segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012






Φ  Capítulo II: Uma base secreta de semideuses - Gabriel  Φ










      Estacionado na rua estava aquele mesmo Camaro preto que eu vira na escola. Entramos no carro, eu e Arthur atrás, Rachel e Alfeu na frente.
     Ele dirigia a quase 200 km/h como se isso fosse velocidade cotidiana, ia desviando dos carros com maestria, dirigia com uma habilidade que eu jamais havia visto.
     — Bom - disse eu quebrando um silêncio que já estava incomodando - Vocês podem começar a explicar agora.
      — Me faça esse favor Rachel? - disse Alfeu.
    — Claro - disse ela. Por onde começo? Ah, sim, sabe toda aquela história de mitologia? Deuses, heróis, monstros? Então, deuses são seus pais, heróis possivelmente vocês serão e monstros, bem, eles são monstros mesmo.
     Eu me segurei para não rir. Deuses? Que piada! Mas, por que então minha mãe me mandara com eles? Se sabia que eles eram loucos? Ou ela não sabia? Bom, como eu sei que minha mãe não deixaria eu sair com loucos, aquilo só poderia ser um sonho. Mas por via das dúvidas, resolvi não contrariar. Afinal de contas, loucos não podem ser contrariados.
      — Então - disse eu concordando falsamente - Se tudo isso existe, por que não vimos nada até hoje? Quer dizer, nós deveríamos ver monstros gigantes andando por aí indo para o seu serviço ou sei lá...
      — Boa pergunta - disse Rachel - Isso, é uma aura mágica que os deuses colocam em todos, assim que nascem, impedindo-lhes de ver os monstros, e, apenas os semideuses, depois que alguém os mostra podem, digamos, “tirar” essa aura. Vocês dois agora, passarão a ver tudo como realmente é.
    Nesse momento, Arthur me cutucou e me mostrou a janela. Agora eu diria que estávamos a uns 1000 km/h por que tudo que eu via era vultos.
      — E, quem seriam nossos pais? - Perguntou Arthur, aparentemente entrando nessa de não contrariar.
      — Bom - disse Rachel - nós ainda não sabemos, mas creio quem em breve tudo se esclarecerá.
       Eu ia fazer mais alguma pergunta, mas Alfeu perdeu o controle ao desviar de algo, e nós capotamos.
     Fui abrindo os olhos, sentia uma dor de cabeça terrível, e pude ver um pouco de sangue no meu braço. Um pedaço de vidro entrara lá. Fui rastejando para sair do carro, e quando consegui, levei um susto. Alfeu e Rachel estavam lutando contra esqueletos, uns quinze, todos vestidos com armaduras completas, usando espadas, lanças e escudos. Arthur estava sentado com as costas encostadas na lateral do carro destruído.



    Um esqueleto atingiu Rachel e ela foi lançada até nós. Caiu violentamente, mas se levantou e exclamou:
      — Uma ajudinha seria bom!
     Agora eu descartava a ideia da loucura e me apegava mais a do sonho. Ou pesadelo...
     — Mas eu não sei nada de luta! - retruquei. E, ainda por cima, não tenho armas!
     — Apenas siga seu instinto - disse ela. E, quanto a arma, o seu presente, é ela.
   Eu ia retrucar mas ela correu para ajudar Alfeu que tinha três esqueletos em suas costas. Como um relógio e uma mochila poderiam ajudar? Olhei para o relógio e apertei o botão que deveria ligar a luz dele, mas em vez disso, ele virou uma espada com o punho dourado e uma lâmina negra com um dragão azul desenhado, em um piscar de olhos. Fui até o carro e peguei a mochila, quando eu segurei em sua alça, ela se prendeu em meu braço e virou um escudo de ouro com um tridente preto desenhado no meio.
      Arthur me olhava com uma cara de: como você fez isso?
      Dei de ombros, porque também não sabia.
      — Você não recebeu nenhum presente também? - Perguntei eu.
      — Sim - disse Arthur - Agora me lembrei!
     Então, ele puxou uma corrente de ouro de seu pescoço e ela se transformou em duas adagas.
      — Vamos? — perguntou ele.
     Fomos em direção aos esqueletos, golpeei um, ele se desmontou inteiro, fui para outro, a mesma coisa. Pensei que seria fácil. Pensei... De relance eu vi o primeiro que eu havia matado se remontando e, em alguns segundos ele estava de pé novamente. Como venceríamos esqueletos que se reconstruíam a cada vez que eram destruídos?
     Fui golpeando, incessantemente, mas não adiantava. Fazia movimentos evasivos que eu nem sabia da onde tirara aquilo.
      — É o seu instinto — disse Rachel olhando-me como se lesse meus pensamentos.
      Foi quando um esqueleto veio para a direção dela.
      — Rachel! — gritei eu. — Cuidado!



    Mas não deu tempo, o esqueleto a atingiu com o escudo e a lançou sobre os vidros estilhaçados do carro, vi vários cortes nela, mas ela se levantou. Outro esqueleto estava correndo na direção dela para atacar com a espada. Eu senti que deveria protegê-la, e, num movimento rápido, me entrepus entre ela e o esqueleto. Defendi sua investida e contra-ataquei, o dragão desenhado na minha espada brilhava. Dessa vez, o esqueleto virou pó e não se re-ergueu.
     Arthur, estava em um outro canto, golpeando velozmente, mas de nada adiantava. Corri para cima dele e o ajudei. Era um golpe, um esqueleto a menos. Eu defendia, esquivava rolava, contra-atacava e os esqueletos iam diminuindo.
      Até que sobrou só um. Investi contra ele , enquanto ele virava pó ele disse:
     — Isso... Foi só o começo, meu mestre está...( palavras indecifráveis) e o Olimpo e tudo que vocês conhecem vão ser destruídos, uma nova era começará, chega de deuses... Vocês ainda conhecerão a glória de...
     Antes dele dizer o nome, ele evaporou por completo.
      — Você — disse Alfeu. — Você com certeza é o escolhido.
      — Escolhido? — perguntei eu. — Para que?
      — Para salvar o mundo — respondeu ele. — Salvar a todos nós, como na profecia.
   Ah, que bom, _ pensei _ no primeiro dia que eu descubro essas coisas, e já sou encarregado de salvar o mundo. Ótimo. Bem, claro que isso no meu sonho, mas um sonho do qual eu não conseguia acordar.
    — Err, e agora? — Perguntou Arthur. — Como vamos chegar a onde nós íamos? E a propósito, onde nós íamos mesmo?
    — Andando — disse Rachel a pontando para o Cristo Redentor — Lá, é o nosso destino.



    — Espera aí! — exclamei eu. — Cristo? Como assim nós estamos no Rio de Janeiro? Nós estávamos em São Paulo a alguns minutos atrás!
     — Esse é um dos atributos de um carro mágico — disse Alfeu calmamente.
    Andamos até o Cristo, eu e Rachel amparávamos um ao outro, pois estávamos muito machucados.
     — Obrigada — sussurrou Rachel.
     — Pelo que? — perguntei eu.
     — Ah, não se faça de bobo! — disse ela — Você salvou minha vida!
     — Mas eu deixei você se machucar — disse eu. — Então, não me agradeça.
     — Você está exigindo muito de si próprio — tranquilizou ela — Hoje foi só o primeiro dia.
     Depois de meia-hora de caminhada, chegamos ao pé do cristo redentor, e Alfeu chegou à base dele e apertou um botão escondido, abrindo um elevador bem à nossa frente.
     — Nossa! — exclamou Arthur — Uma base secreta bem embaixo do Cristo? Que legal! Estou começando a gostar disso.
     Entramos no elevador e descemos. Saímos em uma instalação, com vários túneis, que por sua vez, levavam a salas com paredes de vidro. Em algumas delas, bonecos sendo destruídos por adolescentes empunhando espadas, lanças, metralhadoras e outras armas extremamente mortais. Em outras, alguns adolescentes deitados em beliches, dormindo, lendo, jogado cartas. Pareciam extremamente acostumados com aquilo.
     Fomos adentrando mais e mais, parecia interminável o número de túneis e salas. Com certeza eu estava perdido a muito tempo, pra mim era tudo igual. Estava começando a ficar tonto quando Alfeu disse:
    — Aqui, esse é o quarto de vocês Gabriel e Arthur, pelo menos por enquanto. Vocês terão uma pequena surpresa quando entrar.
     E foi assim mesmo, assim que abri a porta, era como se eu não estivesse mais em uma instalação super tecnológica embaixo do Cristo Redentor, e sim em uma cabana de praia, com algumas beliches, poucos móveis e uma estátua aqui e ali.
     Nem deu tempo de olhar muito, estava muito cansado com dor em todo corpo, foi o tempo de eu deitar e eu dormir feito uma pedra.
     Foi quando eu tive um sonho, eu não era mais eu, quer dizer, pelo menos não no meu corpo. Eu estava em algum outro país, pois havia neve, muita neve e, haviam dois garotos, aparentemente surpresos como se estivessem recebendo uma notícia que mudaria toda a vida deles. Primeiro, pensei que talvez fosse eu e Arthur, mas, ao observar melhor, era outros garotos, mas tudo muito embaçado e eu entendi apenas três palavras: filhos de deuses.
     Então eu acordei.
     Viu? _ pensei _ era só um sonho.
    Mas uma uma sirene tocava e eu percebi que ainda estava naquele quarto em que fui deixado. Pensei que fosse um alarme de invasão de monstros alienígenas, mas logo depois uma voz daquelas vozes tipo aeroporto que informam os voos disse:
     — Café-da-manhã em 15 minutos.
    Arthur estava levantando também. E, agora eu tinha certeza que não era um sonho e que Alfeu e Rachel não eram loucos. Aquilo realmente estava acontecendo. Se era realmente assim, então eu tinha um pai deus. E se tinha mesmo, quem seria? Por que nunca aparecera para uma visita? Muitas dúvidas encheram minha cabeça, mas eu, de algum modo, sabia que elas seriam sanadas algum dia.
     A porta abriu, e do outro lado dela estava Rachel, dessa vez com os cabelos soltos e um vestido curto verde com flores desenhadas. Continuava linda.
      — Vamos seus dorminhocos — disse ela. — Vamos perder o café!
   Nos aprontamos rapidamente e fomos por meio daquele emaranhado de túneis novamente, até que chegamos a um grande salão com várias mesas com cinco cadeiras em cada, muitos, mas muitos adolescentes sentados e comendo, como se fosse mais um dia normal em um acampamento de escola.
     — Então — disse Arthur depois que sentamos — onde está a comida? Não estou vendo nada
     Rachel suspirou em reprovação e disse:
     — Preste atenção. E não pisque.
    Então, ela olhou para o prato e, do nada, surgiram algumas frutas e um copo de suco.
     — Uau! — exclamei eu — eu também consigo?
    Rachel assentiu. Então pensei em um misto-quente e um suco de abacaxi, na mesma hora, apareceu tudo isso em meu prato. Começamos a comer. Gostei daquilo. Depois de um pouco de conversa, eu perguntei:
     — Rachel, você disse quando chegou em minha casa que não eram vocês que haviam me dado o presente. Então, quem foi?
     — Seu pai — respondeu ela. — No dia que apareceu aqui nós não sabíamos de quem era, apenas estava endereçado à você. Então, quando vi seu escudo na batalha, eu entendi quem era seu pai...
     — Quem? — perguntei eu apreensivo.
    — Poseidon — respondeu ela. — O deus do mar, um dos três grandes, Gabriel, você talvez seja um dos semideuses mais poderosos que já existiu.
    Fiquei boquiaberto. Então, meu pai era Poseidon, minha mãe nunca quis falar muito sobre ele, talvez pela falta de criatividade que ela tinha, talvez não conseguisse inventar algo convincente o suficiente. Por isso, preferira o silêncio.
    — Ah — disse eu. — O.k., em um dia, um garoto normal, no outro um dos “semideuses mais poderosos que já existiu”.
    — Você vai se acostumar — disse Rachel com um sorriso tranquilizador. — Eu me acostumei, todos aqui se acostumaram.
    — E eu? — perguntou Arthur. — Quem é a minha mãe? Por que pai eu tenho.
    — Atena — respondeu Rachel. — analisando seus gostos, jeito de viver, só pode ser ela.     
    Você é inteligente e gosta de arquitetura, só isso já basta para sabermos.
     De repente, um homem chegou e se pôs atrás de mim dando me um susto. Era um homem de uns 40 anos, casaco preto, embora não estivesse frio, calça camuflada, botas pretas e uma boina também preta. Uma barba rala grisalha, o que aparecia de seu cabelo, mostrava que ele também era raspado e grisalho.
     — Bom dia — disse o homem — Gabriel não é?
     — Err.. sim — respondi desconfiado.
     — Muito prazer, eu sou Hugh — disse ele — fui designado especialmente para treiná-lo.
    — Especialmente? — perguntei eu — Ah sim, para ensinar TUDO desde o começo não é? Por que eu não sei nada!
     — Não foi isso que Alfeu disse. — disse ele. — Mas chega de papo, venha quero medir seu poder de luta.
     Voltamos aos corredores, mas eu já começava a me familiarizar, quase já me orientava lá, depois daquilo, até o labirinto de Dédalo seria mole para mim.
    Chegamos à uma das primeiras salas que eu vi. Aquela com bonecos e crianças destruindo eles.
    Hugh me mostrou uma grande quantidade de armas que estavam em um móvel e perguntou:
       — Qual você escolhe? Tem espadas, escudos, metralhadoras, rifles...
       — Essas aqui — disse eu interrompendo-o e mostrando as minhas.
    — Ah, hum...sim — disse ele surpreso ao ver que eu já tinha minhas próprias armas, presente de meu pai. — pronto?
      — Hum, sim, eu acho.
    Então ele investiu, e, em um reflexo eu defendi e contra-ataquei, e ele esquivou-se tomando distância para um novo ataque. Foi uma bela sequencia de ataques, defesas, esquivas e contra-ataques. Observando seu rosto durante a luta, seu rosto foi de tranquilidade à esforço e surpresa. Hugh fez sinal para que parássemos.



      — Bom, muito bom .Vou classificá-lo como nível... altíssimo. Você deve ser mesmo um dos semideuses mais poderosos de todos os tempos, só você, desde que esse lugar existe, treinou no nível altíssimo logo no primeiro dia.
    Eu estava achando aquilo o máximo, até que meus adversários apareceram: robôs gigantes com espadas muito, mas muito afiadas. Cada um com duas delas e mais dois braços robóticos livres. Por que eu não podia treinar com fantoches que ficavam parados só esperando você acabar com eles como os outros?
    No começo, aquilo foi uma completa humilhação, mal conseguia tempo para me defender, eu rolava, usava a espada e o escudo, tudo na defensiva, não arranjava tempo para contra-atacar. Pedi uma pausa.
     — Você não pode só defender — disse Hugh enquanto eu bebia uma água. — aumente sua velocidade, tente pelo menos contra-atacar e mantenha sua postura melhor, ela está como se estivesse prestes a morrer.
     E eu realmente estaria prestes a morrer se aqueles robôs não estivesse programados para não matar, eu acho. Aquela água me fez muito bem. Senti minhas energias renovando-se a medida que a garrafinha térmica ia se esvaziando.
      — Mais um round — disse eu mais confiante.
    Dessa vez, consegui contra-atacar, parecia muito mais fácil, eu estava mais rápido. Usava o escudo para defender dois ataques de uma vez, e ainda atacava ao mesmo tempo outro robô que estivesse mais distraído. Cinco minutos depois, restavam apenas pedaços de metal retorcido no chão. Somente um perito poderia dizer que aquilo um dia fora robôs.
     — Muito bem — disseram Hugh, Rachel e Arthur aplaudindo.
     — Não foi nada — disse eu. — E agora hã, mentor?
     — Bom, agora... — disse meu instrutor com cara de espanto — agora vá descansar pois você acaba de derrotar os robôs mais fortes da instalação, vou ver o que posso fazer, mais talvez demore um pouco.
     — Já sei — disse Rachel — vou te levar ao seu quarto novo.
     — Quarto novo? — perguntei eu.
     — Sim — disse ela. — aquele era só temporário, enquanto não sabíamos quem era o seu pai. Agora temos um local novo, só para os filhos de Poseidon.
    Ela foi me levando pelos corredores e chegamos a uma porta em que havia um tridente desenhado. Era lá. Meu segundo dia, minha segunda casa.
      — Vou deixar que você mesmo conheça. Tchau, nos vemos no jantar.
      — Se eu achar o caminho — disse eu.
     Ela riu, mas não era uma brincadeira eu realmente não sabia chegar ao refeitório dali, mas resolvi deixar por isso mesmo, com certeza encontraria alguém no caminho que poderia me guiar.
     Ao abrir mais uma surpresa: A casa não era logo depois da porta. Havia uma ponte que levava até lá. Embaixo dela, um pequeno rio corria para o oceano Atlântico que banha o Rio de Janeiro. Eu podia ver a sua foz, onde ele desaguava no mar.
    Mais a frente, uma casa de praia, toda de madeira, bem bonita, se fosse no mundo “normal” eu diria que seria de alguem BEM rico. Ela era grande, com um belo jardim na frente, estátuas de monstros marinho que jogavam água em um recipiente no centro. Lá por sua vez, a água ia por pequenos canais de volta à estátua, repetindo o processo novamente. Havia um passarela de mármore que levava à porta casa. Uma porta de cedro, com a maçaneta e o tridente desenhado no meio em ouro puro.
    Lá dentro, uma sala com dois sofás, e, no lugar onde eu acho que deveria haver uma lareira, havia uma cachoeira que caia num pequeníssimo lago em baixo, onde haviam alguns monstros marinhos em miniatura, daqueles do tamanho de suvenirs mas eles estavam vivos, nadavam, caçavam uns aos outros, espirravam água para fora, e o local secava instantaneamente.
    Havia alguns quartos, eu escolhi um no qual tinha um estátua do meu pai, trajando roupas gregas de guerra e um tridente. Ele realmente seria daquele jeito? Ou seria muito diferente? Ou ainda, seria da forma que ele quisesse? Eu até pensaria mais nisso mas eu estava MUITO cansado e tinha que dormir. Mas, eu ouvi um barulho vindo do rio, fui lá verificar.
    Ao entrar na água, minhas energias voltaram em grande velocidade e aquilo foi extremamente bom. Pouco depois já estava totalmente recuperado, estava prestes a sair quando vi uma silhueta humana se aproximando de mim sobre a água. Quase sai correndo, mas quando reconheci quem era, me acalmei. Era meu pai. Como sabia que era ele? Simples, na minha casa haviam vários quadros dele pendurados na parede, cada uma de um jeito, e o jeito que ele estava, estava igualzinho a um desses quadros. Assim, ficou fácil reconhecê-lo.



     Meu pai, quando estava em forma humana, era um homem de olhos extremamente azuis, cabelos castanhos e uma barba também castanha. Usava uma camiseta laranjada, um short bege e um chinelo havaianas.
    — Pa...Pa...Pai — gaguejei eu — é você mesmo? Então você é mesmo meu pai? Eu tenho tantas perguntas e...
    — Calma filho — disse ele — depois teremos tempo para suas perguntas, isto é, se você sobreviver à sua missão e se você conseguir salvar o mundo. Mas, deixando isso para lá, vim aqui para te dar um aviso: um semi-deus muito poderoso está juntando um exército que está se preparando para atacar o olimpo. Dentro desse exército, estão criaturas muito poderosas que lutaram na primeira guerra entre os deuses e os titãs. Mas, na guerra, eles lutaram um de cada vez, tornando possível sua derrota. Mas, agora, eles estão sendo ressuscitados para lutarem juntos, se todos eles forem ressuscitados e vierem juntos para atacar, estaremos perdidos, nem os deuses poderão detê-los e será o fim desse mundo. Se eles tomarem o poder, o caos se estabelecerá até que o mundo se acabe em trevas. Por favor filho, nos ajude, já que você é o único capaz, pois, os deuses não podem interferir diretamente por causa de uma lei criada a séculos atrás. Estou contando com você.
     — Mas, quem é esse semi-deus tão poderoso?
     — Não sabemos, caberá a você descobrir quem é e pará-lo, destruindo seu exército.
     — Tem certeza que eu tenho que fazer isso? Afinal, eu não tenho experiência e...
    — Apenas acredite em você mesmo. Se conseguir fazer isso, liberará seu verdadeiro poder e superará a todos. Eu confio em você, até mais filho.
     Então ele se transformou em água e sumiu no rio. Estava novamente sozinho. Saí do rio e fui para casa.
    Já estava na hora do jantar, e eu nem tinha visto o tempo passar. Mais uma vez a sirene tocou e avisou a todos que estava no horário.
    Saí para aqueles corredores, procurando alguém que me guiasse, mas, para a minha surpresa eu não precisei, era como se o caminho tivesse sido implantado em minha mente, pois agora eu me guiava facilmente lá dentro.
    Depois do jantar, Rachel se ofereceu para mostrar o resto da instalação para eu e Arthur, ele recusou e disse que estava cansado. Eu também iria, a conversa com meu pai me deixara atordoado, mas ela disse que não aceitaria não como resposta.
    Ela agarrou meu braço e foi me puxando pelos corredores, até que chegamos em uma porta, não bem uma porta, como se fosse a entrada de uma caverna. Ao entramos passamos por um longo túnel, e ao fim dele, avistamos um lago, não sei onde estava aquilo, para mim que no Rio não tinha essas coisas, mas Rachel me explicou que a aura esconde todos os limites do “acampamento”, por isso, ninguém podia ver aquelas coisas.
     O lugar era lindo, o lago era calmo, um azul parecido com o dos olhos de Rachel, e, eu fui pego olhando para eles, o que me fez ficar vermelho, mais que um tomate maduro. Havia um pequena floresta que ficava à esquerda dele, não era tão pequena assim, mas não podíamos chamar aquilo de grande.



    Fomos até uma pequena ponte, e sentamos em sua ponta, colocamos os pés na água (os meus não molharam), e começamos a olhar as estrelas.
    Não consegui dormir direito aquela noite, pensando em que monstros poderiam ser tão poderosos que fosse impossível até para os deuses detê-los e pensei também no semi-deus que os comandava. Ele devia ser muito forte pois um monstro lendário, que pode derrotar um deus, não obedeceria qualquer um, tinha que ser alguém muito especial, muito forte.
    Depois de muito tempo pensando nisso, consegui dormir. Depois, enquanto dormia senti uma presença entrando em meu quarto. Era algo sombrio, tentei ver o que era, mas não consegui. Sabia que estava dormindo, mas não conseguia acordar, era como se a presença me impedisse de acordar. Senti que aquilo foi embora, e, finalmente, acordei. Estava sem ar, suado e cansado. Ouvi baterem na porta. Era Alfeu.
       — Tem alguem... — disse ele.
     — Aqui — eu interrompi — ele veio até meu quarto, era como se ele me segurasse dormindo, era algo muito poderoso, sombrio.
      — Exatamente — disse ele num tom preocupado. — Mas não foi só aqui que ele veio.   
    Agora tenho quase certeza de uma coisa. Ninguém entraria ou sairia daqui se não fizesse parte dos semideuses autorizados. Isso ativaria nossas defesas. Vou contar-lhe o que venho conjecturando: Há alguns dias fomos informados de um ataque que ocorreu em nosso companheiros da Argentina. Eles tem radares poderosos que podem detectar uma pulga à 5 km de distância. E, esses mesmos radares não detectaram um exército de mais de mil criaturas. Hoje, essa coisa entrou e saiu sem ligar nossas defesas, que também são boas além de nossa base ser secreta, protegida por uma aura que os monstros não podem ver nem uma pessoa entrando, ela apenas desaparece e eles nunca descobrem aonde é, o que me leva a pensar uma coisa: essas pessoas estão fazendo viagens pelas sombras, os únicos que podem fazer isso levando um exército, são Hades ou um filho dele, um filho muito poderoso.
     Lembrei na hora da conversa com meu pai.
    — Quer dizer que o semi-deus que está no comando desse exército é um filho de Hades? — Perguntei eu.
    Eu já ia contar da conversa com meu pai quando Rachel chegou aonde estávamos. Ela estava vestida com um pijama, pantufas de coelho e tinha uma cara como se tivesse de acabado de ver o pior fantasma do mundo misturado com seu maior medo e multiplicado por cem. Mas ainda estava bonita.
     — Alfeu eu estava dormindo e... — disse ele com a voz seca.
    — Eu sei, aconteceu com o garoto aqui também e comigo, tem alguem aqui, e já temos uma ideia: um filho de Hades.
    Ela ia falar algo quando Arthur também apareceu com a mesma cara dela.
     — Um... — disse ele.
       Nós sabemos — dissemos eu, Alfeu e Rachel em uníssono.
      Alguém esteve no seu quarto não é? — completei
     — Si.. Sim — gaguejou ele.
     Com isso eu contei a história da aparição de meu pai para mim.
     — Então — disse Alfeu com tom preocupada. — Já está acontecendo...
     — O que? — perguntou Arthur.
     — Ainda não posso dizer ; vão dormir, já é tarde amanhã vejo vocês.
   No café-da-manhã, (eu milagrosamente achara o refeitório sozinho) uma nova pessoa sentou-se conosco: um garoto de uns 16 anos, cabelos loiros em penteado de moicano, olhos castanhos claros, usava uma regata branca, um short jeans e um tênis nike.
     — Olá — disse ele — Meu nome é Laio , muito prazer. Já te deram a notícia?
     — Não — respondi. — Muito prazer meu nome é Gabriel.
    — É, eu sei seu nome. Bom, eu mesmo vou te dar a notícia então: você vai treinar comigo enquanto Hugh projeta robôs que realmente te desafiem. Ah, Arthur, você também é para vir. O.k?
    — Pode deixar — disse ele.
    Então ele deixou nossa mesa e foi até a mesa de seus amigos.
    — Gabriel — disse Rachel
    — Sim? — disse eu.
    — Eu estava pensando se... eu... poderia... — gaguejou ela. — treinar com você hoje mais tarde. Posso?
    — Claro! — exclamei eu.
    — Então até depois — disse ela apressadamente. — E ela saiu da mesa.
    Não sei se foi impressão minha, mas tenho quase certeza que a vi ficar vermelha.
    — Por que ele ficou tão nervosa quando foi perguntar aquilo? — perguntei eu à Arthur.
    Ele deu de ombros.
    — E como eu vou saber? — perguntou ele. — Enfim, nos vemos mais tarde?
    — Espero que sim — respondi.
   Ele saiu da mesa também, fui para o meu quarto, e, mais uma vez, não sei como eu o encontrei.
   Mais tarde, todos nos encontramos na arena de treinamento, mas em outra sala, lá haviam ringues onde os campistas lutavam entre si. Apenas para treinar, mas me Rachel havia me dito que já houvera casos de ferimentos sérios lá.
    Laio estava em um deles e acenou para nós irmos até lá. Eu ia subindo quando ele já me atacou, eu consegui me esquivar. Empunhei minhas armas logo depois de seu ataque.
    — Ou! — reclamei eu — espere!
    — Primeira lição — disse ele. — Os inimigos não vão te esperar.
   Vi que ele estava de guarda baixa e ataquei. Foi como se eu o tivesse atacado em câmera lenta. Ele se defendeu, sorriu debochante e contra-atacou, cortando meu rosto, e ainda derrubou minha espada e eu no chão.
    — Uau! — exclamou Arthur. — como você consegue fazer isso?
    — Com muito treino. — disse Laio com a espada em meu pescoço. — levante-se Gabriel, faça jus à sua fama e me deu pelo menos um pouco de trabalho.
    Me devolveu a espada e me atacou de novo, dessa vez consegui defender-me, dessa vez. Ele me atacou de novo logo depois e me acertou fazendo outro corte em mim. Dessa vez na mão. Pedi uma pausa. Bebi um pouco de água e minhas feridas fecharam-se em um piscar de olhos e eu já tinha energia de novo. Recomeçamos a luta. Conseguia defender-me e contra-atacar. Mas ele sempre defendia e me atacava novamente. Foi essa monotonia até que vi uma brecha um sua quase perfeita defesa: a perna. Fingi um ataque com o escudo em seu peito e o ataquei na perna com a espada. Vi ele se ajoelhando com um corte no joelho, rapidamente coloquei a espada em seu pescoço. Peguei sua espada e a joguei do outro lado da arena. Depois que o libertei notei uma coisa: estava extremamente cansado mesmo depois de ter tomado água.
    — Tudo bem? — perguntou Laio.
    — Sim — respondi. — só estou um pouco cansado.
    — O.k. — disse ele preocupado. — Vamos parar por aqui por enquanto.
   Deixei Rachel e Arthur treinando e fui ao meu quarto, no meio do caminho, passei em frente a uma sala que parecia ser a mais importante da instalação, e uma reunião estava acontecendo lá no momento. E eu, sem querer, ouvi um pedaço:
     — ... não podemos por ele nessa guerra! — dizia Alfeu. — ele não está pronto! Ele tem pouco treinamento e não tem experiência.
     — Errado — disse Hugh — ele já é bom, ele ganhou de meus melhores robôs, e a está treinando com Laio neste momento.
     — Aquele Laio? — Perguntou uma voz rouca — o melhor campista?
   Era a voz de um homem sentado ao lado de Hugh. Ele era gordo, de meia estatura, careca, barba totalmente branca, usava uma camiseta onde estava escrito: Mago. Usava um colete por cima da camiseta Também usava uma calça camuflada e tênis Olimpikus.
    — Sim Jack — respondeu Hugh — aquele Laio.
    — Então ele já está pronto — disse Jack.
    — Vamos esperar mais um pouco quero avaliá-lo melhor daqui a três dias teremos outra reunião — disse Alfeu em tom definitivo. — Reunião encerrada.
   Saí de lá rapidamente antes que eles me vissem e fui para a minha casa. Como eu havia ido lá só para trocar minha roupa que estava rasgada, rapidamente eu sai e no corredor eu encontrei Alfeu.
      — Ei, Alfeu — chamei eu.
      — Sim?
      — Você disse ontem, que já estava acontecendo algo, a que se referia?
     — Bom, acho que já está mesmo na hora de te contar. Mas os únicos que podem saber disso são: você, Rachel e Arthur.
      — Mas, porque? — indaguei.
   — Porque a profecia se refere a vocês, e mais dois semideuses que ainda não conhecemos. Vou te contar ela:

Pénte imítheous tha
Tésseris na gnorízoun to iliostásio ,
kai mia agápipou tha emfanisteí, 

to teleftaío imítheos tha entachtheí 
Dýo apó tous prodótes, 
kai oi zoés tous ítan o termatismós tou imítheou ischyróteri
Móno tin teleftaía méra , oi íroes tha synantithoún
Oi skiés pou érchontai , allá óla prépei na doúme
I méra teleiónei o kósmos


   Vocês podem não acreditar, mas eu entendi o que ele falou. Não sei como, mas sei que de alguma forma, eu entendi. E foi como se ele tivesse falado em português mesmo. Alfeu havia dito isso:

Cinco semideuses irão,
Quatro no solstício se conhecerão,
e de um amor que surgirá, o ultimo semideus se juntará
Dois deles traidores, e suas vidas findadas pelos semideuses mais fortes
Apenas no dia final, os heróis todos se unirão
Pelas sombras eles virão, mas todos hão de ver
O dia em que o mundo acabar.


     — Quatro no solstício... — disse eu pensativo. — Eu, Arthur, Rachel e?
   — Rachel não — disse ele. — Apenas você e Arthur, que nós temos conhecimentos
     — Então, por que Rachel pode saber se ela não está incluída?
   — Mas ela está — disse Alfeu. — e de um amor que surgirá, o último semideus se juntará.
    — Amor? — perguntei confuso.
    — Sim. Gabriel, Rachel está apaixonada por você, e isso provavelmente virará um amor mais tarde, e, pelo jeito que você olha para ela, posso dizer que você sente o mesmo.
    Queria dizer que não. Mas era verdade, eu, desde a primeira vez que a vi, sabia que seria alguém muito especial para mim. E isso também explicava o modo como ela agia para comigo, nervosa, tímida talvez. Fiquei vermelho.
     — Por isso não queria te contar Gabriel, por causa desses dois desconhecidos, e uma informação errada pode levar a morte em uma missão.
    Seu rosto pareceu sentir dor quando ele falou em morte em uma missão. Ficou tão triste e carregado, que, por um momento, ele pareceu dez anos mais velho. Mas rapidamente ele mostrou um sorriso novamente. Embora eu soubesse que aquele sorriso era falso. Resolvi perguntar, saber mais dessa história.
     — Eu sei que muita audácia minha, mas, que informação errada você deu que resultou na morte de alguém?
    Seu sorriso falso sumiu de sua boca, sua expressão ficou gélida e triste novamente.
    — Ah, isso é uma longa e triste história, você não vai querer ouvir...
    — Por favor, eu quero sim!
    Não deveria ter insistido no assunto, percebi que havia acabado com o dia de
Alfeu. Tive a impressão de que nem salvar o mundo o faria se sentir melhor naquele momento.
      — Era o ano 1001. Estava acontecendo uma guerra, entre a Grécia e Itália.
     Pensei que ele estava brincando, pois se fosse verdade, ele teria mais de um milênio de vida . Mas, resolvi não interromper.
    — Meu filho, estava participando dessa guerra, ele era o comandante. Ele estava encarregado de matar o melhor guerreiro do inimigo. Esse guerreiro tinha mergulhado no rio Estige e pegado os poderes de Aquiles, ou seja, a invulnerabilidade em quase todo o corpo, menos em um minúsculo ponto. Quando soube que meu filho o enfrentaria, tratei de descobrir qual era o seu calcanhar de Aquiles. Depois de certo tempo, enquanto eu segurava meu filho, tentando-o convencer de esperar até que esse calcanhar de Aquiles fosse descoberto, um espião que mandei chegou trazendo-me boas notícias: o calcanhar fora descoberto. Era uma região muito difícil de ser acertada: a sola do pé direito. Contei a meu filho e ele finalmente saiu. E eu, é claro, fui junto. Chegando lá, seu inimigo já estava à sua espera com espada em punho. Seu nome era Hércules, não o verdadeiro, mas intimidava igualmente. ele era um homem de mais ou menos 2 metros de altura, tinha músculos grandes, cabelo castanho escuro, olhos pretos, usava uma armadura completa, um elmo de ouro e uma espada de bronze. Talvez nem precisasse da invulnerabilidade para vencer alguém. Meu filho era realmente bom, até para alguém que ficara invulnerável, não era páreo para ele. Eram golpes e esquives perfeitos, nada o atingiu, mas também, nenhum de seus golpes feriu Hércules. Até que, quando Hércules atacou, meu filho desviou e conseguiu derrubá-lo e fazer um corte do tamanho suficiente para ver o calcanhar de Arthur de Hércules. Golpeou com toda a força, fechei os olhos e pensei: acabou, meu filho venceu. Mas, quando reabri os olhos vi a espada de meu filho quebrada, Hércules se levantando lentamente, meu filho me olhando, ao mesmo tempo, horrorizado e desapontado comigo. Vi que Hércules já avançava para cima de meu filho de novo. Ele rapidamente recebeu uma espada de outra pessoa de seu exército, mas já estava ficando cansado, não tinha a mesma agilidade do começo da luta e recebeu vários golpes.
     Entendi então o porquê de ele ficar com tanta dor em sua expressão ao dar-nos a informação que ele havia nos dado. Seu filho morrera por causa de uma informação errada que seu pai lhe dera. Então a expressão de Alfeu mudou, não era mais aquela de tristeza mas sim, triunfante, orgulhoso. Pouco depois entenderia o porquê.
    — Então — continuou ele. — eu já estava com lágrimas nos olhos vendo a morte de meu filho por minha causa, quando ele, de repente, olhou para mim e deu um sorriso. Aquilo me encheu de paz, uma ponta de esperança veio até mim e eu senti que meu filho poderia vencer Hércules.
    Alfeu contava aquilo como se estivesse acontecendo em sua frente naquele momento.
    — Meu filho se levantou e golpeou Hércules com tanta força que seu elmo se partiu ao meio e caiu no chão. Hércules estava aterrorizado, talvez estivesse pensando: como ele pôde reunir tanta força para lutar? Há um momento ele estava praticamente morto! Antes que ele recuperasse a sobriedade, meu filho o atacou na parte superior da orelha, arrancando-a fora. Uma quantidade exagerada de sangue jorrou de lá. Era o verdadeiro calcanhar de Aquiles de Hércules. Eu estava tão feliz, meu filho havia vencido, mas rapidamente minha felicidade acabou. Hércules em um último esforço disse: “não vou morrer indignamente...” Lembro-me que sua voz estava fraca e rouca, ele mal se aguentava em pé, mas deu um golpe certeiro. Sua espada atravessou a armadura de meu filho e perfurou seu peito e chegou a seu coração. Pude sentir. Hércules deu um sorriso maligno e, ao mesmo tempo satisfeito e caiu morto no chão. Meu filho também, a espada cravada em seu peito. Corri até lá. Os exércitos, vendo seus líderes mortos, começaram a lutar sem nenhuma coordenação. Abaixei-me perto de meu filho e disse-lhe: “ desculpe-me por ter dado a informação errada. Se a tivesse acertado você teria vencido, Desculpe-me.”. Para a minha surpresa ele sorriu. Eu sabia que era a última vez. Ele disse-me : “Obrigado pelo o que o senhor me fez até agora, o senhor me deu forças para me levantar de novo e...” Sua voz falhou, ele apertou minha mão com força e me puxou para baixo dando-me um abraço. “Eu te amo filho — disse-lhe eu — te amo mais que tudo nessa vida!”. “ Eu...Eu também...pai — disse me ele fracamente“ . Foram suas últimas palavras e ele suspirou pela última vez.
    Ao terminar da história eu estava chorando feito um bebê. Enxuguei as lágrimas, e lhe disse:
     — Não se culpe. Ele te amava. E o erro não foi seu e, sim de seu espião. E mais um coisinha: Como é que você estava vivo no anos 1001?
    — Eu sou um deus menor Gabriel, sou imortal, achei que você já sabia, por isso não mencionei nada.
     Queria falar alguma coisa que pudesse ajudar de alguma maneira, mas não achei nada que pudesse ser útil. Então, fiz um gesto de despedida com a mão e saí.
   Fiquei pensando naquelas coisas todas a tarde toda, mas a parte que mais me impressionou, foi a parte em que dizia : Pelas sombras eles virão, mas todos hão de ver o dia em que o mundo acabar.
    Será que a parte de o mundo acabar, seria literal? Profecias sempre eram confusas, mas nessa, estava bem clara essa parte de fim do mundo.




















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