quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012








Φ  Capítulo III: Roubo um olho para conseguir uma informação - Gabriel  Φ








       À noite, no jantar Alfeu veio falar comigo.
     — Gabriel — disse ele. — Depois de uma reunião emergencial, decidimos que você,  
     Arthur, Rachel, vão sair para uma missão.
     — E, o que exatamente temos que fazer? — perguntei.
    — Hã, ir atrás do filho de Hades, derrotar o exército dele e salvar o mundo.
     — Não esqueceu de nada? — perguntou Rachel ironicamente.
    — Não — disse ele com um sorriso. — Acho que não. Ah, e não morram por favor, vocês são muito importantes, ok?
    — Se é só isso... — disse Arthur como se estivesse memorizando. — Então está fácil.   Quando partimos?
     — Amanhã de manhã.
    Na manhã seguinte, acordei bem mais cedo do que de costume pois estava ansioso. Me encontrei com Rachel e Arthur no local e hora marcados e saímos para a missão. Nossa primeira parada era em outro país. Tomamos um avião e fomos até ele. Lá estávamos: Chile.
    Como nós arranjamos dinheiro? Simples, um cartão ilimitado, utilizados apenas em missões especiais, guardado a sete chaves. E como deixaram três adolescentes viajar sozinhos do Rio para o Chile? Simples, além de utilizarmos identidades falsas, tínhamos uma “ajudinha” da aura mágica, ela nos fazia aparentar bem mais velhos, a partir daí, ficava fácil.
     De Santiago, que foi nossa primeira parada, tomamos um ônibus que ia mais para oeste, na direção do oceano Pacífico. Paramos em uma pequena vila, onde fui numa loja para comprar um “lembrancinha”. Eu comprei um instrumento típico da região, tipo uma flauta eu vi aquilo no meio de muitas outras bugigangas, mas, de alguma maneira aquilo me chamou a atenção. Arthur comprou um poncho e Rachel uma tiara.

    Tínhamos de ir até uma das montanhas da região para falar com as Greias. Alfeu havia nos explicado todo o caminho. E falou também, que elas sabiam de quase tudo, se havia alguém com quem nós poderíamos conseguir uma informação, esse alguém seriam elas.
Pegamos um táxi e ele nos deixou perto de lá. O motorista disse que daquele ponto não passava pois o lugar era amaldiçoado.
   Descemos e passamos por um pequeno bosque até perto de um lago, o lugar fedia carniça. Mal dava para respirar. De repente, vimos uma sombra no chão. E, não era uma sombra qualquer ela era gigante e em forma de pássaro. Ao olhar para cima, vi um pássaro muito grande com as asas o bico e as patas de bronze. Ele deu uma investida contra nós, nos esquivamos e preparamos nossas armas. Rachel mexeu em uma pequena bolsa e tirou um arco de lá. Arthur arrancou sua corrente de seu pescoço e ela se transformou de novo em duas adagas, e eu, apertei o botão light do meu relógio de ouro e ele automaticamente se transformou em uma espada de 90 centímetros, puxei a alça de minha mochila, e ela se transformou em um escudo também de ouro. Estávamos prontos, quer dizer, pelo menos achávamos que estávamos.


     Quando olhamos para o céu à procura daquele pássaro já haviam centenas deles sobre nós. Aí, eu já ão tinha tanta certeza que estávamos prontos para a luta. O canto deles era um som alto e estridente que nos aturdia diminuindo nossos reflexos. Vieram mais investidas, desviamos de alguns. Mas a maioria nos acertou. Eu estava ferido em praticamente todo o corpo e quase não aguentava mais ficar em pé. Senti um bico cravando em minhas costas e caí no chão. Toque a flauta — dizia algo em minha mente — ela te ajudará.
    Com muito esforço peguei a flauta e comecei a tocar, um som bonito saia dela, assim como eu esperava. Depois de tocar um pouco, não ouvia mais o canto dos pássaros. De repente, como se a comando do som da flauta, a água do lago se levantou em uma grande onda que abrangia toda a área em que os pássaros estavam.
    Continuei tocando sem parar até que os pássaros que não haviam morrido afogados fugissem. Ainda com o som da flauta, joguei a água sobre mim e as minhas feridas se fecharam. Ajudei meus amigos a se levantar, e tratei de suas feridas. Descansamos um pouco e continuamos nossa caminhada até à montanha. Depois de um pouco de caminhada, chegamos ao pé da montanha. Começamos a escalar, como Arthur e Rachel estavam machucados fomos bem devagar pois eu tinha que ajudá-los a subir.
      — Como você sabia que aquela flauta faria aquilo, Gabriel? — perguntou Rachel
     — Não sabia, apenas ouvi uma voz na minha mente e resolvi segui-la já que não tinha nenhuma ideia melhor no momento.
     — Empatia celestial — disse Arthur
     — Em... o que?
    — Empatia celestial — explicou Rachel — é quando os deuses falam com os humanos e os ajudam,fazem isso principalmente com seus filhos. E como você sabe disso?
    — Eu, apenas sei — disse Arthur com uma cara confusa.
    — Mas, não tem uma lei que os impede de interferir? — perguntei eu voltando ao foco.
    — Tem, mas impede apenas de interferir diretamente, indiretamente eles podem. Vamos continuar, pois estamos correndo contra o tempo.
    Subimos o resto da montanha. Lá em cima, era um lugar sem vida, apenas rochas, e, para a surpresa de todos nós, lava, isso mesmo, lava. A montanha na verdade era um vulcão em plena atividade. Andamos um pouco pelo lugar à procura das Greias. Quando já estava anoitecendo, Arthur gritou:
    — Aqui! Aqui estão elas!
   Fomos até o local e lá estavam elas: as Greias.


    Elas eram três velhas que usavam um manto cinza cada uma, apenas uma delas tinha olho, apenas uma também tinha dente e apenas uma também tinha orelha.
    — O que vocês querem? — disse uma delas.
    — Queremos uma informação — disse Rachel.
   — Para uma informação, queremos um sacrifício — disse uma dela asquerosamente. —    
   Um de vocês três.
    — Isso nunca! — gritei eu.
   O vulcão rugiu.
   — Então sem informação — disse outra velha.
   — Tenho um plano — cochichei para Rachel e Arthur. — vamos nos aproximar delas.
   Nos aproximamos e eu disse:
  — Tudo bem. Escolha um de nós. Chame cada um para perto de vocês para vocês poderem escolher o melhor.
   — Tudo bem. — disse a que estava com o olho. — venha primeiro esse com as adagas.
   Ela examinou e, como eu pensei que aconteceria, ele tirou o olho e passou para a outra. E, ela, por sua vez, passou para a outra. O olho era um olho com a órbita cinza, estava vermelho e nervoso, e olhava para os lados freneticamente.
    — Agora, queremos... você, o da espada e do escudo.
    Fui até elas. A primeira me examinou cuidadosamente, detalhe por detalhe e passou-me para os braços da outra que segurou meu tronco impedindo que eu fugisse. Ainda bem que meus braços estavam livres. Quando uma foi passar o olho para a outra, eu usei toda a minha força para escapar da mão da Gréia e ao mesmo tempo saltar e pegar o olho. Antes que elas chegassem em mim, joguei-o para Arthur que o pôs sobre a lava. Nesse momento elas já haviam me segurado.
   — Estamos com o seu olho sobre a lava — eu disse. — solte-me e responda à minha pergunta se não vamos ter churrasquinho de olho.
   — Tudo bem — disseram elas me soltando. — mas só uma pergunta.
   — Certo — disse Rachel. — onde está o exército desse semi-deus que quer derrubar o olimpo?
    — Ele está na Itália, em Roma mais especificamente. — respondeu uma das Gréias — agora devolva-nos o olho. Cumprimos a nossa parte, cumpram a de vocês agora.
Peguei o olho e joguei longe, só por garantia de que teríamos tempo de fugir.
     Descemos a montanha e voltamos ao lago.
     — Temos de achar um lugar para ficar — disse Rachel — já está tarde.
     — Tem razão — disse Arthur.
    Achamos uma caverna, cada um armou o seu colchonete e saímos para pegar lenha para uma fogueira. Estávamos morrendo de fome. Depois que comemos a sopa de legumes que   
      Arthur fez, nos sentamos e volta da fogueira.
     — Eu... — disse Arthur levantando-se. — Eu vou ali fora, quero pensar um pouco.
     — O.k. — disse eu.
    Vi que Rachel estava bem ferida.
    — Deixe-me tratar disso — disse a ela.
    — Não precisa — Disse Rachel. — estou bem.
    — Não, não está. E eu insisto.
    — O.k. Então.
   Peguei a caixa de primeiros socorros onde haviam alguns remédios especiais, mais fortes, e rápidos. Enquanto eu fazia os curativos, eu resolvi puxar algum assunto.
    — Então — disse eu. — quem é seu pai? Ou mãe? Não sei nada da sua vida ainda. Não que eu deva saber mas...
   — Ei — disse ela colocando o dedo na minha boca, para me fazer parar de falar. — Você está nervoso?
    — É — admiti. — Pode se dizer que sim.
    Ela reprimiu um sorriso.
    — Não precisa — disse ela. — Eu sou sua amiga, amigos não ficam nervosos quando vão falar com outros amigos! Enfim, vou contar minha história: Eu sempre fui criada só por minha mãe, que falava que meu pai tinha saído para comprar pão, e nunca mais aparecera, deixando ela sozinha para cuidar de mim. Então, Alfeu me achou quando eu completei 4 anos, ele explicou toda a história de deuses à minha mãe, que a princípio não acreditou, mas ele deu algumas amostras, dentro do que a aura deixa ver. Então, eu fui bem nova para o acampamento, se é que aquilo pode-se chamar de acampamento. Fui descobrir um ano depois quem era meu pai. E eu descobri porque uma criança de cinco anos, não deveria construir um robô que faça o papel de um pai. Eu o destruí algumas semanas depois. Enfim, foi daí que eles souberam: meu pai era Hefesto, deus da tecnologia, dos ferreiros e do fogo.

    — Nossa, que história — disse eu. — a respeito do nervosismo, eu não fico nervoso com amigos a não ser que eles sejam mais do que isso, sejam...
Não precisou nem eu completar, ela me beijou, interrompendo minha fala. Aquilo foi a melhor coisa que eu já sentira na vida. Eu até ficaria o resto da noite, tentando lembrar meu nome, mas Arthur me fez esse favor:
    — Gabriel — disse ele entrando na caverna. — Quem vai ficar com o primeiro turno da vigia, afinal monstros podem aparecer, e não podemos deixar eles nos pegar de surpresa.
    — Sim, claro — concordei eu. — Eu fico, estou menos machucado e cansado. Vão dormir vocês dois, qualquer coisa eu chamo.
    Comecei a tocar a flauta, numa melodia doce, até que os dois dormiram. Fiquei pensando durante meu turno inteiro no que meu pai me dissera, e tentei descobrir como liberar meus poderes. Não consegui fazer uma tese concreta para testar então, desisti. Quando acabou meu turno, fui dormir, e Rachel tomou meu lugar. Ela me deu mais um beijo de boa noite. Tive um sonho estranho: eu estava em um caminho que dava em duas portas, abri a primeira e vi minha vida antes de saber que era um semi-deus, a vida “normal”. Abri a segunda e vi minha nova vida, com os treinamentos, as batalhas que eu acabara de lutar e algumas coisas que não haviam acontecido. Acho que era um escolha. No momento em que eu fui escolher, acordei sendo chacoalhado por Gabriel que estava gritando :
    — Acorde Netuninho (Netuno é o nome romano do meu pai, então me apelidaram de netuninho)!! Vamos rápido!



   O sol estava nascendo. Ouvi muitos barulhos do lado de fora. O vulcão estava em erupção. Levantei rapidamente e começamos a correr. Vi o lago e pensei em usar a flauta para fazer com que a água atrasasse a lava. Mas nada aconteceu. Nem som saiu da flauta. A lava era mais rápida que nós com certeza seríamos derretidos se a flauta não funcionasse. Tentei mais uma vez e pensei: você tem que funcionar, por favor, não acredito que estou implorando pra uma flauta, se você não funcionar morreremos!
    Então, toquei mais uma vez. Nada. Diminuí o ritmo pois já tinha perdido as esperanças. Quando senti a lava queimando meu tênis, senti que Rachel me puxou e em sua silhueta dizia: Não desista agora, precisamos de você, EU não quero perder você.
    Então entendi a mensagem de meu pai. Todos confiavam em mim. Menos eu. Antes desse momento, eu confiava apenas na flauta. Mas, Rachel me mostrou que não era a flauta que fizera aquilo mas, sim, eu. Meu pai deixara aquela flauta na loja especialmente para me mostrar o que ele queria dizer. Aumentei de novo o ritmo e passei à frente de Arthur e Rachel. Me concentrei na água do lago. Pensei nos meus amigos, na minha mãe, em tudo que importava para mim. Então, fiz um gesto com a mão e, a água do lago se levantou em uma grande onda em forma de mão e veio para cima de nós. Ela foi diretamente na lava, que diminuiu sua velocidade. Um pouco foi para cima de mim e senti minhas energias voltando.
     Agarrei o braço de Rachel e de Arthur, e puxei-os em velocidade impressionante, pouco depois já estávamos longe da lava, no pé da montanha. Mas, não podíamos parar de correr, pois a lava não se extinguira. Chegamos ao vilarejo e fomos até às casas, vasculhando pois precisávamos de um carro. Procuramos por toda à vila. Quando a lava já estava nela, os moradores tinham saídos todos de lá, então, estávamos sozinhos.
    — Vamos correr enquanto à tempo — gritei eu.
    — Não — disse Arthur. — estou com um pressentimento. Vamos até aquele galpão.
   Corremos até lá. Entramos e procuramos por um carro. Nada. Quando estávamos saindo,   Arthur achou uma chave que parecia de carro.
    — Vamos procurá-lo — disse ele.
  Fomos até à única casa que nós não vasculháramos e, na garagem dela, para a nossa surpresa, tinha um porsche cayman S amarelo.
    — Quem dirige ? — perguntei eu — eu não.
    — Eu — disse Arthur. — Meu pai me ensinou.
   Subimos no carro e saímos da garagem. A lava já estava começando a consumir a casa. Saímos velozmente. Logo, não se via mais o vilarejo.


    — Qual a nossa próxima parada? — perguntou Arthur.
   — Roma — respondeu Rachel. — Ou o lugar mais próximos que podemos chegar de carro. Ou até o próximo aeroporto mesmo.
   — Itália aí vamos nós. — disse eu empolgado, como se eu não tivesse que lutar com um exército de monstros quando chegasse lá.
   — Ah, e à propósito, você não me deve mais nada Rachel. Obrigado. Sem você nós seríamos espetinho de semi deuses.
     — De nada — respondeu ela. — mas você também salvou nossas vidas, de novo. Temos de agradecê-lo.


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