Φ Capítulo XVIII: Luto com um monstro “7 em 1” Thiago Φ
Eu estava muito, mas muito mesmo
querendo rir da cara de Gabriel, ele ficara vermelho de ciúmes. Mas
naquele momento, não era lá a situação, já que tinham apenas
três dragões nos perseguindo.
A todo momento eu sentia
labaredas esquentando minhas orelhas, e elas só não me queimavam
inteiro porque Nidhogg se desviava. Estávamos muito rápidos, atirar
flechas não daria certo, o vento era muito forte, iria nos deixar
completamente sem mira.
Nidhogg estava cansando, afinal,
ele havia voado da Rússia até o Egito, depois até Roma, tudo isso,
com uma pequena quantidade de descanso, isso cansaria qualquer um.
Um dos dragões voava abaixo de
nós, ele estava querendo tomar a nossa frente para nos encurralar.
Foi quando tive uma ideia. Abaixei o mais próximo do ouvido de meu
dragão, disse-lhe para ficar atento a mim, e me pegar se alguma coisa
desse errado. Ele bufou afirmando que sim. Então, eu me soltei dele,
e caí, e, como eu pensava, nas costas do dragão. Me segurei o mais
que pude, ele se remexia, virava de cabeça para baixo, mas eu não
soltava.
Todo dragão tem um órgão
dentro da garganta, que é o que garante fogo a ele, e é um dos
órgãos vitais. O mais fácil de ser golpeado em um dragão. Então,
eu peguei alguns ganchos para escalada que eu tinha na minha mochila,
amarrei uma corda, finquei nas costas do dragão e me dependurei.
Meu braço não alcançava, e eu
estava dependurado. Fui me balançando, o que não era fácil devido
ao vento, que em um dos meus balanços, quase me jogou direito na
boca do dragão.
Eu estava cada vez mais perto de
alcançar sua garganta. Depois que esse órgão é destruído, o
dragão tem mais alguns minutos de vida, e não mostra resistência
quando alguém tenta domá-lo, portanto meu plano era o seguinte:
depois que eu o condenasse à morte, eu voltaria às suas costas e
voltaria à Nidhogg.
Seria o plano perfeito, se, na
hora que eu perfurei sua garganta, ele não tivesse dado um giro, me
lançando de suas costas. Mas eu o tinha acertado, fogo com sangue
caía dele. Menos um. E, dei um grito e rapidamente Nidhogg me pegou
em pleno ar. Agora, faltavam dois, não, um. Eu estava vendo só um.
— Ei — protestei. —
Cadê um dos dragões?
— Acha que agente ficou só
te olhando? — perguntou Ethan.
Peter assentiu.
— É cara, o Ethan acertou
uma bomba que era ponta de uma das flechas bem na boca do dragão
que, sem querer, a engoliu.
— E por que eu não vi a
explosão?
— Porque ela não atravessou
sua pele — disse Ethan. — Mas foi o suficiente para matá-lo.
Eu
ia falar mais alguma coisa, mas meu dragão de estimação fez um
loop
e nos
deixou cair. Assim que terminou o loop
ele
estava cara a cara com o último dragão. Ele fez espetinho dele com
apenas uma baforada. Então, veio nos buscar de novo.
— Boa manobra, garoto —
disse eu.
_
Grr —
“disse”
ele alegre.
Nós estaríamos congelando se
Nidhogg não mantivesse sou corpo quente constantemente. Eu estava
esperando que Nidhogg nos levasse para o lugar certo, ele era o único
que poderia nos levar lá, afinal, nem eu nem meus amigos jamais
estivéramos no... como é mesmo o nome onde a Medusa ficava? Ah,
sim, Tártaro. Eu ainda estava me acostumando à esses termos gregos.
Voamos por toda a noite, e, ao
amanhecer, Nidhogg pousou perto de uma montanha. Ele ficava batendo a
pata nela, como se tivesse alguma coisa nela.
Resolvi ver, e, assim que eu
toquei em uma pequena saliência, um pedaço de rocha se mexeu e deu
passagem à um túnel. Com certeza Nidhogg não cabia lá, mas ,
assim que chegamos ao final desse túnel, lá estava ele bem atrás
de nós.
O túnel nos levou a uma grande
caverna, onde haviam muitas pessoas andando, sentadas, lendo jornais.
Havia também uma fila, até onde podia ver-se um precipício O que
todas aquela pessoas faziam lá? Eu até tentei perguntar, mas elas
nem ligavam para mim. Coisa que eu não entendi até observar bem uma
delas. Eu podia ver através delas. Elas na verdade, eram fantasmas,
esperando pelo barqueiro para levá-las ao tártaro.
Fui até a beira do que eu
achava que era um precipício, mas, na realidade, era um rio negro,
que passava por ali. Ouvi um sino, ao longe, na névoa densa que
cobria o rio.
De repente, uma pequena luz, de
um lampião preso à proa de uma pequena embarcação, surgiu no
meio da névoa. Assim que ela apareceu toda, vi um esqueleto, coberto
com uma capa preta estava remando, guiando o barco.
Então, ele parou onde a fila de
fantasmas estava. Alguns foram embarcando eu tentei também, mas ele
me impediu e estendeu a mão. Queria pagamento. Mas é claro! Para
isso tínhamos pegados algumas... nossa, como estou ruim de nomes
gregos. Ah, sim, algumas dracmas. Moedas de ouro que os gregos usavam
para pagar várias coisas, inclusive uma viagem ao sub-mundo. Peguei
três dracmas e dei a ele. Nidhogg tentou entrar, mas ele impediu
novamente, mostrando dois dedos para mim.
Entendi o que ele quis dizer:
Nidhogg custava duas dracmas para ir, acho que porque ele era meio
grandinho e um pouco gordo também.. Embora eu achasse que assim que
meu dragão entrasse no barco ele afundaria, eu dei as duas dracmas
ao barqueiro. Nidhogg entrou, além de caber naquela minúscula
embarcação, ele não a afundou, claro que para ele sentar teve de
esmagar alguns fantasmas, mas eles não reclamaram.
_ Medusa _ eu disse.
O barqueiro estremeceu, como se
tivesse entendido o que eu dissera. Fomos
adentrando em meio à névoa, até que uma grande luz no fim do túnel
apareceu. Na hora eu lembrei de uma frase: quando
estiver morrendo, nunca, nunca vá na luz do fim do túnel. Acho
que agora eu descobrira da onde essa frase foi tirada.
Assim que chegamos à luz, o rio
não estava mais no chão, ele ficava no ar, e ia fazendo vários
caminhos, um deles, o maior, era o principal e levava até três
grandes portões.
Abaixo de nós, um grande lago
de lava, com algumas pedras flutuando, mas eu tinha certeza que tinha
poucos momentos de existência, pois logo, seriam derretidas pela
lava, ou seja, nada de cair.
No rio, passavam alguns objetos
passavam flutuando ao nosso lado. Era o rio dos sonhos perdidos,
frustrados, nunca realizados. Cada coisa daquela, era um sonho de uma
pessoa que agora estava morta. Aquilo me fez arrepiar a espinha.
Quando olhei uma das subdivisões
do rio, ela dava a um palácio, muito, mas muito grande. Mas sua
fachada, não era das mais bonitas, tinha um jardim, com flores
murchas, e árvores mortas. Mas o palácio em si, era bonito, quer
dizer, da maneira dele, era bem limpo, brilhava até, era normal, se
não contarmos os pontos de terem “porta-tochas” feitos de ossos
humanos, e os detalhes serem todos de ossos também. Ele era todo
branco, mas um branco já desbotado, o que deixava um ar de
mal-assombrado, embora estivesse bem cuidado.
Graças aos deuses passamos
direto e não descemos naquele palácio. Podia jurar que vi uma
mulher cuidando dos jardins, embora fosse inútil pois eles estavam
mortos.
Fomos mais um pouco, até que
paramos em frente à uma caverna. O barqueiro fez um sinal com a mão
e nós descemos, ele acenou se despedindo, com expressão triste, não
sei dizer se era por causa do serviço dele, por ele não gostar de
ficar levando pessoas mortas pra lá e pra cá, ou por causa de nós,
por achar que nós iríamos morrer e que ele não ganharia mais cinco
dracmas para nos levar de volta.
Assim que descemos, sacamos as
armas. Um cheiro horrível saiu lá de dentro. Era horrível demais. O cheiro era como se o esgoto tivesse se perfumado
com um exército de gambás, e tivesse comido alguns queijos podres,
quando eu digo alguns, eram algumas toneladas.
Tive que respirar pela boca,
logo depois que adentramos um pouco, pois a partir dali, se tornara
um cheiro insuportável. Eu até descreveria, mas teriam de existir
mais umas duas mil coisas muito fedorentas no mundo para chegar perto
do que eu estava sentindo.
Minha
pele começou a secar, o ar foi ficando meio verde. Quando estávamos
perto de uma porta, o ar poluído fez um pequeno corte em meu rosto.
Tentei respirar pelo nariz, mas foi como esvaziar uma garrafa d'água
dentro dele, aquilo ardeu muito
o
que fez eu me arrepender na hora.
Assim que pisamos dentro do
local onde a porta dava, um barulho horrível, como se uns 10 dragões
guinchassem ao mesmo tempo. Eu errei por pouco. Assim que olhei para
um lado escuro, vi surgir sete cabeças de dragão.
Isso já tinha me surpreendido,
o que sete dragões estariam fazendo ali? Seriam os guardas da
medusa? Mas o que mais me surpreendeu, foi o fato de essas cabeças
estarem ligadas a um só corpo. Esse nome, Peter fez o favor de me
lembrar:
_ Hi...Hi _ ele gaguejou. _
Hidra.
_
Aquela Hidra
? _ perguntei eu com esperança de que fosse apenas um apelido para
algum bichinho inofensivo.
Peter fez que sim com a cabeça.
A Hidra, era um monstro muito
grande, do tamanho de um ônibus, toda verde, meio acinzentada, com
escamas grossas. Sete cabeças, sendo que a do meio, a maior, mais
forte e robusta. Garras afiadíssimas em todas as quatro patas do
tamanho de um pneu de ônibus cada uma. Uma cauda com um ferrão na
ponta, que parecia que atravessaria blindagem de tanque facilmente.
Sacamos nossas armas. Não
esperávamos por aquilo, não podíamos demorar, muito menos nos
ferir, pois logo a frente, teríamos de enfrentar medusa.
A hidra soltou um gás da boca,
mas ele não era totalmente gasoso, estava meio líquido também. E,
aonde aquele líquido caiu, até as rochas corroeram.
Ótimo
_ pensei
_ um monstro com
sete cabeças, que cospe ácido. Era tudo o que precisávamos antes
de enfrentar um outro que só de olhar você vira pedra.
A situação não era nada
animadora, as sete cabeças atacavam ao mesmo tempo, o que tornava
muito difícil defender ou esquivar. A cada ataque, suas bocas
passavam mais perto de nos morder.
Até que resolvi fazer a coisa
mais idiota do dia: cortar uma das cabeças. Assim que ela investiu
de novo, eu cortei, na altura do pescoço, a cabeça que veio para
cima de mim.
A hidra guinchou, um pouco de
líquido verde escorreu de lá. Mas, rapidamente, duas tomaram o
lugar daquela. Como eu havia me esquecido dessa parte? Essa parte
assim, sem importância, só uma das principais características da
Hidra. Mas havia mais alguma que eu não estava conseguindo lembrar,
mas o monstro me fez esse favor.
A cabeça principal cuspia fogo,
e, todo o gás que ficara no ar devido às suas baforadas anteriores
de ácido, se inflamou e pôs fogo em todo o local onde estávamos,
quase nos assando vivos.
_ É isso! _ exclamei.
Peter e Ethan me olharam com uma
cara desconfiada e sem entender nada.
_ Nidhogg, assim que eu cortar
uma cabeça, você põe fogo no local, para cicatrizar e impedir que
nasça outras duas.
Ele assentiu.
Então, parti para cima, desviei
de dois ou três ataques e cortei uma cabeça. Nidhogg, no mesmo
momento, pôs fogo naquele pescoço, que cicatrizou na hora, e não
nasceram duas cabeças naquele lugar. Agora, faltavam mais sete.
Nós três atacávamos, para
chamar a maior atenção possível, e, assim que possível, cortar
mais uma cabeça. Aí, Nidhogg entrava em ação e fazia sua parte.
Eu estou narrando assim, como se
fosse fácil, mas, na verdade, só conseguimos cortar mais duas
restando cinco ainda. A cabeça principal, se irritara, e seu fogo
era praticamente constante, nos dando um intervalo muito pequeno para
atacar. Tempo insuficiente para conseguir arrancar mais uma cabeça.
Estávamos perdendo tempo, não
podíamos demorar. Havíamos deixado Gabriel, Rachel, Arthur e Laio
sozinhos contra um exército, mais uma criatura lendária que podia
derrotar tudo e todos.
Tentamos várias coisas, nos
separar e atacar cada um por um local, todos pelo mesmo, tentamos até
fazer ela acertar a si própria com o fogo. Mas nada deu certo.
Aquilo era frustante e desesperador. Como eu derrotaria Medusa se não
dava conta nem mesmo de seu guarda?
Foi quando tive uma ideia.
Percebi que a Hidra era bem lenta para se locomover, e Nidhogg era
bem rápido. Então, eu me aproximei dele e contei meu plano.
_ Ei, pessoal _ chamei. _ Subam
em Nidhogg, AGORA!
Eles
não discutiram, rapidamente, lá estávamos nós nas costas dele e
voando para a próxima porta. A partir daí, meu plano deu errado. A
hidra era muito
rápida. E se pôs à nossa frente antes mesmo que chegássemos à
porta. Então Nidhogg subiu, para não bater na hidra. Foi quando eu
tive outra ideia. Peguei um escudo e me soltei dele enquanto ele
subia mesmo.
Coloquei ele na minha frente em
quanto caía, me protegendo do fogo, e, assim que cheguei na altura,
espetei minha espada no pescoço da cabeça principal, e o rasguei em
dois. Mas, a cabeça do meio era imortal, não adiantava arrancar,
queimar, cortar, explodir, fatiar. Nada. Então, logo ela começou a
se regenerar, mas era lentamente, o que nos dava prazo para tentar
arrancar as outras cabeças.
Tínhamos cinco minutos? Três?
Talvez menos. Não sabíamos, mas estávamos agindo o mais rápido
possível. Eu cortei uma e Nidhogg a selou.
Peter uma, e Ethan uma. Restavam duas: a principal, que acabara de
se regenerar, e mais uma que estava espumando de tanto ódio.
Agora o fogo era incessante, e,
com a ajuda da outra cabeça que restara, ele era mais forte ainda,
devido aos cuspes ácidos. Tentei ir com a mesma estratégia de ir
defendendo o fogo com o escudo, mas, ele era muito forte. Fui lançado
sobre uma pedra.
Se
pelo menos o filho de Poseidon estivesse aqui... Não, eu tinha
que me virar, não podia ficar dependendo tanto dos outros assim.
Convoquei toda a força que
havia em mim, e atirei a espada, e, para a minha surpresa, ela
resistiu ao fogo e atravessou a garganta da cabeça principal,
cessando o fogo. Peter e Ethan foram logo para cima , cortando a
última cabeça o mais rápido que eles puderam.
Eu sabia que a última cabeça,
se eu a arrancasse, iria apenas “colar” de novo, não iriam
nascer duas no lugar. Então, puxei minha espada de seu pescoço, e
arranquei aquela cabeça. Ela caiu no chão, e logo, seu pescoço a
procurava. Tratamos logo de sair dali.
Fomos adentrando em um túnel,
com um diâmetro bem grande, pois Nidhogg cabia lá folgadamente.
Fomos indo, e um som fez minha espinha arrepiar: uma risada. Mas não
uma risada normal, como se uma mulher tivesse engolido uma cobra e
agora estivesse rindo.
Chegamos
a uma ante-sala, um local bem bonito até, com um tapete vermelho que
levava à uma porta menor. Essa sala, se pudesse falar diria isso:
Olá! Seja bem
vindo! Aproveite o passeio, na sala adiante, está sua morte!
Qualquer dúvida dirija-se à senhora Medusa.
Nidhogg
teve de ficar lá nessa sala de espera “lendo algumas revistas”,
além de ele não caber na porta, (uma coisa que não seria
problema, pois era só ele arrancar tudo e abrir seu espaço) ele não
seria de muita ajuda, pois, com certeza olharia nos olhos mortais da
medusa, e, eu não queria ter de levar uma estátua de dragão de
vinte toneladas para casa. Ele choramingou mas acabou aceitando,
depois de eu prometer que daria uma recompensa para ele no final. Eu
acho que ele iria querer um cheeseburger.
Isso mesmo! Um cheeseburger não, um caminhão. Eu tinha o único dragão que gostava de lanches
do Mac'Donalds. Era a comida preferida dele.
Mas,
voltando ao assunto principal, nós entramos naquela porta, e, ela
deu numa caverna, muito grande e sombria. Lava corria abaixo de nós,
mas, bem abaixo,
aquilo parecia o grand
cannyon, só
que em vez de um riozinho em baixo, um grande lago de lava. Tinha
apenas alguns caminhos acima, sustentados por finas colunas de terra,
que pareciam que iam desmoronar à qualquer momento. Fiquei feliz por
Nidhogg não ter vindo, afinal, ele estava um pouquinho acima do
peso máximo permitido, tipo, uma 19,9 toneladas à mais.
Andamos um pouco por esses
caminhos e estátuas começaram a aparecer, de pessoas, monstros, de
tudo um pouco. Alguns tinham feições apavoradas, outras de
surpresa, alguns nem tinham, foram arrancadas, como se a Medusa não
tivesse gostado daquela. Mas todas me davam medo.
Mais à frente, havia um trono,
mas ele estava vazio. Ela sabia que estávamos lá.
Mais uma risada, e eu pressenti
algo e rolei, desviando-me de uma flecha certeira.
_ Aaah _ Ela berrou às minhas
costas. _ Como você viu? Bem, não importa, já, já vocêssss serão
maisss algumas essstátuasss de minha coleção. _ ela riu.
_ Cabeças abaixadas! _ gritou
Ethan. _ Olhem apenas para o chão, resistam à tentação!
Foi quando percebi que meu
escudo havia perdido todo o polimento por causa do fogo da Hidra, e
agora não refletia mais nada. Como eu veria a Medusa agora? Hora do
plano B: meu celular. Ainda bem que ele tinha a tela bem grande, me
dando uma visão razoável.
Mais um som de flecha zunindo no
ar. Dessa vez, passou raspando na cabeça de Peter. Vi que ela tinha
veneno. Peguei uma lança nas minhas costas, fechei os olhos e
atirei.
Ela soltou um guincho horrível
de dor. Eu a havia acertado. Então, vi a lança caindo na lava.
Saquei a espada e fiquei de olho
só no reflexo do meu celular. Agora, tenho de fazer um
agradecimento à Ethan, pois, nesse momento, ela parou bem na minha
frente, e, eu já estava levantando o olhar quando Ethan pôs a mão
sobre meus olhos, um instante antes de eu virar pedra.
Peter, vendo a situação,
golpeou às cegas e a cortou. Ela rastejou para algum outro canto.
Mais flechas, mas conseguíamos desviar ou defender. Então ela
partia para o corpo à corpo, sempre nos tentando fazer olhar para
seus olhos, mas resistíamos e estávamos mais atentos agora. Senti
sua cauda passando em minha perna e espetei a espada nela. Ela tentou
se livrar, mas estava bem presa. Peguei uma pequena adaga que
carregava, e, pelo reflexo do meu celular, golpeei, mas ela desviou
por um centímetro, eu até arranquei algumas cabeças de cobra de
seu cabelo.
Ela se livrou da espada e se
escondeu de novo. Ela era rápida, se esgueirava por pedaços de
coluna que haviam lá, por baixo de nós, pelo teto. Sempre atirando
flechas e, de vez em quando, se aproximando para tentar nos
transformar em estátuas. Sempre a feríamos um pouco mais e ela
recuava.
Em um ataque à distância, ela
acertou a flecha em meu celular, e , por muito pouco, não acertou
minha mão também. Eu era praticamente um peso morto nessa luta,
agora que não podia vê-la.
Mas ela cometeu dois erros: me
subestimou e teve excesso de confiança. Ela se aproximou por trás
de mim, sendo nada sorrateira, então eu a ouvi e virei dando um
golpe certeiro. Arranquei sua cabeça.
Peter, com a ajuda de seu escudo
refletor, jogou um pano sobre a cabeça, e fizemos esse pano de
sacola provisória.
Agora eu observei melhor o corpo
dela: era um corpo de mulher, só que cheio de escamas, e tinha uma
cauda longa, de uns três metros. Seu arco estava caído lá também,
mas resolvi nem mexer, vai que tivesse uma maldição ou algo do
gênero.
Saímos
de lá, voltamos à sala onde Nidhogg estava e o pegamos também. Ele
me olhava com uma cara de:
não se esqueça dos meus cheesebugueres.
Quando
chegamos à caverna da Hidra, lá estava ela de novo, com sua única
cabeça, e com mais ódio que nunca, mas dessa vez, ela não deu
trabalho. Eu só apontei a cabeça da Medusa para sua cabeça, e, é
claro que ela olhou e logo virou uma estátua. Logo depois disso, um
símbolo em seu peito brilhou e a estátua virou pó. Nidhogg nos
levou voando até a saída, então, economizamos cinco dracmas.
Tínhamos de voltar o mais rápido possível. Acho que tínhamos
passado uns dois dias lá dentro, pois o tempo no sub-mundo é
diferente do mundo normal. Eu estava cansado e com fome, mas
resolveria isso assim que chegássemos à Roma.
Depois de voarmos uma meia-hora
em silêncio, Peter suspirou e disse:
_ Eu... Eu não posso deixar
você simplesmente levar essa cabeça lá e derrotar Kraken. Sinto
muito.
_ O … O que? _ perguntei eu
perplexo.
_ Exatamente o que você ouviu.
_ disse ele pulando para cima de mim.
Nós dois caímos e lutávamos
no ar. Nidhogg já nos alcançava. A mochila onde estava a cabeça da
Medusa se soltou das minhas costas e caiu.
_ Pega, Nidhogg! _ gritei eu.
Então ele mergulhou e logo
estava com a sacola na boca. Eu continuava a lutar com Peter, em
plena queda livre. Tínhamos uns dois minutos até espatifarmos no
chão.
_ Mas, mas por que? _ perguntei
melancólico.
_ Não tem como vocês vencerem,
nem os deuses podem derrotar Kraken, e, eu quero ficar vivo depois
disso.
_ Mas você não vai sobreviver
nem à essa queda!
_ É o que você pensa. _ Disse
ele abrindo um para quedas improvisado.
Então, Nidhogg foi rosnar e
deixou a mochila cair. Eu a segurei, mas ela estava aberta e a cabeça
caiu, fora do pano, totalmente à mostra. Eu a segurei pelos cabelos,
e, no movimento de colocá-la de volta, pus a face voltada para cima,
e, Peter olhou diretamente nos olhos.
_ Não! _ eu gritei enquanto
Peter se transformava em apenas uma estátua sem vida.
Ele riu, e foi assim que ele
terminou de se transformar. Agora era apenas uma estátua caindo de
para quedas, e, por falar em caindo, eu ainda estava caindo em queda
livre! Estava a uns cinquenta metros do chão quando Nidhogg me
segurou.
_ Boa garoto _ eu disse.
Então, olhei para a estátua
até ela se espatifar no chão.
_ Vamos _ disse Ethan à
Nidhogg. _ Não temos tempo à perder.
Assim, voamos até o litoral da
Itália, onde uma coisa nos chamou a atenção, logo ao amanhecer: um
monstro do tamanho de um estádio de futebol, com tentáculos
humanóides de uns cem metros de comprimento cada, isso para jogar
baixo, porque eu acho que tinha bem mais.
E, lá em baixo, bem à frente
do monstro três pessoas que logo reconheci: Gabriel, Rachel e
Arthur.