Φ Capítulo VI : Luto em uma guerra – Gabriel Φ
Em
Lima, procuramos um hotel e nos hospedamos. Lá, fizemos o
levantamento de como estavam os nossos suprimentos. Tínhamos pouco.
Teríamos que comprar mais coisas.
— Não teríamos que voltar para aquela cidade em que entramos no
labirinto? —perguntou Arthur.
— Temos. — respondi — mas temos que comprar suprimentos
primeiro. E, depois, descobrir aonde é aquela cidade.
Saímos
do hotel e andamos pela cidade, onde compramos remédios, comidas, a
até água. Voltamos para o hotel ao anoitecer.
— Temos de ir o mais rápido possível — disse eu — vamos
amanhã de manhã de avião.
— Não — discordou Rachel — temos de ir por terra.
— Por que? — perguntei eu — não podemos perder tempo!
— Simples. Pode ser que o que seu pai queria que fizéssemos não
fosse aonde estávamos mas talvez em outro lugar.
— É considerável — disse Arthur — é um raciocínio lógico.
— Vamos por terra então — enfatizou Rachel.
Fomos
dormir. Eu e Arthur em um quarto e Rachel em outro.
O
hotel em que estávamos era simples, porque, por mais que tivéssemos
uma ajudinha divina, alguém iria achar estranho três crianças
sujas e sozinhas dormirem em um hotel cinco estrelas.
O
quarto em que estávamos tinha as paredes cobertas por um papel da
parede de flores. Haviam duas camas de solteiro com colchões finos e
um pouco rasgados. O piso era branco, mas todo sujo. Havia um
banheiro com uma pia, uma privada e um chuveiro. Era iluminado por
lâmpadas incandescentes fracas. Tinha uma janela que dava para uma
quadra esportiva. Tinha uma pequena cômoda com uma bandeja com
algumas comidas em cima. Havia um telefone que era para ligar para a
recepção. Tudo muito diferente do que eu vira até agora.
Enquanto
dormia tive outra empatia espectral. Nela, fui para o palácio de meu
pai. Ele estava sentado em seu trono.
— Pai — chamei — aonde nós devemos ir agora?
Ele
pareceu não me escutar. Parecia que ele estava brigando com alguém
que eu não podia ver. Pouco depois, eu mudei de lugar.
Agora
estava em uma caverna. Lá dentro tinha um homem sentado em uma
cadeira de pedras. Ela parecia um trono. Ao lado dele estava um
centauro.
O
homem, aparentava ser de idade avançada. Uns 50 anos. Seus cabelos
eram brancos espetados para cima. Um de seus olhos era tapado por um
tapa olho. O outro, era cinzento, com uma expressão de ódio. Tinha
uma barba rala branca. Usava uma camisa xadrez branca e um sobretudo
preto. Usava uma calça marrom, daquelas de exército com uns 100
bolsos, e um sapato preto. Usava luvas de iam até a metade dos
dedos. Em sua cabeça tinha uma boina preta.
O
centauro era metade um cavalo negro. A outra metade era a de um homem
também negro. Seus cabelos eram raspados. Não tinha barba e estava
sem camisa. Em suas costas tinha um arco e várias flechas. Eles
conversavam.
— Nosso esquadrão foi aniquilado, senhor — disse o centauro.
— Maldição! — Disse o homem — já começamos a perder a
guerra! Rápido, envie um novo esquadrão, dessa vez não falhe!
— Sim... sim senhor!
— Antes de você ir, o que foi que os derrotou?
— Segundo um sobrevivente, três crianças.
Eu
fiquei gelado. Descobri que o esquadrão de quem falavam era o que
tínhamos acabado de derrotar. E que eles mandariam outro para o
mesmo lugar. O que haveria lá? De que guerra eles falavam? Eu não
tinha visto nada enquanto estivera lá. A conversa continuou.
— As mesmas que estão vindo para cá em uma missão de nos
derrotar? — perguntou o homem.
— Sim senhor. — disse o centauro.
Gelei
mais ainda. Quem mandara o esquadrão fora o semi-deus que eu teria
de derrotar. Ele já sabia sobre nós. Mas como?
— Acho que as subestimei. — disse novamente o homem —
Preparem postos de defesa, pois eles tem o fio e logo virão para cá.
Pegue duas cópias do fio e vá para dois locais : o acampamento
miserável de semi-deuses e para a guerra. O que vai para a guerra
tem que ser três vezes maior e mais forte que o anterior pois eles
vão encontrar com as três crianças no caminho. Agora, vou invocar
meu novo exército. Com licença.
— Sim senhor. Estarei esperando para atacarmos.
Enquanto
o homem saia da sala eu acordei. Arthur ainda não tinha acordado.
Peguei o celular e liguei para Alfeu.
Expliquei
tudo a ele e pedi que mandasse reforços para onde estávamos. Ele
disse que mandaria todos os filhos de Ares, metade dos filhos de
Hefesto, entre eles Laio e Hugh. No total, uns 50 semi-deuses.
Acordei
Arthur e Rachel e contei tudo a eles.
— Temos que voltar para lá imediatamente. Esqueça o ônibus. O
que me intriga é que eles tem outros fios que podem guiar dentro do
túnel. Mas como?
— Não sei — disse Arthur — mas, ao final dessa missão, se
ela for bem-sucedida, descobriremos.
Pegamos
nossas coisas e fomos ao aeroporto. Ainda não sabíamos que cidade
pegar até que tive uma ideia que eu deveria ter tido a muito tempo:
pesquisar na internet a localização da mineradora for life.
Fomos
até uma lan house dentro do aeroporto e entramos em um computador. O
nome da cidade onde ficava a mineradora era Tacna.
O
voo só saia no final do dia. Compramos a passagem e fomos passear
pela cidade. Compramos roupas novas, tênis para eu e Arthur, e um
chinelo para Rachel, fomos ao cinema para nos deixar mais calmos.
Voltamos ao aeroporto à noite e pegamos o avião.
Chegamos
de madrugada e, lá estava ela, quase que totalmente vazia. E, lá
estava também, a mesma mulher que nos levara ao labirinto. Saquei
minha espada e cheguei por trás dela. Golpeei-a, mas, o golpe não a
feriu, e onde eu ataquei, por baixo das roupas, tinha uma armadura.
Quando
ela sentiu o golpe, ela começou a se transformar, sua pele foi se
enchendo de escamas, ficando verde, ela se virou para mim, e seus
olhos eram iguais aos de uma cobras, sua língua também. Ela crescia
um pouco fazendo com que suas roupas rasgassem e sua armadura
aparecesse por completo. As pernas se transformaram em uma cauda de
cobra cada uma. Sua armadura era de couro, mais parecia um colete à
prova de balas pois ia apenas até a cintura. Seus cabelos passaram
de loiro a um preto esverdeado. Era uma dracaenae.
Ela
retirou duas espadas de uma bainha e veio para cima.
— Vocêsss de novo? — sibilou ela com uma voz muito diferente da
primeira vez quando era uma jovem moça — agora não vou deixar
vocêsss passsarem. Vocêssss sssserão meu jantar!
Aquilo
me revirou o estômago. Rachel foi a primeiro a atacar. Atirou uma
flecha . Mas ela parou na armadura. Atirou outra e , para a minha
surpresa, ela segurou-a com uma mão e a quebrou como se fosse um
pedaço de isopor.
— O que vocês estão esperando? — gritou Rachel — Ataquem!
Aquele
grito me tirou do transe em que estava. Arthur já estava atacando
quando comecei a lutar. As espadas da dracaenae não eram de
ferro ou alguma coisa assim, era de algo diferente, que, pouco
depois, eu iria saber que era mais forte do que as espadas comuns.
Rachel,
que estava com facas na mão, atacou e rasgou um pedaço da armadura
da dracaenae que contra-atacou, rapidamente, as facas de
Rachel se transformaram em um escudo que parou o ataque. Ataquei por
trás, no ponto cego. Ela, de alguma maneira, me viu e atacou, fiquei
tranquilo, pois era quase invulnerável e, por mais forte que fosse o
golpe, o máximo que faria seria uma arranhãozinho.
Como
eu estava errado. A espada dela atravessou minha barriga. Senti-me
tonto na hora. Empurrei-a para tirar a espada dela e soltei minha
espada para por a mão no ferimento. Minha visão embaçava.
Ajoelhei-me ouvi alguns ruídos como se fosses falas.
— Gabriel! — gritava Rachel.
Mesmo
coma visão embaçada, pude ver ela chorando. Caí no chão com o
rosto para o lado. E, antes de eu desmaiar, vi vários vultos
chegando da direção da cidade e alguns correndo para cima de mim.
Aí, apaguei.
— Ai — falei acordando e pondo a mão em minha barriga que
parecia estar enfaixada.
— Gabriel ! — disse Rachel ainda com lágrimas nos olhos. —
você está bem!
— Acho que sim — disse a ela meio embaraçado. — o que eu
perdi?
— Bom, não muita coisa. Quando você desmaiou, nossos amigos do
acampamento estavam chegando. Eles se dividiram para cuidar de você
e para lutar com a dracaenae. Mas ela era boa. Resistiu até
que o outro exército, o dela, chegasse. Agora está acontecendo uma
batalha lá fora.
Eu
estava em uma barraca de lona verde, parecida com aquela dos
hospitais de plantão do exército, eu estava deitado em um
colchonete no chão com Rachel sentada ao meu lado.
— E você está aqui só por mim? — falei.
Ela
corou.
— É, me preocupo por você e, já que alguém tinha que ficar
aqui...
Eu
já não sentia mais dor, acho que por causa de algum remédio
especial que eles me deram. Levantei-me e peguei minha espada e meu
escudo.
— Vamos à luta? — chamei oferecendo a mão para Rachel.
Levantei-a
e saímos. A batalha tinha dimensões muito maiores do que eu
pensava. Rapidamente me juntei a ela e comecei a lutar.
— De onde veio tanta gente? — perguntei eu — lá no
acampamento não tem tanta gente assim!
— Tem vários acampamentos pelo mundo! — disse Rachel — não
só o nosso. Do nosso pessoal só veio Laio, Hugh e os meus
meio-irmãos.
Fiz
uma careta e voltei a lutar. Tinha esfarelado uns 20 monstros quando
avistei a dracaenae. Pensei que se aquela lâmina fizera
aquilo comigo, o que poderia fazer com qualquer outro.
Avancei
para ela. Surpreendi-a e a golpeei na barriga. Minha espada
atravessou toda a sua armadura mas não a feriu muito. Ela sibilou
para mim com uma cara de surpresa.
— Como você esssstá vivo? — disse ela.
— Você acha que aquele golpezinho com aquela sua espadinha que
mais parece de plástico ia me matar?
Isso
a fez espumar de raiva. Ela veio para cima de mim. Aparei seu golpe
com minha espada e ataquei com meu escudo. Ela caiu no chão mas, se
levantou rapidamente.
Criei
um pouco de água e joguei nela em um jato. Ela cambaleou. Pareceu se
engasgar um pouco com a água. Ataquei de novo. Dessa vez, indo para
cima dela. Quando a acertei, ataquei-a imediatamente, acertando-lhe
um golpe direto. Ela conseguira colocar a mão na frente impedindo
que cortasse sua cabeça fora. Três de seus dedos foram cortados,
além do profundo corte em sua palma. Ela não poderia usar mais duas
espadas.
Ela
assoviou e, no mesmo instante, apareceram dois minotauros à seu
lado. Eu tomei distância para pensar na situação. Como poderia
haver dois minotauros?
Ao
longe, vi Arthur e corri até ele.
— Arthur —disse eu arfando — venha me ajudar.
— Com o que? — perguntou ele.
Quando
eu ia responder, um minotauro acertou-me com sua cabeça jogando-me
longe. Arthur pegou suas adagas.
Ele
conseguiu acertar as costas do minotauro, cravando uma das adagas
nela. No momento em que ele retirou, jorrou um líquido preto,
formando uma poça no chão. Ele ajoelhou-se e Arthur atravessou seu
focinho com a outra adaga. E, de novo, um brilho surgiu em seu peito
e ele desapareceu.
Investi
contra o outro. Ele parecia mais ágil. Desviou-se de meu golpe e
contra-atacou. Fui acertado em cheio mas consegui me levantar.
Ataquei de novo. Tive a impressão de que o minotauro rira para mim.
Ele se desviou e atacou com seu machado. Dessa vez me defendi. Rolei
para perto de Rachel que também estava por ali.
— Preciso de cobertura — disse eu agachado.
No
mesmo momento, Rachel colocou sua espada em sua pequena bolsa mágica,
e pegou novamente seu arco. Corri para cima do monstro. Enquanto
corria, escutei várias flechas zunindo em meu ouvido ao mesmo tempo.
Olhei para o minotauro e ele estava com umas 6 flechas em seu corpo.
Tomei
mais impulso e usei as flechas como escada, subindo na cabeça do
monstro. Seus braços eram curtos demais e não me alcançavam. Eu
riria dessa situação, mas estava em um momento um pouquinho sério.
Ele se balançava para me fazer cair, ms eu me segurava firme em seus
chifres.
Precisava
fazer alguma coisa. Não podia ficar ali para sempre. Olhava para os
lados e via uma grande guerra acontecendo e, eu, pendurado em um
monstro.
Juntei
força em minhas mãos e braços e me joguei para cima soltando
minhas mãos dos chifres e enroscando meus pés. Rachel já estava
por trás do monstro e atirou uma flecha em sua perna, fazendo-o
ajoelhar. Usei isso para me equilibrar e ficar de pé. Ele não iria
se levantar de novo. Guardei meu escudo e segurei a espada com as
duas mãos, cravando-a em sua cabeça. Seu peito brilhou e ele
desapareceu.
Procurei
pela dracaenae. Ela olhava para mim com um olhar de extremo
ódio. Dessa vez, ela é que investiu contra mim. Antes que ela
chegasse perto , Algo parecido com uma bola de energia a acertou
jogando-a no chão e fazendo um grande ferimento em sua barriga.
Olhei para o lado e vi Laio com alguma coisa em seu pulso. Algo em
forma de um escudo. Mas não como os escudos normais. Não era
redondo, tinha uma forma triangular, com uma espécie de cano em sua
frente mirando para a Dracaenae. Parecia que aquilo é que atirara.
Ele também empunhava uma espada. Movi a cabeça cumprimentando-o.
Ele também. Levantei-me e fui para a dracaenae.
Mais
uma vez, ela assoviou e apareceu um monstro para ajudá-la. Um
manticore.
O
manticore
era um monstro vermelho, de mais ou menos uns 3 metros. Ele tinha
patas como as de um leão, só que muito maiores. Seu rosto era algo
totalmente diferente do que eu já vira. Tinha olhos apenas pretos,
apenas buracos no rosto ao invés de nariz e seus dentes cortariam um
cabelo ao meio de tão afiados. Seu corpo era grande e peludo. Ele
tinha uma cauda que, na ponta, parecia um cabelo com frizz,
mas eu sabia que aquilo lançava espinhos mortais.
Arthur
e Laio já estavam ao meu lado prontos para combate. O monstro
começou atacando uma saraivada de espinhos que, com meu escudo,
protegi eu e Arthur. Laio se protegera também com um escudo que se
parecia muito com a arma que ele acabara de usar para atingir a
dracaenae. Laio apertou algo no cabo de sua espada e a lâmina
foi se encolhendo e aparecendo na parte de baixo da espada, só que
em forma de cabo. Depois, Laio segurou esse cabo e, o que antes era o
cabo da espada, agora era uma pequena lâmina triangular. Ele
empunhava uma lança. Me surpreendi com aquilo mas não deveria
esperar menos de um filho de Hefesto.
Rachel
contra-atacou com uma flecha de fumaça. Foi uma ideia boa e ruim ao
mesmo tempo. A
parte boa era que o manticore não nos via e acertava flechas
em seus próprios companheiros de batalha. A
parte ruim era que os espinhos dele acertavam nosso companheiros
também.
Parti
para cima pois enquanto ele estivesse na fumaça eu poderia me
aproximar em segurança e, no corpo-a-corpo ele não seria tão bom. Laio
pareceu ter a mesma ideia e correu junto comigo. Cada um por um lado,
atacamos, mas o mostro conseguiu se defender. De mim, com sua cauda e
de Laio com uma das patas. Outra flecha zuniu no ar. Ela acertou a
perna do manticore. Mas não perfurou seriamente. Ele se
recompôs rapidamente e voltou a atacar. Mas dessa vez estávamos
perto demais para atacar seus espinhos.
Quando
pensei que estávamos em vantagem, ele me surpreendeu e me mostrou
que no corpo-a-corpo ele era igual ou talvez melhor do que no ataque
à distância. Ele usava as patas, os dentes, a cauda. Isso era muita
coisa para conseguirmos defender e atacar ao mesmo tempo. Mas, se nos
afastássemos o único que poderia atacar seria Rachel e a mira dela
era um tanto quanto boa.
Arthur
pareceu ter percebido nossa dificuldade, e foi até nós. Ele atacava
e desviava habilmente dos ataques do monstro, dando-nos vantagem
temporária.
O
manticore estava desnorteado e não sabia quem atacar. Achei
que fosse nossa vitória quando Laio saltou para cima dele com a
lança pronta para ser fincada em suas costas. Como
eu estava errado. Ele viu o movimento de Laio e se antecipou,
contra-atacando antes mesmo do ataque dele. Vi apenas um movimento
rápido de sua cauda e Laio caindo no chão. Corri até lá. Seu
escudo estava cheio de espinhos do manticore, mas sua barriga
também tinha alguns. Ele ainda conseguira se defender. Pelo menos
parcialmente. Ele retirou os espinhos de sua barriga e se levantou.
— Você não devia... — disse eu.
— Estou bem — garantiu ele. — vamos lutar.
Ele
pegou seu escudo e acoplou à lança, o cabo se transformou em uma
lâmina e, pouco depois, o que era uma lança e um escudo, agora era
uma espada de duas mãos. Cada coisa do pessoal de Hefesto me
impressionava.
Voltamos
até Arthur que estava distraindo o monstro enquanto eu ajudava Laio.
Mas havia mais alguém com ele que eu logo reconheci: Rachel.
Agora
o time estava completo. Não podíamos perder. Exceto pelo fato de
que outros 2 manticores estavam se juntando à festa.
— Reagrupar! — falei.
Arthur,
Laio e Rachel chegaram perto mim. Enquanto isso, os manticores
se distraíram com a guerra.
— Temos que montar uma estratégia — eu disse — Rachel...
— Pode deixar — disse ela. — Mas, tenho que pensar um
minutinho.
— Não temos tempo! — disse Laio.
— Já sei — disse ela novamente olhando friamente para Laio. —
Vocês três avançamos juntos e eu fico dando cobertura. Quando
chegarmos perto, eu atiro uma flecha com uma bomba de fumaça,
encobrindo-os. Ar partir daí vocês se viram. Mas tem que ser um em
cada um. Ah, e tente fazer com que eles não fiquem lado-a-lado pois
assim, seus espinhos não machucarão seus companheiros, façam com
que eles atirem uns nos outros.
— O.k. — disse eu — mas... e a dracaenae?
— Ela está fraca demais para lutar — disse Arthur. — não
devemos nos preocupar.
Fizemos
a formação e atraímos os manticore. Como imaginávamos,
eles ficaram lado-a-lado. Começamos a correr, sempre mudando de
posição uns com os outros, mas sempre com o alvo fixo. Essa nossa
movimentação confundia os manticores.
— Agora! — gritou Rachel.
E
quase no mesmo momento uma flecha acima de nós e caiu na nossa
frente, explodindo-se em fumaça. Fomos cada um para o nosso alvo,
embora não os víssemos direito. Pulei em um quando ele se preparava
para soltar uma rajada de espinhos. Consegui desviar sua cauda. Seus
espinhos foram para o chão. Dei um golpe de espada na cauda e de lá,
saiu uma grande quantidade de sangue, saindo a pele e a carne,
mostrando dentro da cauda. De dentro da carne ia saindo espinhos que
ficavam armazenados no lugar onde deveria ter um osso.
Quase
caí devido a essa distração. Consegui me segurar. O manticore
não conseguia mais atacar com a cauda, então, eu estava seguro em
suas costas, pelo menos de ataques mortais. Finquei a espada em suas
costas e ele guinchou. Vi os espinhos saindo da onde estavam e
subindo para a pontada cauda. Quando ela fez o movimento de atirar,
eu cortei-a, e quando fiz isso, os espinhos saíram em várias
direções, mas, a maioria, foi para um manticore ao meu lado.
Vários espinhos perfuraram-no. Foi então que eu percebi algo: não
havia ninguém lutando com ele. Procurei freneticamente por alguém
até avistar Rachel caída no chão, ao seu lado, Arthur se
levantava. O que ela estava fazendo lá?
Pulei
das costas do manticore que estava praticamente morto, dei um
golpe fatal em sua cabeça e corri até Rachel.
Ela
estava desacordada, com vários espinhos em seu corpo. Arthur pegou-a
e a levou para a enfermaria correndo. Eu já tinha lágrimas em meus
olhos.
Me
virei para o monstro. Eu sentia tanta raiva que me sentia como se
fosse explodir a qualquer momento. Investi para cima do maticore .
No começo eu estava correndo, mas depois, eu estava sendo carregado
por um pouco de água que eu acho que fora eu que criara.
Perto
dele, pulei para fora do jato d'água que estava embaixo de mim e ele
atingiu o manticore violentamente. Ele cambaleou. Fui para
cima, golpeei com minha espada mas ele se defendeu e me bateu com sua
pata. Fui arremessado. Consegui cair de pé. O manticore já
preparava um ataque.
Ele
balançou sua cauda e os espinhos vieram. Antes que eu pudesse me
esquivar, a água se ergueu à minha frente como um muro e parou os
espinhos. Eu podia ver seu volume aumentar.
Fiz
um tornado d'água que atingiu o manticore em cheio. Corri
para atacá-lo de perto novamente. Dessa vez consegui. Cortei seu
peito.
Mal
eu atacava, e a água já se levantava e atacava também. Ela atacava
de várias maneiras, desde jatos d'água até gelo.
Vi
o manticore
rindo para mim e sua boca desenhando uma fala: ela
está morta. Perdi
o controle da minha consciência e a última coisa que vi foi o céu
se escurecendo e algo como uma grande onda se erguendo.
Acordei
e estava na enfermaria. Pela primeira vez depois de ter liberado a
fonte divina de energia, eu estava cansado. Olhei pelo vão na parede
que tinha ao lado da minha cama e vi várias poças d'água e muitos
monstros caídos no chão. Havia também algumas pessoas do nosso
exército verificando a veracidade da morte dos monstros do exército
inimigo.
Procurei
por Rachel. Ela não estava lá. Devia ter se recuperado e estava
para fora com os outros. Me levantei e cambaleei para fora.
Fui
até o quartel onde eram feitas as estratégias e lá estava Hugh, e
ao lado dele, Arthur, aparentemente chorando.
Quando
ele me viu, eu estava olhando para ele esperançoso, mas, ele olhou
para mim com tristeza e balançou a cabeça em um sinal de negativo.
Seu olhar também me pedia desculpas. Senti as lágrimas emergirem em
meus olhos. Não podia ser verdade aquilo. Meu coração queimava. Saí correndo de lá e fui até a porta do labirinto.
Fiquei sentado lá por um longo. Meus pensamentos não me obedeciam. Eram uma mistura de tudo que fora Rachel para mim, naquele pequeno convívio que tivemos. Seu jeito de ser, sua timidez ao falar comigo, sua destreza na batalha, sua inteligência nas estratégias...
Aquilo não podia ter acabado. Ela não era a filha de um deus? Era assim que terminaria a vida da mais maravilhosa filha de um deus? Uma avalanche estava dentro de mim, arrazando tudo, acabando com toda a esperança... Não sei quanto tempo fiquei ali até que Arthur me chamou.
Aquilo não podia ter acabado. Ela não era a filha de um deus? Era assim que terminaria a vida da mais maravilhosa filha de um deus? Uma avalanche estava dentro de mim, arrazando tudo, acabando com toda a esperança... Não sei quanto tempo fiquei ali até que Arthur me chamou.
Fomos
até uma barraca improvisada. Havia algumas tochas iluminando o
local, pois já era noite. O chão tinha vários tapetes que cobriam
todo o chão. Havia
muita gente lá. E, bem no centro, alguns corpos cobertos por um
pano.
Uma
cerimônia começou. Hugh falava um discurso sobre como as pessoas
mortas foram importantes na vida de todos, mas eu não prestei muita
atenção. Ele terminou seu discurso e os rostos dos corpos começaram
a ser descobertos. Não reconheci ninguém até descobrirem o último
rosto. Era o de Rachel. Estava branco, muito mais do que ela era.
Arthur
apareceu ao meu lado e abriu os braços pedindo um abraço.
Abracei-o.
— Foi culpa minha — ele disse chorando — eu podia ter
impedido.
— Não foi culpa sua — disse eu tentando tranquilizá-lo —
você deu o melhor de si, não se culpe.
Fomos
até Rachel. Todos do nosso acampamento estavam chorando.
Principalmente eu e Arthur.
— hum, hum — pigarreou Hugh nos chamando — vocês devem
partir para concluir a missão de vocês.
— Ah, sim — disse Arthur — com certeza, eu acabo de perder
minha melhor amiga e vou sair assim, sem mais nem menos?
— Calma Arthur — disse eu — sei que está triste, eu também,
mas devemos fazer isso, ou então vamos perder todos os outros.
Arthur
hesitou, abriu a boca para falar, mas fechou-a como se tivesse mudado
de ideia. Ele abaixou a cabeça.
— Quero que Laio vá conosco. — disse eu.
— Ele não pode — disse Hugh — ele tem que ajudar lá no
acampamento.
— Tudo bem então — disse eu — se você quer proteger o
acampamento ao invés do mundo, claro, vá em frente!
— Acho que você me convenceu — disse ele. — Vou avisá-lo e
vocês partem amanhã. Agora, vão dormir pois vão precisar de
energia.
— Não vamos amanhã. — disse eu — vamos depois da cerimônia
de entrega.
— Mas vocês vão perder tempo e...
— Já está decidido. Ficamos até depois da cerimônia.
Hugh
resmungou algo e saiu. Acho que ele havia deixado eu ficar até a
cerimônia.
A
cerimônia de entrega era uma cerimônia que acontecia quando um
campista morria. Os chefes do acampamento pegavam uma espécie de
túnica que todos tinham e a queimavam em sinal de que estavam
entregando o espírito da pessoa morta para Hades e, ao mesmo tempo,
pedindo para que a pessoa não sofresse no mundo inferior.
Ele
não precisou falar duas vezes, me virei e fui para um dormitório de
lona improvisado. Dormi como uma pedra. Quer dizer, enquanto consegui
dormi, pois logo acordei pensando em Rachel.
— Também está pensando em Rachel? — sussurrou Arthur.
— Ah, sim. Você não conseguiu dormir também? — sussurrei de
volta.
— Não. Vou sentir muita falta dela.
— Eu também.
No
mesmo momento pensei em meu sonho quando vi eu e ela numa cadeira de
balanço quando velhos. Acho que era só um sonho, pois se aquilo
estivesse me mostrando o futuro, eu não teria visto aquilo.
— Ela me contou um sonho que teve — continuou Arthur — viu
vocês dois juntos quando velhos. Mas eu acho que era só um sonho.
Pois ela está...
Ele
não conseguiu terminar a fala.
— Espere. Eu também tive esse sonho. Não pode ser só um sonho. É
muita coincidência.
— Não pode ser. É muita coincidência mesmo. Tem algo muito
estranho nisso. Mas, o que importa é que Rachel morreu e esse sonho
não pode se realizar.
Depois
dessa conversa, conseguimos dormir. Eu acordei só na manhã
seguinte. Estava tudo parado. Tudo normal demais para o que eu me
acostumara. Saí
do dormitório e vi que o local estava cheio de poças e estava
embarrado. Estranhei pois me lembro que na luta não havia chovido
nem um pingo d'água e o céu estava sem nenhuma única nuvem.
— Bom dia — disse Arthur.
Sua
expressão era triste, de que ele não estava tendo um bom dia.
— O que aconteceu aqui? — perguntei eu.
— Ah, uma guerra e...
— Não, eu falo dessa água no chão.
— Você não se lembra?
— Não. Por que eu deveria lembrar?
— Por que foi você quem fez isso.
— Eu? Mas, Como?
— Você estava lutando com o manticore e seus olhos ficaram sem
cor, totalmente brancos. Então, uma onda gigante apareceu e começou
a rodar em volta de você. Você estava com os braços abertos. Eu
posso jurar que essa onda tocava o céu. Depois, você a chocou
contra todos e, para a nossa surpresa e sorte, apenas os inimigos
tinham sido acertados e “varridos” do lugar. Acho que foram
jogados para dentro do labirinto.
— UAU!
Esbocei
um sorriso mas lembrei-me de Rachel e rapidamente essa ideia foi
esquecida.
— E agora — disse eu, — o que vamos fazer nesses dois dias
que vamos ficar aqui?
— Não sei — disse Arthur — só sei que vai ser aqui. Sem ela...
E realmente não foi fácil. Os dois dias até que passaram mas foram se arrastando
lentamente, como se o tempo tivesse ficado mais lento especialmente
para nós. A coisa mais legal que fiz foi ficar brincando com a água. algo sem pensar, espontâneo. Finalmente, não que eu quisesse que isso acontecesse mas, a noite da
cerimônia chegou.
Mas,
aconteceu uma coisa inesperada. Todos os corpos tinham sumido. Assim,
evaporado, “puf!”, simplesmente não estavam mais lá. Será que
Hades já os levara? Será que o tempo para fazer a cerimônia era de
dois dias e não mais três? Todos estavam espantados e ninguém
sabia o que acontecera. Todos que perderam amigos e parentes estavam
despontados e desolados, pois não puderam dar um descanso
verdadeiramente em paz.
Na
manhã seguinte, todo o acampamento de guerra fora desmontado e as
pessoas já estavam partindo. Arrumei minhas coisas e, embora não
estivesse com nenhuma vontade chamei Arthur e Laio para partirmos.
Ainda era bem cedo quando saímos daquela cidade. Dessa vez iríamos
direto à Roma, sem paradas nem distrações, da última vez em que
saí do rumo, eu perdera Rachel.
Pegamos
três pégasos enviados por meu pai, ele já sabia da vitória na
guerra e agora queria que a gente fosse para Roma o mais rápido
possível. Ele disse que não poderia nos teletransportar pois estava
distante de nós e, para fazê-lo, deveríamos estar junto dele.
O
meu pégaso era um grande cavalo branco com asas. O de Arthur, um
cavalo malhado, e o de Laio, um cavalo preto.
Eu
achava que voar de pégaso, ainda que na minha imaginação, era um
coisa lenta pois o cavalo cavalgava, só que no ar. Mas, não é bem
assim. Eles viajam muito rápido, a , segundo o meu pégaso, 900
quilômetros por hora.
Sim,
eu disse que meu pégaso falou a velocidade. Os pégasos falam,
pensam, eles disseram que são quase humanos, só são um pouco menos
inteligentes e tem forma de cavalo com asas.
Viajamos
até o anoitecer e paramos em uma cidade na costa oeste da África.
No outro dia saímos bem cedo. Voamos até à tarde sem parar e
pousamos em uma outra cidade.
— Nosso chefe disse para deixarmos vocês aqui — disse o pégaso
branco me descendo de suas costas.
—Mas, porque? — perguntei eu.
— Não sabemos, mas o nosso limite é aqui. Vamos ficar aqui. Caso
precisem de ajuda ou até mesmo de uma carona de volta, use esse
apito aqui.
Ele
pegou um apito com sua boca em uma sacolinha presa em seu pescoço.
— É só assoprar — garantiu o pégaso malhado — nós
ouviremos e iremos aonde quer que estiverem.
— E, onde é que estamos? — perguntou Arthur.
— Ora, vocês ainda não descobriram? — debochou o pégaso negro
— onde mais seria? Vocês estão no...
— Egito — completei.