sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012






Φ Capítulo  IV: Eu luto com um deus - Gabriel Φ








      Fomos até Santiago, onde tomamos um avião para Roma.
     Já no avião, eu estava novamente sonhando. Dessa vez estava no palácio de meu pai, no fundo do mar. Era uma grande construção; quando eu digo grande, não é grande tipo a casa branca, é grande como ela multiplicada por 50. Feita apenas com pedras marinhas, adornadas com conchas, algas e algumas belezas marinhas, pela porta, poderia se passar tranquilamente o cristo redentor. Era a maior porta que eu já vira. Não haviam janelas ao redor. Apenas várias portas gigantes de algo, que se parecia com escama de peixe, mas, para variar, eu não sabia o que era. 
      Havia muitos peixes entrando e saindo, uns apressado e outros em ritmo menor, mais nunca lentos. Algumas criaturas eu conhecia, como tubarões, baleias, cavalos marinhos, mas havia algumas coisas que eu nunca vira na vida. Meu pai estava em um trono, sentado com seu tridente na mão. A roupa dele era, agora, uma roupa de batalha, como se estivesse esperando que eu falhasse na missão e ele tivesse que lutar contra monstros invencíveis. Senti-me um inútil. Nem meu pai confiava em mim. De repente, ele disse algo, que não sei como escutei.
     — Preparem os exércitos para atacar Oceano e suas tropas — disse Poseidon — TODAS as tropas.
       — Mas e as defesas, senhor? — disse um de seus subordinados.
    — Não precisaremos nos preocupar com isso. Afinal, todas as tropas dele estarão concentradas em nós e, não precisaremos nos preocupar com um ataque de cima pois meu filho Gabriel vai cuidar do exército que se levanta contra nós pessoalmente.
     — Mas, e, se ele não conseguir, senhor? O que faremos? Afinal, ele é um mero mortal...
    — Cale- se — gritou Poseidon. O oceano inteiro tremeu, bom, pelo menos foi o que eu acho. — Ele é MEU FILHO!!! Ele VAI conseguir!!! EU confio nele!!! E agora, chega de papo, já que meu filho já vai se divertir matando um exército inteiro lá em cima, não posso ficar sem diversão aqui em baixo! Vamos à guerra.
     — Sim senhor!
    Um exército rugiu do lado de fora do palácio. Foi a última coisa que vi antes de despertar.
    Estava correndo tudo muito bem, até que, no meio do voo, logo que eu acordei, uma turbulência um tanto quanto violenta, começou. O avião chacoalhava de um lado para o outro, o que começava a me dar náuseas. Rachel segurou a minha mão. Pouco depois, um impacto maior, e eu vi o avião se partindo ao meio. Uma centena de pessoas caindo, pedaços de metal passando, em chamas, uma morte certa.
    Até quando me concentrei embaixo de nós, vi que era o Oceano Atlântico. Isso nos dava 1% de possibilidade de sobreviver, isso se eu não falhasse ao utilizar a água para amortecer a queda de pelo menos eu, Arthur e Rachel. Mas havia outras pessoas. Eu não podia deixá-las morrer. Senti uma força que nunca havia sequer chegado perto de experimentar. Em pleno ar, perto do mar, eu ergui as mãos. E tudo que eu vi antes de desmaiar, de tanto cansaço, foi uma imensa quantidade de água subindo, e amortecendo a queda de todos.



      Eu estava sonhando de novo. Dessa vez, ele era mais claro, e já haviam três garotos, ao invés de dois, como fora no primeiro sonho. Eu via o rosto de um deles em meio à uma nevasca que enfrentavam. Ele era loiro, tinha olhos castanhos. Pelo seu vulto que se via através da tempestade, ele era alto e magro. Um dos garotos que estavam ao lado desse loiro, era um pouco mais baixo e mais gordo. Não consegui ver seu rosto.
    — Ei, Ethan — dizia o mais alto ao gordo. — Tem certeza de que estamos na pista certa?
    — Sim ,Thiago — respondeu Ethan. — Afinal... Estamos indo atrás de Nidhogg, não estamos?
    — É — disse Thiago concordando. — Tudo bem Peter? Você parece preocupado com alguma coisa...
     — Não é nada — disse o terceiro menino, cujo nome era Peter.
    Foi tudo que eu vi antes de acordar, dessa vez na areia embaixo d'água, com vários peixes ao meu redor. Não morri pois eu podia respirar embaixo d'água e suportar à pressão e resistir às baixas temperaturas daquela profundidade em que estava. Tentei me mexer, mas estava cansado demais para isso. Já que eu tinha algumas vantagens na água podia ouvir as coisas embaixo dela. 




    Haviam várias vozes felizes, comemorando por terem sobrevivido à uma queda de altura tão grande. Mas, a que mais me chamou a atenção, foi a de Rachel, que chorava e dizia ao mesmo tempo:
     — Foi culpa minha! Se eu o tivesse segurado, ele não estaria lá no fundo do mar agora!
    — Não foi culpa sua Rachel! — disse Arthur tentando consolá-la —Não podíamos fazer nada! Agora temos que nos conformar.
     — E agora, o que faremos?
     — Vamos esperar o resgate, voltar para o acampamento e relatar à Alfeu que falhamos em nossa missão.
     — Mas, se não cumprirmos essa missão, o mundo se acabará!
     — Mas...Você sabe...Não podemos conseguir sem a força de um filho dos três grandes!
   — Temos que tentar! Como conseguiremos se nem tentarmos? Acho que Gabriel iria querer isso!
     Ela começou a chorar novamente.
     — Tem razão! Vamos só nós e torcer para que os deuses nos abençoem!
     Nesse momento, eu já havia desistido, mas, as palavras de Rachel me fizeram mudar de ideia. Como é que eu iria sair daquela situação se nem tentasse?
   Tentei várias coisas, mas meu corpo não respondia a meus comandos, nem se mexia. Pensei em todos que eu gostava, talvez eles me dessem força, pensei até em como seria o mundo se eu falhasse nessa missão. De repente, meu ar acabou. Não conseguia respirar e sentia água entrando pelo meu nariz. Mas, não só pelo nariz, mas por todo o corpo, como se cada poro de minha pele estivesse recebendo água. Com isso, minhas energias voltaram. E, dessa vez, não foram embora. Concentrei-me um pouco e consegui voltar a respirar. Ouvi o som de um helicóptero voando acima da água acho que era o resgate. Tinha que encontrar meus amigos antes que eles fossem levados pelo resgate. Mandei as correntes me emergirem rapidamente até a superfície. Saí com uma explosão de água. Caí direto em meus amigos. Eles estavam em um bote salva-vidas. Havia outros como aquele por ali, um pouco mais adiante. Também avistei um helicóptero. 
     — Sentiram minha falta ? — perguntei.
    Os olhos deles não acreditavam no que viam. Arthur me deu um forte abraço. Depois foi a vez de Rachel, que foi mais suave. 
    Não deu tempo nem da gente ficar feliz e matar a saudade. Alguma coisa deu uma pancada na água bem ao meu lado e fui arremessado com o impacto para longe. Descobri mais uma vantagem de ser filho de Poseidon: podia andar sobre a água. Me levantei e preparei minha espada e meu escudo à minha frente estava um monstro. Ele era uma grande serpente, com olhos amarelos, dentes do tamanho de um taco de basebol. Tinham três camadas desses dentes. Escamas gigantes cobrindo todo o corpo. Uma boca que podia engolir um ônibus sem mastigar. Tinha um corpo de uns 100 metros de comprimento. A cauda tinha um ferrão do tamanho de uma porta. Tinha incrível velocidade na água. Para dificultar mais nossa vida, ele submergiu. 




     Enquanto ela não reaparecia, eu disse:
    — Vejam — disse eu apontando para um amontoado de terra. —Ali tem uma ilha. Se escondam lá. Rachel, preciso que distraia a criatura com suas flechas. Mas, não deixe que ela os vejam.
    Eles nadaram rapidamente até a ilha que ficava bem próxima ao lugar onde a luta estava acontecendo.
     A serpente reapareceu, e tentou me engolir, dando um golpe por cima. Rachel atirou uma “flecha-bomba” que explodiu antes que ela me engolisse, fazendo-a afundar um pouco. Resolvi atacar. Corri até ao monstro e tentei escalar sua calda. Ela era extremamente escorregadia. O monstro se recuperou e reiniciou seu ataque. Ataquei antes. Dei um golpe de espada em sua cauda. Nada. Era duro como titânio. Tinha de haver um jeito de destruí-lo. Outra flecha explosiva: BUM! 
     Tentei escalar a criatura de novo e dessa vez consegui. Segurei-me nas brechas entre suas escamas. Tive uma ideia. Tentei atacar entre as escamas pois ali, poderia ser vulnerável. Dei um golpe com a espada e começou a jorrar um líquido gosmento verde de lá. A serpente deu um guincho horrível que quase me ensurdeceu. A água pareceu se levantar com seu grito, formando ondas a seu redor. Ela se remexia muito. Cravei minha espada em sua pele para conseguir segurar-me. Fui escalando vagarosamente suas costas. Ela tentava dar mordidas, mas eu estava entre suas escamas e ela não queria morder-se.
     Cheguei até o topo da cabeça. Levantei a espada com as duas mãos para um golpe fortíssimo em sua cabeça. Movimento errado. Ela chacoalhou sua cabeça e eu fui para o alto. Quando comecei a cair ela já me esperava de boca aberta. Caí diretamente lá dentro. E, em um movimento de puro reflexo, cravei a espada em sua língua. Outro grito. Dessa vez muito pior pois eu estava no lugar de onde ele vinha. A criatura ainda não fechara a boca. Eu tinha que sair de lá. Só não sabia como. Tentei várias coisas mas nada deu certo.




     Ainda bem que Rachel era boa de mira, se não, estaria morto agora. Ela, lá debaixo atirou uma flecha explosiva que entrou certeiramente na boca da serpente. Como ela entrou já sem muita força, eu a segurei. Tive uma ideia. Concentrei muita força em meu braço que estava com a flecha e a joguei garganta abaixo: BUM! Seu esôfago explodira. Ele caiu de lado na água, e, enquanto afundávamos, eu saí de sua boca nadando e voltei à superfície. 
   Levantei-me sobre a água e pus-me em guarda. Sabia que ela não morrera naquela explosão. A água começava a criar uma mancha verde. Pouco depois, ela se reergueu com dificuldade atrás de mim. Estava com os olhos brilhando de raiva e de dor. Ela me atacou. Consegui esquivar-me e furar seu olho. O líquido que saiu de lá queimou a manga da minha camiseta. Era ácido. Ela investiu novamente, cada vez mais lenta. Desviava-me com facilidade. Não queria usar a água pois lembrava-me do cansaço que ela me dera da última vez que a usei. Mas não tinha escolha. Meus ataques ou batiam nas escamas ou faziam machucados insignificantes. Esquivei-me de um ataque e convoquei uma grande onda. A água se levantou da altura da serpente. Ataquei. Ela apenas caiu e se levantou pouco depois. Tinha de conseguir um novo truque, se não eu morreria de cansaço antes dela. Ergui mais uma vez a onda e, nada. Pensei em que eu poderia fazer. Enquanto isso, ela atacava cada vez mais rápido, como se estivesse se recuperando do ferimento e como se sua energia aumentasse a cada ataque.
    — Gabriel! — gritou Arthur nadando ao longe. — Vou te ajudar!
    — Não! — Gritei.
   Mas não adiantou. Ele veio nadando até mim. Usei meus poderes para pô-lo sobre a água.
    — Você não deveria estar aqui Arthur! — falei eu.
    — Vi que você não conseguia progresso e vim ajudar. — respondeu ele com um sorriso.
   O monstro atacou de novo. Desviamos, mas não conseguimos contra-atacar. Ele estava mais rápido. Atacava com a boca e a cauda. Em um golpe, o ferrão passou zunindo em meu ouvido. Vi que ele tinha veneno. Depois de muita luta, caí na água de exaustão e não consegui flutuar. Estava afundando quando alguma coisa passou por mim. Estava cansado demais para olhar, e, qualquer coisa que fosse seria minha morte, então...
    — Ei! aguente firme — dizia uma voz. Parecia, sei que vai achar estranho mas, sim, a voz se parecia com a voz de um golfinho. Não que eu já tenha ouvido um golfinho falar, mas aquela voz se parecia com o som dele, mas em forma de palavras.
     Mas foi só isso que eu ouvi. Acordei em uma casa com um velho me olhando.
     — Finalmente! — disse ele.
     — On... ond...onde eu estou? — perguntei com a voz rouca.
     — Em minha humilde casa.





     A casa era uma cabana toda de madeira, na varanda ficavam algumas redes e um jardim de flores murchas. Do lado de dentro, havia muita coisa, tudo bagunçado. Livros, papéis, mapas, telescópios, roupas e até prêmios como estátuas e alguns peixes. Havia uma parede com várias fotos do velho. Uma em particular me chamou a atenção: O velho estava com... sim... meu pai! Mas... como? Quem era ele?
      — Hã — disse ele parecendo desconfortável — meu nome é Nereu.
     Nereu era um velho com cabelos um pouco grandes e barba rala brancos. Usava um macacão e uma camisa vermelha por baixo. Usava umas sandálias, que mostravam suas unhas mal feitas.
     — Nereu... — disse eu — tenho a impressão de já ter ouvido esse nome...
     — Ele é uma divindade marinha — disse Rachel me esclarecendo tudo.
     — Ah, lembrei!
     O velho abriu um sorriso e mostrou seus dentes amarelos.
   — Então, a voz de golfinho que ouvi... era você? Pois não é você que pode se transformar em qualquer bicho marinho?
     — Sim — disse ele. — Ah, e à propósito, de nada!
     — Ah, obrigado e desculpe-me.
     — Não foi nada! Vocês querem comer?
     — Sim — disse Arthur.
     Fiquei feliz em vê-lo bem.
    Nereu nos levou até uma cozinha que havia lá. Havia uma geladeira pequena e antiga, uma pia de pedras, uma mesa de madeira com um navio decorativo em cima, e algumas cervejas em cima de um balcão.
     — Vocês aceitam um sanduíche?
    Ele olhou diretamente para mim. Eu o observei bem e me assustei com uma coisa, um de seus olhos era cego, e, seu pescoço estava machucado.
     Nereu preparou os sanduíches de bacalhau e disse:
     — Vou pegar um refrigerante. Já volto.
    Assim que ele saiu eu disse:
    — Temos que sair daqui, AGORA!
    — Por que? — Disse Rachel — ele está sendo tão bom!
    — Eu acho que ele é a serpente que nós enfrentamos!
   — De onde você tirou essa ideia? — Perguntou ela, como se aquilo fosse a coisa mais absurda já dita em todos os tempos.
   — Um de seus olhos, exatamente o que eu feri, é cego. E, seu pescoço, está machucado. Eu também machuquei o pescoço da serpente. E, mais uma coisa: me conte exatamente como ele apareceu.
    — Eu mandei uma flecha explosiva que afugentou a serpente. Ela afundou e foi embora.    Aí Nereu apareceu.
    — Viu? Por que ele apareceria só depois que a serpente fosse embora?
    — Por questão de segurança! Dã!
   — Você VIU a serpente partindo? Tipo, sumir no horizonte? E, só mais uma coisinha: ele é IMORTAL, por que ele teria questões de segurança?
   — Não, eu já te falei, ela afundou. Mas, vou acreditar em você, por que também estou com um mal pressentimento.
   — Não posso nem comer o sanduíche? — disse Arthur.
   — Não! — Dissemos eu e Rachel.
  Levantamos e fomos em direção à porta. Mas, ele já estava lá com os refrigerantes na mão.
     — Ué? — disse ele com uma cara de surpresa — vocês já vão?
     — Vamos — disse eu — temos uma missão importante e...
  — VOCÊS NÃO VÃO! — rugiu ele — VOCÊS NÃO VÃO COMPLETAR ESSA MISSÃO! NINGUÉM INTERROMPE OS PLANOS DO CHEFE! NINGUÉM!.
    Depois que ele disse isso, seu braço virou um tentáculo e agarrou Rachel. Senti a fúria me dominando. O céu se fechou. O mar começou a se agitar com grandes ondas.



     — Solta ela! — gritei eu. 
    Soou mais ameaçador do eu pensava que seria. Parecia o próprio mar falando. Ele riu profundamente, me olhou nos olhos e disse friamente:
     — Não.
     Ele foi arrastando Rachel até a praia. Uma onda se levantou e quebrou diretamente em suas costas.
     — Ah! — gritou ele com uma expressão de dor. — Agora você me irritou!
    Nereu começou a criar escamas e crescer, pouco depois, lá estava a mesma serpente marinha com a qual eu lutara pouco tempo antes. Vi Rachel e ela estava toda cheia de hematomas e desacordada. Minha fúria aumentou. Eu tremia violentamente de tanta raiva. NINGUÉM poderia mexer com meus amigos.
    Uma tempestade começou. Ventos fortes, chuva grossa e ondas imensas. Minha raiva chegou a cume quando ele bateu sua cauda em Rachel e riu. O mar se levantou em um onda gigantesca. Mas, logo que olhei em seus olhos percebi qual era o seu plano. Se a onda continuasse vindo iria matar meus amigos tamanha a violência dela. E Nereu apenas iria sentir uma dor pois ele era imortal. A expressão dele, que era de gozação até aquele momento mudou quando a chuva cristalizou-se transformando-se em um granizo em forma de ponta de lança. Aquilo foi apenas nele. Centenas de espinhos de gelo entravam nele. Alguns até atravessavam. Um redemoinho começou na água abaixo dele. Ele foi afundando até sumir mar abaixo. Achei que tinha acabado, mas aquele redemoinho começou a me puxar também. Mesmo eu estando em terra. Eu tentava extingui-lo mas não conseguia. Vi que Arthur me olhava com uma cara de: Nossa! Você usou o mar e a chuva à seu favor para derrotar aquele pilantra, maneiro!, enquanto era puxado para a água. Como não conseguia resistir, e nem parar aquilo, peguei Rachel no colo e arrastei Arthur até perto de mim. Ao submergirmos completamente, fiz uma bolha de ar em volta de nós.
      A corrente nos levava velozmente mar adentro até que avistei o palácio que eu vira em meu sonho: a casa de meu pai. Será que fora ele que me carregara até aquele lugar? Se fora, por que?
     A corrente nos deixou na porta, onde haviam dois ciclopes de guarda. 




     Um deles ia me atacar quando o outro disse:
     — Não. Ele é filho do chefe.
    E ele segurou o outro que insistia em me atacar até que entramos dentro do palácio e as portas se fechassem.


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