ provoquei.
E mais uma vez ela atendeu e atacou com um golpe com as duas espadas, eu desviei e pus o pé em sua “perna” fazendo ela cair.  Eu a golpeei em pleno ar, espetando a espada para baixo, mas, em um reflexo, ela girou e defendeu. Tudo isso em um piscar de olhos.
Ela ficou precavida de novo, não atacava mais sem pensar. Não atendia às minhas provocações mais, estava mais rápida, e defendia melhor. Eu havia perdido minha chance, e, agora eu teria que fazer do jeito mais difícil.
Em um dos golpes, sua espada cortou meu braço, só de passar raspando, já abriu um corte considerável em minha pele, aquilo ardia, aquelas espadas não eram normais. Eu deveria redobrar o cuidado para não ser atingido.
Investi de novo, ela defendeu e contra-atacou, com o escudo eu defendi e com outro movimento, joguei uma de suas espadas para o alto. Ela caiu ao nosso lado, fincando-se no chão.
  Ela sibilou. A outra espada que antes era negra, agora, tornava-se cinza, como se as duas tivessem que estar na mão de uma só pessoa para terem poder. Mas não fui muito confiante a essa ideia, pois, se o poder dela ainda estivesse ali, e eu descuidasse, morreria em um golpe.
Enquanto eu pensava isso, eu olhei para a espada que estava no chão. Quando fui olhar para cima, aquela visão de um mundo em guerra retornou, mas dessa vez, eu reconheci uma coisa: Joe, meu antigo diretor e mais novo arque-inimigo. Ao lado dele uma mulher ajoelhada com a cabeça para baixo e amarrada. Ele ria, o barulho da guerra continuava.
Quando voltei a mim, eu estava no chão e a dracaenae já estava com a espada rente ao meu peito fazendo um ataque. Defender era impossível naquele instante. A única coisa que podia ser feita era rezar por um milagre.
E, foi mais ou menos isso que aconteceu. A espada, assim que me tocou, se quebrou, comprovando minha especulação anterior de que elas não tinham poder se separadas. A outra, que estava bem ao meu lado, ainda fincada no chão, também se partiu, e a dracaenae ficou sem armas.
Me pus de pé, e ataquei. Ela desviava, e ia recuando, alguns monstros se punham na frente, mas eu acabava com eles facilmente, era o fim dela e ela sabia disso. Ela começou a “correr” se é que podemos dizer assim, fui atrás sem pensar, alcancei ela no topo da montanha, estava tudo muito escuro pois era de madrugada.
Consegui segurá-la pela armadura. Pus a espada em seu pescoço e perguntei:
_ Onde está Joe?
_ Como se eu soubesse... _ respondeu ela com um tom de desinteresse.
Fui apertando a espada, onde a ponta dela perfurou, um pouco de sangue verde saiu de lá. Ela​ gemia de dor. Tirei a espada de lá, e pus no braço, fui cortando lentamente, me senti um torturador naquela hora, não gostava daquilo, mas eu precisava saber onde Joe estava.
_ Tudo bem _ disse ela às pressas _ ele está perto de Fiumicino, está na praia.
Então  eu tirei a espada do braço dela e dei um corte fatal, ela foi virando pó e deu seu último grito de ódio.
Voltei para o meio da batalha, chamei Athur.
_ Temos que sair daqui _ eu disse a ele.
_ Por que? Ir para onde então?_ perguntou ele.
_ Acabei de descobrir onde Joe e o Kraken estão, é em uma cidade aqui perto, ele está no litoral, provavelmente com o Kraken.
Ele fez um sinal e Rachel veio para junto de nós. Contei tudo a eles e avisamos Alfeu.
Ainda bem que os pégasus estavam lá ainda. Montamos neles e rapidamente chegamos no litoral. Estava amanhecendo, e, assim que descemos, eu vi uma das coisas que mais me deu medo na vida: o Kraken.