segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012






Φ  Capítulo V: Poseidon me ensina alguns “segredinhos” de meus poderes  Φ







      Quando entramos, estávamos em um corredor, com um tapete vermelho estendido até uma porta mais à frente. Haviam várias estátuas encostadas nas paredes. Algumas de meu pai, algumas de monstros marinhos e outras de pessoas que eu não conhecia. Lembrei de meus amigos e que eles deveriam estar se afogando, mas, eles estavam sequinhos, e, de pé em um lugar seco, enquanto eu estava nadando. Pensei que queria estar seco também e, no mesmo momento, a água se dissipou. Enquanto eu me maravilhava com aquilo, meu pai apareceu na porta à frente dizendo:
      — Gabriel! O que é que você está esperando? Vem logo que não temos tempo!
      — Espere aí. 1°: o que é que eu estou fazendo aqui? 2°: não temos tempo para que?
      — Ah é — disse Poseidon — esqueci que você não sabe de tudo como eu. Desculpe. Ah, e Rachel e Arthur, me desculpe por ter mandado vocês até aqui sem ar.
      — Ainda bem que Gabriel é inteligente — disse Rachel.
     Meu pai a olhou com um olhar que parecia que ia fulminá-la a qualquer momento. Eu o repreendi com um gesto de negativo. Ele me olhou como se fosse a coisa mais errada do mundo deixar impune alguém que brinca com um deus.
      — Bem — interrompi eu — o que você queria me fazer comigo que não temos tempo?
      — Ah, certo — disse meu pai, despertando de sua raiva. — venha.
    A roupa dele se transformou em uma armadura de batalha completa. Ela era muito reluzente, toda de prata. Seu tridente apareceu em sua mão. Instintivamente peguei minhas armas. Caminhamos um pouco e chegamos a um salão, era todo de granito, havia uma estante com armaduras e armas, todas as armaduras tinham um tridente no peito.
     — Te espero lá na frente — disse meu pai. Ele se fez água e sumiu.
     Peguei uma armadura e, assim que toquei-a com a intenção de vesti-la ela apareceu em meu corpo. O mesmo aconteceu com Rachel e Arthur. Todos que viam minhas armas recuavam e davam passagem.
      Meu pai estava em um ringue me esperando com uma espada em punho. Subi lá e ele me disse:
     — Deixe as armas, vamos treinar seus poderes. Vi que sempre que você usa a água, você fica extremamente cansado. Isso é um erro comum de meus filhos. E, você só sabe o básico: “pegar e jogar”. Deixe-me te mostrar algo mais avançado.
      Meu pai chacoalhou a mão e, apareceu uma bola d'água nela.
      — Isso é simples — falei.
      Fiz a mesma coisa que ele. E, logo também já tinha uma bola d'água em minhas mãos.
      — Agora é que vem o difícil — disse Poseidon com um sorriso malicioso.



    A água em suas mãos se transformou em gelo, e, depois evaporou. Depois, com esse mesmo vapor (eu acho) começou uma mini-chuva na mão dele.
      — Uau! — exclamou Arthur — era o que se esperava do deus do mar!!
     — Isso não é nada! — disse meu pai com um leve tom de arrogância em sua voz — tente agora filho. Concentre-se.
     Tentei. A água apenas se desmanchou de sua forma de bola da primeira vez.
     — Concentre- se no gelo. — disse meu pai fazendo mais uma vez — Vá fazendo devagar até ficar toda gelo.
     Dessa vez consegui, mas por uns 3 segundos. Depois, ela quebrou e caiu no chão.
     — Você se desconcentrou do gelo — disse Poseidon em um tom calmo. — mais calma.
     Da terceira tentativa eu consegui.
     — Agora, evapore e, concentre-se nesse mesmo vapor e faça-o condensar-se.
     Consegui algumas vezes depois.
     — Faça mais uma vez — disse meu pai.
     Quando fui tentar fazer vi que já estava cansado e não conseguia.
     — Estou muito cansado pai, não consigo.
   — Era o que esperava. Lição 2: como preservar energia. Cada semi-deus tem duas fontes de energia. A humana e a divina. Você só consegue usar a humana. E é muito difícil liberar a divina. Mas, você não pode sair daqui sem liberá-la. Mas tente isso amanhã. Agora, vá se divertir um pouco. Meu empregado vai mostrar-lhe o salão de jogos. Mas não espere muito pois é pequena.
    Ao chegar lá, me surpreendi. Se aquilo não era grande, o que seria então? Aquela sala deixava a casa branca no chinelo.



     O salão de jogos era uma área quadrada, toda azul, o teto ficava a uns 15 metros de altura do chão. Tinha várias janelas de vista panorâmica do mar (novidade!!). Havia uma estátua que saia até para o lado de fora do palácio de meu pai. Ela era cercada por um tubo que impedia que a água entrasse e destruísse os “brinquedos”. Tinha todos os tipos de jogos imagináveis. Havia, fliperamas, jogos virtuais e até jogos que exercitam o físico.
     — Agora sim isso está ficando bom! — exclamou Arthur. — isso é que é vida!.
    Jogamos por umas 4 horas e, paramos para descansar. Percebi que já era noite. Não me pergunte como pois não sei como podia ver se estava claro ou não na superfície, pois ela estava à uns 130 metros de altura. Fomos dormir.
   Sonhei mais uma vez aquela noite. Dessa vez, o sonho era diferente. Eu estava em grandes canos transparentes e podia ver meus amigos, que estavam gigantes do lado de fora. Ao final do tubo, tinha algo parecido com uma caixa d'água. Fui até ela e me lembrei da fala de meu pai sobre minha energia extra. Seria aquilo?
      Não deu tempo de eu refletir. Tinha ido para outro lugar. Eu estava no meio do mar, e meu pai estava lutando com um ser gigantesco. Ele era um velho, mas não estilo Nereu, era alguém que emanava energia de sua pele, algo muito mais poderoso. Suas roupas ou eram invisíveis ou era da cor do mar, seus cabelos eram brancos, ele ficava sentado em um trono que era carregado por quatro gigantes. Esse trono era todo de ouro, o apoio para as costas era veludo do mais fino, havia alguns rubis no apoio para os braços. Ouvi meu pai falando seu nome: Oceano. Eu já ouvira histórias dele em minhas aulas. Mas, nunca achei que fosse real. Ele foi o primeiro senhor dos mares, mas, saiu desse cargo quando os titãs foram vencidos. Eu não arriscava olhar para meu pai, pois ele estava em sua forma divina, e, se eu olhasse eu seria reduzido a pó. Eu só o ouvia.



      — Gabriel — disse ele. — acorde! Você tem que sair daqui. Mesmo sendo só um sonho Oceano pode te matar! Eu não quero te perder.
     Queria responde-lo mais minha voz não saía. Ouvi Oceano rindo e apontando sua arma para mim. Ela era uma espada, acho que de ouro pois reluzia, mas toda coberta por algas e plantas marinhas. Como eu estava distante, fiquei tranquilo. Mas, aquela arma não era uma simples espada. Ela soltou um “tiro“ d'água, era um redemoinho em baixo d'água. Ele vinha com toda a força. Iria me destroçar, mas, Rachel me acordou e, no momento em que eu estava passando do sonho para a realidade, vi o tiro destruir uma parede atrás de mim.
    — Ei! Acorde! — dizia Rachel.
    — Hum, olá, e, bom dia. — disse eu.
    — Bom dia. Seu pai mandou um de seus comandantes para te acordar. Como eu achei que ele não seria muito gentil, eu mesma fiz isso.
    — Obrigado.
    — Por que seu pai queria que te acordassem?
    — É por causa do Oceano, aquele antigo senhor dos mares. Eu estava vendo a luta entre ele e meu pai, e meu pai disse que, de alguma forma ele poderia me matar por meio do sonho.
      — Ok Venha, o café está servido.
     Fomos até um grande cômodo, com uma mesa imensa totalmente lotada de comidas. As cadeiras eram de carvalho, havia um tapete persa de cada lado da mesa. Haviam três janelas venezianas de aço extremamente reluzente. A visão que se tinha das janelas era o oceano, haviam muitos cardumes de peixes, tubarões, raias e alguns cavalos marinhos “tamanho família”. O lugar era muito iluminado. Havia também uma mesa de cedro, com alguns porta-retratos sem fotos de prata em cima. Havia uma grande estante também de cedro, com muitos livros antigos nela. Nas paredes tinham vários quadros. Tinham de peixes, de armas, de meu pai, de ondas e alguns do horizonte. O chão era de granito, como quase todo o palácio. Havia outra mesa no outro lado, sobre ela, havia um aquário, assim como o da minha casa no acampamento. Senti saudades dele e dos campistas de lá. Lembrei também de minha mãe, meu coração apertou.
    Comemos até nos empanturrar. Eu, particularmente, estava “explodindo” de tanto comer.
      Ao levantarmos meu pai apareceu pela porta.
      — Bom dia filho — disse ele — vamos continuar com seu treinamento?
      — Mas... você não tem que lutar contra Oceano? — perguntei eu.
      — Não se preocupe. Ele está fraco e acabou de fugir.
    Não sei por que, mas achei que meu pai estava dizendo aquilo apenas para não me deixar aflito. Havia uma pequena amostra preocupação em sua expressão, como se já estivesse se preparando para lutar novamente. O que eu sabia que estava.
      — Como ele pode me matar através do sonho?
     — Na verdade, aquilo não é um sonho. É uma conexão espectral, onde seu espírito vai para um lugar qualquer. Qualquer deus ou titã pode matá-lo através disso.
     — Pai , acho que estou quase entendendo como liberar a fonte divina de energia.
     — Sério ? — perguntou meu pai espantado. — Se você conseguir, você será o primeiro semi-deus à liberá-la. Me conte, como você sabe que está descobrindo?
    — Ontem à noite, enquanto eu dormia, tive um sonho em que eu estava dentro de grandes tubulações e, no final, havia uma porta trancada que dava para uma espécie de caixa d'água. Acho que ela é que era minha fonte de energia divina.
    — Entendo. Você está na pista certa. Agora... tenho um pedido de ajuda de meu exército. Desculpe por não poder ficar e te ajudar, mas tenho que ir, parece que Oceano não estava tão fraco assim. Ele voltou. Treine até conseguir. Espero que seja sábio enquanto estiver tentando conseguir sua segunda fonte.
     — Pode deixar que eu vou tentar ser sábio. Vai lá e salve os mares.
     Ele me deu um sorriso e desapareceu.
   Pensei naquelas mesmas tubulações. Por um momento, elas estavam dentro de minha mente, mas, depois, eu é que estava dentro das tubulações. Fiz o caminho contrário ao que eu fiz em meu sonho. Haviam várias outras sub-divisões sem saída. Andei um pouco e cheguei até um reservatório gigante com água. Fiz alguns cálculos e percebi que aquela água, se eu a liberasse, não chegaria com força suficiente para quebrar a tranca que protegia a caixa d'água. Voltei pelas tubulações e fui fechando as sub-divisões. Deixando apenas o caminho principal aberto. Voltei para o reservatório e o abri. A água rapidamente saiu dele. Foi com um grande volume e pressão.
    Mas, ao chegar perto da porta trancada, já estava quase parada e não fez nem “cócegas” à porta. Fiquei indignado. Como eu liberaria a minha segunda fonte se era impossível? Será que eu havia esquecido uma sub-divisão aberta? Não, conferi uma por uma, não era possível e, se era impossível, queria ir embora, sair dali. Sentei nas bordas do cano e fiquei. Pensei em que facilidades eu poderia conseguir. Mas, já havia desistido. Levantei um pouco da água no chão e a joguei contra a parede. Nada. Queria que ela quebrasse para que eu pudesse sair.   
      Enquanto jogava-a contra a parede, lembrei da fala de Rachel no vulcão de nunca desistir. Esse pensamento tirou a indignação de minha mente. E vi o quanto de água havia lá e, que eu podia usá-la. Juntei toda a água e a joguei contra a porta. Houve um grande rangido, mas ela não se abriu. Tentei várias vezes mas não consegui. Não iria desistir. Continuei tentando até que lembrei do meu primeiro treinamento com meu pai. Pensei na água e a transformei em um grande espinho de gelo. O choquei contra a porta. Mas, a única coisa que aconteceu foi que a ponta do meu espinho quebrou. Eu transformei o gelo em água de novo. Precisava de mais do que aquilo. Concentrei-me no mar, em toda água dele e tentei materializá-la ali onde eu estava. Consegui. Encheu toda a tubulação. Tive que tirar um pouco pois se eu transformasse tudo em gelo, eu ficaria preso dentro dele. Tentei de novo, transformei em gelo e joguei contra a porta. E, de novo, apenas quebrou o gelo. Quando olhei para a porta, pensei que do outro lado poderia ser mais frágil.
      Mais uma vez o treinamento do Poseidon foi útil. Evaporizei parte da água e passei para o outro lado. Condensei-a de novo e, logo depois, solidifiquei. Usei toda a minha força para bater na porta. Dessa vez, a porta se partiu e fez um buraco grande o suficiente para mim passar. Ao olhar o material da porta percebi que do lado da frente era uma espécie de metal, muito resistente no lado da frente, mas, se acertado por trás ele era frágil.
       Minha teoria estava certa e errada ao mesmo tempo.
      A parte errada era que a porta era feita de dois materiais.



     A parte certa, era que se eu acertasse por trás, a porta quebraria. Assim que entrei, a caixa d'água começou a vazar, de dentro dela saia um líquido meio esverdeado, parecia água brilhante. Assim que ele tocou o chão, eu acordei. Sentia um formigamento no peito que ia passando por todo o corpo. Minha cabeça doía. Eu estava no quarto novamente.   Minha visão estava embaçada, mas, pude reconhecer quem estava perto de mim: meu pai.
      — Você conseguiu? — perguntou meu pai curioso.
      — Acho que sim. — respondi. — já voltou?
    — Sim. Deixei minhas tropas a sós pois não queria perder esse momento. Sabia que você era capaz. Sempre acreditei em você. Ah, e você terá um brinde: como você foi o primeiro a conseguir, você ganhará uma resistência muito grande, quase invulnerabilidade, e, seus poderes aumentarão em dez vezes. Saiba usar isso, pois, ao primeiro momento que você usar erradamente, os deuses o retirarão de você. Agora, tenho que ir. Adeus. Continue sua missão, e, é claro, complete-a com êxito.
     Mais uma vez ele se transformou eu água e sumiu. Sentia- me mais forte, com mais energia, mais hábil, como se fosse uma pessoa nova. Dormi de novo.
    Meus amigos, também estavam em busca da segunda fonte de poderes, eu estava sozinho e tinha que arranjar alguma coisa para fazer. Pensei nos jogos. Fui lá e joguei um pouco, mas não tinha tanta graça sem meus amigos. Fui treinar. Mas também, era chato sendo bem mais forte que todo mundo.
     — Gabriel — disse uma voz em minha mente: era a de meu pai. — já que você não partiu e está sem nada para fazer, venha me ajudar aqui.
      — Ok. Eu estava mesmo entediado — disse eu. — mas... onde exatamente é aqui?
     — Você vai saber. Use seu faro de batalha. Isso é mais uma de suas novas vantagens. Ah, e mais uma coisa: não venha exatamente onde eu estou pois estou na minha forma divina e isso iria matá-lo se você me visse. E, eu não posso ficar na minha forma humana pois não teria todos os meus poderes à disposição.
      — Estou indo.
     Saí da área de treinamento e fui indo aonde eu achava que tinha que ir. Logo, estava vendo uma guerra acontecendo bem à minha frente.
     Como era bom meus poderes novos. Eu me sentia bem mais forte. Sentia só não, eu estava mais forte. Eu me esquivava facilmente dos ataques e, não importava a velocidade dele, eu conseguia contra-atacar. Logo, eu tinha matado um batalhão inteiro de monstros. E, incrivelmente, não estava cansado.



    Transformei centenas de metros cúbicos de água em gelo e ataquei outro batalhão que já vinha para nos atacar. Fiz isso várias vezes e não me cansava. A fonte divina realmente funcionava. Eu não sei como, mas, o exército inimigo atirava flechas em baixo d'água. Acho que usavam as correntes à seu favor. Não sei se eles erravam todas ou se as flechas batiam em mim e ricocheteavam mar adentro, mas, não me feri. Continuei atacando, esquivando, rolando e protegendo meus companheiros. O exército inimigo estava cada vez menor. Eu estava lutando quando, com meu instinto de batalha sobre-humano, senti uma lança vindo diretamente para minhas costas, não ia dar para mim desviar, nem desviá-la pois, se eu esquivasse o inimigo me acertaria, e , se eu desviasse-a, baixaria a guarda e seria atingido. Estava esperando o impacto da lança entrando em minhas costas quando: “Plin!”. A lança fora rebatida. Dei um golpe certeiro com minha espada no meu inimigo e me virei para ver o que fora aquilo e, para a minha surpresa lá estavam eles: Rachel e Arthur envoltos em uma área seca, provavelmente criada por meu pai, sorrindo para mim.
        — Precisando de ajuda? — perguntou Arthur.
       — Vocês conseguiram? — perguntei.
       — Não nos subestime — disse Rachel — agora, chega de papo furado, vamos lutar!
     Assim, passamos o resto do dia lutando. Até que as frentes inimigas pararam de vir e começaram a recuar.
      — Vitória! — todos gritaram.
      Houve uma exclamação de felicidade por todo o exército.
     O resto da noite foi só comemoração. Mesmo que ela fosse só de meu pai, eu, Arthur e   Rachel, pois o resto dos guerreiros estavam exaustos e tinham ido dormir. Não os culpei, pois eles eram ”normais” e, mereciam um descanso.
    Dormimos um pouco, e, enquanto eu dormia, novamente, tive o sonho das duas portas, mas, dessa vez, minha mãe havia passado para a porta da vida depois de que eu descobri que eu era um semi-deus. Mas, a nova vida tinha muitas mais lutas e mortes de meus amigos, talvez por minha causa, e, no final, minha mãe chorava, enquanto olhava para alguem morto. Será que era eu? Mesmo correndo o risco de ser eu aquele corpo, entrei na porta da “nova vida”(vamos chamá-la assim). Ela se fechou atrás de mim. Eu estava em um lugar, que parecia uma loja de Tvs. Haviam várias imagens passando ao meu redor. Eu estava no meio do universo, com muitas estrelas ao meu redor. Havia uma extensa ponte que, eu acho, era minha vida de semi-deus pois, no começo haviam imagens de Alfeu e Rachel me buscando em casa. E, no final, estava eu, velho em uma cadeira de balanço, e, para a minha surpresa, estava com a também velha, Rachel, isso mesmo.
      De repente, saí do universo e fui diretamente para minha casa. Lá estava ela igual ao modo que eu deixei. A casa era cercada por grades de ferro pintadas de verde, e dois portões, um para carros e outro para as pessoas sem carro entrarem, também verdes. Minha casa por fora era branca, tinha duas janelas venezianas de madeira, um pouco velhas demais para o meu gosto, um dos vidros rachados por uma coisa que fiz há muito tempo (mas isso é outra história que depois conto), havia uma porta de carvalho na frente, essa sim, nova. Havia também um jardim que minha mãe fizera, com flores como margaridas, rosas, tulipas, e, principalmente, violetas, as flores preferidas dela. 




    Na garagem, havia um Renault Sandero vermelho estacionado. Quando vi de novo, estava lá dentro. Minha mãe conversava com alguém, que logo reconheci: Joe.
      Joe era o antigo diretor da minha escola até ele tentar me matar. Ele queria me fazer colocar uma grande quantidade de água em um galão de ácido sulfúrico (nunca façam isso, pois libera uma grande quantidade de energia, ou se você preferir esse modo de dizer, explode) ele sempre negou para todos, mas, ele tentara fazer isso. Naquele dia, lá em casa, ele estava com camisa branca, uma calça social preta e uma gravata de linho vermelha. Tinha o cabelo ligeiramente longo, o suficiente para prender em um minúsculo rabo de cavalo. Queria dizer a ele: cara, corta esse cabelo, isso está ridículo. Mas, não conseguia. Não ouvi o que eles estavam conversando, mas, assim que chegasse em casa (se é que eu ia chegar) iria tirar satisfações com minha mãe. Por que ela colocara aquele cretino lá dentro de casa? Ah, ela não tinha o direito, sabia o quanto eu odiava aquele cara.  Mesmo eu não estando lá, o que ela estava pensando?
         — Vocês já vão? — disse meu pai aparecendo na porta do quarto
        — Sim pai. — disse eu.
     — Perdemos muito tempo aqui — completou Arthur — e, tempo é crucial para o sucesso de nossa missão.
     — Entendendo. Então até logo filho. Mate esse semi-deus por mim. Eu lhe dou minha benção e uma carona até Roma.
      — O que é nossa carona? Um peixe? Uma corrente d'água?
      — Não. É uma coisa um pouquinho mais rápida. Vou te mostrar. Adeus crianças.
      — Adeus. — dissemos.
    Assim que falamos, vimos as coisas do palácio desaparecerem e campos floridos, montes e algumas casas aparecerem. As imagens foram ficando mais nítidas até estarem completamente visíveis e tocáveis. Havíamos sido teletransportados.

  
     O lugar onde estávamos era incrível. Haviam grandes pastagens, tantas que sumiam no horizonte. Tinham vários montes. Alguns tão altos que tinha neve no topo. Haviam algumas pequenas florestas ao nosso redor. Haviam também alguns jardins naturais com flores magníficas. A maioria orquídeas. E, para a minha surpresa e alegria, elas estavam floridas deixando o lugar ainda mais belo. E no campo haviam lhamas pastando, elas, também lindas com seus pêlos brancos e... Espere aí: Lhamas? Na Itália?
       — Arthur — chamei eu — por um acaso, existem lhamas na Itália?
     — Só se forem criadas em fazendas, e , mesmo assim são raras. Mas, mesmo assim, essas aqui são selvagens, ou seja, não estamos na Itália.
      — Seu pai não é muito bom de geografia na hora de teletransportar Gabriel — disse Rachel.
      A voz de meu pai apareceu em minha mente de novo. Gabriel, meu filho, você tem algo a fazer aí no Peru. Só depois você deve ir à Itália.
      — O que? — disse eu.
Meus amigos me olharam com um olhar de: com quem você está falando?. Percebi que eu não deveria ter falado e apenas pensado.
       Sim — pensei eu — vou descobrir o que tenho que fazer e depois vou à Itália.
       — Temos alguma coisa para fazer aqui — disse eu — alguma coisa importante.
       — Você sabe o que é? — perguntou Arthur.
      — Não. Mas, de algum jeito vamos descobrir. Agora, vamos encontrar alguma cidade ou coisa do gênero.
     Caminhamos pelos montes, nada de perigos nem monstros nem nada. Algo que eu achei estranho.



    — Qual foi o último desafio de vocês para conseguir a 2ª fonte de energia? — perguntei eu.
     — O meu — disse Arthur. — Foi fazer um pequeno projeto, ele já estava pronto, mas todo codificado, nada muito difícil, o problema, foi quando eu terminei: Era como uma espécie de jaula mágica, e eu tinha que arranjar os materiais e construí-la. Depois que terminei, um vento começou a soprar, levando um pó para dentro da jaula, assim que uma grande quantidade estava lá, ela se fechou sozinha e eu acordei.
     — Bom — disse Rachel. — No meu, tive que construir várias coisinhas para ir abrindo portas, desativar armadilhas, me proteger. No final, uma imensa porta, com várias fechaduras, cada um de um material. Fui fazendo as chaves, a medida que uma entrava, o formato das outras mudava, às vezes até mesmo nos buracos nos quais eu já havia colocado as chaves, trancando aquela parte de novo. Depois de muito tempo, eu notei que devia parar aquele sistema, então fiz um pulso eletromagnético que desligou todo o lugar em que eu estava por tempo suficiente para eu abrir as trancas, lá dentro, abri um baú e de lá um fogo surgiu, ai eu acordei.
      Continuamos caminhando por mais uma hora até chegarmos a uma cidade.
     Entramos nela, e , ela estava praticamente deserta, a não ser por uns poucos carros a pessoas que passavam por ali. Alguns estabelecimentos estavam com a placa escrito aberto, mas, não tinha ninguém dentro deles. Encontramos uma mulher na rua, e logo perguntei:
       — O que foi que aconteceu aqui?
     — É que a maioria das pessoas da cidade estão trabalhando em uma minerador aqui perto  — respondeu ela . — Vocês querem conhecê-la?
     A mulher estava vestida com uma mini-saia azul marinho, uma camisa de mangas longas branca e um colete também azul marinho, usava um sapato de salto alto preto. Usava uma boina azul e tinha seus cabelos loiros presos em um cock. Usava brincos em formato de pérola e um pequeno pingente de metal perto do ombro esquerdo onde estava escrito: Suélen. Ela sorria para nós mostrando seus dentes brancos. Tinha olhos castanho escuro, uma boca fina, colorida por um batom vermelho escuro. Usava pouca maquiagem o que a fazia parecer uma pessoa simples, um tanto ingênua.
       — Acho que podemos ir — disse Arthur.
    A moça fez um sinal e um carro parou à nossa frente. Na lateral do carro estava escrito: mineradora for life. Onde as pessoas são mais importante que tudo.
      Entramos no carro e andamos uns 15 minutos sem falar nada.
     Ao chegarmos já haviam várias pessoas nos esperando com materiais de segurança, pás e picaretas.
     — Espere aí — disse eu — nós só vamos visitar.
    Então, eles tiraram os equipamentos de trabalho de nossas mãos e nos levaram à um elevador.
    — A partir de agora — disse a Suélen. — vocês ficam por conta própria para poderem apreciar melhor.
     — E, se nos perdermos? — perguntou Rachel.
     — Tem várias pessoas lá embaixo que podem ajudar vocês a saírem.
     Então, ela nos jogou dentro do elevador e a porta se fechou. Juro que pude ouvir uma risada lá fora. Descemos e, quando as portas se abriram novamente, estávamos dentro de uma caverna, bem estreita e sem iluminação a não ser por nossas lanternas nos capacetes e nas mãos.
     O lugar fedia. Parecia carniça. Não tinha ninguém à vista.
     — Arthur ! — brigou Rachel — por que você aceitou vir até aqui em baixo?
     — Ah — disse ele — temos alguma coisa para fazermos aqui e, por que não poderia ser aqui em baixo?
    — Gente — disse eu — parem de brigar e vamos ver se tem alguma coisa para fazermos aqui, se não, vamos embora e fim de história.
    Começamos a caminhar. Haviam algumas pouquíssimas pessoas cavando e murmurando algo sobre achar a saída ser impossível. Continuamos andando até avistarmos algo aterrorizante: um esqueleto humano.
     — Vamos voltar — disse Rachel apavorada tapando os olhos com a mão para não ver.
     — Concordo — disse Arthur se virando.
    Quando ele deu o primeiro passo na direção contrária, bateu a cabeça em uma parede de rochas.
     — Essa parede não estava aqui antes! — resmungou Arthur com a mão no rosto.
     Eu queria rir daquilo, mas algo me fez gelar. Não tinha mais túnel em nenhuma direção a não ser para frente.



     — Labirinto de Dédalo — murmurou Rachel.
   — Aquele em que você nunca acha a saída porque ele é mágico? Que legal nunca esperava conhecê-lo!
   De repente, eu comecei achar que aquele emaranhado de túneis da nossa base, se comparado ao lugar onde estávamos, tão fácil de se locomover!
     — É, que legal! Agora que você conheceu, vai ficar aqui até enlouquecer e morrer!
     — Eu falei sem pensar, desculpe. Ah, mas esse labirinto não ficava na Grécia?
     — Ele se estende por todo o planeta, pouco abaixo do solo.
    — Ah. Então dá para agente sair em Roma pelo labirinto?
  Quando ela ia me responder algo nos fez gelar ainda mais do que já estávamos: um mugido.
    — Espere aí. Se estamos no labirinto, então esse mugido é do... minotauro? — perguntei eu com a esperança de que não fosse ele e fosse apenas um alto-falante de uma loja de leite.
      — Não pode ser ! — disse Rachel. — ele foi morto por Teseu!
     — Pode ser sim — disse  Arthur  já recuperado de sua dor. — lembra que o semi-deus está ressuscitando os monstros?
      — Ah é — disse Rachel — isso pode ser considerado.
     O mugido veio de mais perto. Saquei as armas e meus amigos fizeram o mesmo. Senti o chão tremer cada vez mais forte até que avistei ele : o minotauro.
      O minotauro era um monstro com as pernas e as patas de touro, tronco de um homem, mas também peludo e bem maior que a de um humano, tinha as mão humanas que seguravam um grande machado com o cabo de madeira e a lâmina de bronze. Tinha a cabeça de um touro com uma argola em seu focinho, o seu par de chifres tinham uns 50 centímetros cada. Ele tinha uns dois metros.


    Ele atacou. Veio bufando em linha reta com os chifres abaixados. Rolamos e nos desviamos. Ele parou pouco à frente e atacou com seu machado. Defendi seu golpe com meu escudo e ataquei. Muitos pelos foram cortados, deixando à mostra uma espécie de tatuagem em seu peito esquerdo. Meu ataque não o feriu. Ele investiu de novo. Antes que ele chegasse em nós, um flecha ricocheteou em seu focinho e o fez bater na lateral do labirinto deixando-o tonto.
     — Acho que já sei o que meu pai queria que fizéssemos aqui. — disse eu correndo para atacá-lo.
     Dei um golpe com meu escudo em seu rosto, fazendo-o cair. Segurei a espada com mais força e golpeei seu pescoço. Para a minha surpresa, ele conseguiu aparar meu ataque com o cabo do machado e contra-atacar, acertando-me um golpe direto na boca do estômago. Fui lançado na parede e bati a cabeça nela. Sentia um pouco de sangue escorrer do ferimento. Se eu não tivesse a benção divina seria um ferimento mortal. Mas, foi apenas um corte pequeno. Eu estava sem ar devido ao grande impacto da lâmina em mim e minha cabeça doía por causa do choque contra a parede. Vi Rachel pulando em cima do monstro e segurando um de seus chifres com uma mão e tentando golpeá-lo com outra. Levantei-me atordoado, via as coisas girarem em volta de mim. Via apenas vultos da luta. Concentrei-me no vulto do minotauro, corri e golpeei suas pernas. Ele caiu no chão de joelhos. Eu estava de costas para ele. Golpeei de novo sem virar-me dando uma fincada para trás. Ouvi ele “gritando” de dor. Caí no chão. Acho que desmaiei.
      Quando abri os olhos eu já estava melhor. Vi Rachel lutando não só contra o minotauro mas também, com outras criaturas. Levantei-me rapidamente e me pus a lutar. Ao olhar mais atentamente, percebi que era um pequeno exército que se juntara ali e estava lutando. Haviam lestrigões, escorpiões gigantes, cães infernais e outras criaturas igualmente assustadoras. A desvantagem era enorme, porém, não tínhamos outra escolha a não ser lutar. Eram golpes, giros, defesas, explosões devido à flechas-bomba, foram várias horas de luta intensa.



     Parecia que para cada um que matávamos, apareciam mais dois. O minotauro investiu contra Rachel que não o viu. Consegui defendê-la com meu escudo. Mas, tomei uma mordida de um cão infernal. Ela não me feriu. Contra-ataquei e vi o monstro caindo morto à minha frente. Ataquei o minotauro cravando minha espada em suas costas. Ele cambaleou e caiu de costas no chão, fazendo a lâmina de minha espada atravessá-lo. A tatuagem em seu peito brilhou e ele sumiu. O exército se dispersou e fugiu. Onde estava o minotauro sobraram duas coisas: um de seus chifres e um novelo com um fio.
      — Fio de Ariadne — disse Rachel maravilhada — graças aos deuses!
     — Vamos poder sair daqui! — exclamei.
    O fio se desenrolava por todo o túnel. Provavelmente levaria à Itália. Pegamos ele em nossas mãos e, ao mesmo tempo que íamos seguindo para onde ele ia, íamos recolhendo-o pois, talvez, pudéssemos precisar dele.
     — Eles estavam levando um pequeno exército para atacar algo — disse Rachel.
     — Mas, os paramos e, fizemos o que seu pai queria que fizéssemos. — disse Aquiles.
     — Eu acho que não. — disse eu — tenho um pressentimento de que não acabou.
    Comecei a desenrolar o fio de novo e ir para a direção contrária, onde já haviam túneis em várias direções.
     — Vamos tentar por esse aqui — disse eu fazendo “uni-duni- tê”.
   Fomos adentrando por esse túnel. Ele alterava muito sua forma. Algumas horas era redondo, algumas horas, era parecido com um esgoto, outras com um corredor de uma casa.    Todos muito assustadores.



     Depois de muito caminhar, encontramos um feixe de luz entrando pelo teto. Havia uma escada levando até essa saída. Subimos e vimos onde estávamos: Lima. Como sabíamos? Simples: havia uma placa imensa bem à nossa frente na qual estava escrito: Bienvenido à Lima.







Nenhum comentário:

Postar um comentário