Φ Capítulo III: Roubo um olho para conseguir uma informação -
Gabriel Φ
À
noite, no jantar Alfeu veio falar comigo.
—
Gabriel — disse ele. — Depois de uma reunião emergencial,
decidimos que você,
Arthur, Rachel, vão sair para uma missão.
— E, o que exatamente temos que fazer? — perguntei.
— Hã, ir atrás do filho de Hades, derrotar o exército dele e
salvar o mundo.
— Não esqueceu de nada? — perguntou Rachel ironicamente.
— Não — disse ele com um sorriso. — Acho que não. Ah, e
não morram por favor, vocês são muito importantes, ok?
— Se é só isso... — disse Arthur como se estivesse
memorizando. — Então está fácil. Quando partimos?
— Amanhã de manhã.
Na
manhã seguinte, acordei bem mais cedo do que de costume pois estava
ansioso. Me encontrei com Rachel e Arthur no local e hora marcados e
saímos para a missão. Nossa primeira parada era em outro país.
Tomamos um avião e fomos até ele. Lá estávamos: Chile.
Como
nós arranjamos dinheiro? Simples, um cartão ilimitado, utilizados
apenas em missões especiais, guardado a sete chaves. E como deixaram
três adolescentes viajar sozinhos do Rio para o Chile? Simples, além
de utilizarmos identidades falsas, tínhamos uma “ajudinha” da
aura mágica, ela nos fazia aparentar bem mais velhos, a partir daí,
ficava fácil.
De Santiago, que
foi nossa primeira parada, tomamos um ônibus que ia mais para oeste,
na direção do oceano Pacífico. Paramos em uma pequena vila, onde
fui numa loja para comprar um “lembrancinha”. Eu comprei um
instrumento típico da região, tipo uma flauta eu vi aquilo no meio
de muitas outras bugigangas, mas, de alguma maneira aquilo me chamou
a atenção. Arthur comprou um poncho e Rachel uma tiara.
Tínhamos
de ir até uma das montanhas da região para falar com as Greias.
Alfeu havia nos explicado todo o caminho. E falou também, que elas
sabiam de quase tudo, se havia alguém com quem nós poderíamos
conseguir uma informação, esse alguém seriam elas.
Pegamos um táxi e
ele nos deixou perto de lá. O motorista disse que daquele ponto não
passava pois o lugar era amaldiçoado.
Descemos e passamos
por um pequeno bosque até perto de um lago, o lugar fedia carniça.
Mal dava para respirar. De repente, vimos uma sombra no chão. E, não
era uma sombra qualquer ela era gigante e em forma de pássaro. Ao
olhar para cima, vi um pássaro muito grande com as asas o bico e as
patas de bronze. Ele deu uma investida contra nós, nos esquivamos e
preparamos nossas armas. Rachel mexeu em uma pequena bolsa e tirou um
arco de lá. Arthur arrancou sua corrente de seu pescoço e ela se
transformou de novo em duas adagas, e eu, apertei o botão light
do meu relógio de ouro e ele automaticamente se transformou em
uma espada de 90 centímetros, puxei a alça de minha mochila, e ela
se transformou em um escudo também de ouro. Estávamos prontos, quer
dizer, pelo menos achávamos que estávamos.
Quando olhamos para
o céu à procura daquele pássaro já haviam centenas deles sobre
nós. Aí, eu já ão tinha tanta certeza que estávamos prontos para
a luta. O canto deles era um som alto e estridente que nos aturdia
diminuindo nossos reflexos. Vieram mais investidas, desviamos de
alguns. Mas a maioria nos acertou. Eu estava ferido em praticamente
todo o corpo e quase não aguentava mais ficar em pé. Senti um bico
cravando em minhas costas e caí no chão. Toque a flauta —
dizia algo em minha mente — ela te ajudará.
Com muito esforço
peguei a flauta e comecei a tocar, um som bonito saia dela, assim
como eu esperava. Depois de tocar um pouco, não ouvia mais o canto
dos pássaros. De repente, como se a comando do som da flauta, a água
do lago se levantou em uma grande onda que abrangia toda a área em
que os pássaros estavam.
Continuei tocando
sem parar até que os pássaros que não haviam morrido afogados
fugissem. Ainda com o som da flauta, joguei a água sobre mim e as
minhas feridas se fecharam. Ajudei meus amigos a se levantar, e
tratei de suas feridas. Descansamos um pouco e continuamos nossa
caminhada até à montanha. Depois de um pouco de caminhada, chegamos
ao pé da montanha. Começamos a escalar, como Arthur e Rachel
estavam machucados fomos bem devagar pois eu tinha que ajudá-los a
subir.
— Como você
sabia que aquela flauta faria aquilo, Gabriel? — perguntou Rachel
— Não sabia,
apenas ouvi uma voz na minha mente e resolvi segui-la já que não
tinha nenhuma ideia melhor no momento.
— Empatia
celestial — disse Arthur
— Em... o que?
— Empatia
celestial — explicou Rachel — é quando os deuses falam com
os humanos e os ajudam,fazem isso principalmente com seus filhos. E
como você sabe disso?
— Eu, apenas
sei — disse Arthur com uma cara confusa.
— Mas, não tem
uma lei que os impede de interferir? — perguntei eu voltando ao
foco.
— Tem, mas
impede apenas de interferir diretamente, indiretamente eles podem.
Vamos continuar, pois estamos correndo contra o tempo.
Subimos o resto da
montanha. Lá em cima, era um lugar sem vida, apenas rochas, e, para
a surpresa de todos nós, lava, isso mesmo, lava. A montanha na
verdade era um vulcão em plena atividade. Andamos um pouco pelo
lugar à procura das Greias. Quando já estava anoitecendo, Arthur
gritou:
— Aqui! Aqui
estão elas!
Fomos até o local
e lá estavam elas: as Greias.
Elas eram três
velhas que usavam um manto cinza cada uma, apenas uma delas tinha
olho, apenas uma também tinha dente e apenas uma também tinha
orelha.
— O que vocês
querem? — disse uma delas.
— Queremos uma
informação — disse Rachel.
— Para uma
informação, queremos um sacrifício — disse uma dela
asquerosamente. —
Um de vocês três.
— Isso nunca!
— gritei eu.
O vulcão rugiu.
— Então sem
informação — disse outra velha.
— Tenho um plano
— cochichei para Rachel e Arthur. — vamos nos aproximar
delas.
Nos aproximamos e
eu disse:
— Tudo bem.
Escolha um de nós. Chame cada um para perto de vocês para vocês
poderem escolher o melhor.
— Tudo bem. —
disse a que estava com o olho. — venha primeiro esse com as
adagas.
Ela examinou e,
como eu pensei que aconteceria, ele tirou o olho e passou para a
outra. E, ela, por sua vez, passou para a outra. O olho era um olho
com a órbita cinza, estava vermelho e nervoso, e olhava para os
lados freneticamente.
— Agora,
queremos... você, o da espada e do escudo.
Fui até elas. A
primeira me examinou cuidadosamente, detalhe por detalhe e passou-me
para os braços da outra que segurou meu tronco impedindo que eu
fugisse. Ainda bem que meus braços estavam livres. Quando uma foi
passar o olho para a outra, eu usei toda a minha força para escapar
da mão da Gréia e ao mesmo tempo saltar e pegar o olho. Antes que
elas chegassem em mim, joguei-o para Arthur que o pôs sobre a lava.
Nesse momento elas já haviam me segurado.
— Estamos com o
seu olho sobre a lava — eu disse. — solte-me e responda à
minha pergunta se não vamos ter churrasquinho de olho.
— Tudo bem —
disseram elas me soltando. — mas só uma pergunta.
— Certo —
disse Rachel. — onde está o exército desse semi-deus que quer
derrubar o olimpo?
— Ele está na
Itália, em Roma mais especificamente. — respondeu uma das Gréias
— agora devolva-nos o olho. Cumprimos a nossa parte, cumpram a de
vocês agora.
Peguei o olho e
joguei longe, só por garantia de que teríamos tempo de fugir.
Descemos a montanha
e voltamos ao lago.
— Temos de
achar um lugar para ficar — disse Rachel — já está tarde.
— Tem razão —
disse Arthur.
Achamos uma
caverna, cada um armou o seu colchonete e saímos para pegar lenha
para uma fogueira. Estávamos morrendo de fome. Depois que comemos a
sopa de legumes que
Arthur fez, nos sentamos e volta da fogueira.
— Eu... —
disse Arthur levantando-se. — Eu vou ali fora, quero pensar um
pouco.
— O.k. —
disse eu.
Vi que Rachel
estava bem ferida.
— Deixe-me
tratar disso — disse a ela.
— Não precisa
— Disse Rachel. — estou bem.
— Não, não
está. E eu insisto.
— O.k. Então.
Peguei
a caixa de primeiros socorros onde haviam alguns remédios especiais,
mais fortes, e rápidos. Enquanto eu fazia os curativos, eu resolvi
puxar algum assunto.
— Então — disse eu. — quem é seu pai? Ou mãe? Não sei
nada da sua vida ainda. Não que eu deva saber mas...
— Ei — disse ela colocando o dedo na minha boca, para me fazer
parar de falar. — Você está nervoso?
— É — admiti. — Pode se dizer que sim.
Ela
reprimiu um sorriso.
— Não precisa — disse ela. — Eu sou sua amiga, amigos não
ficam nervosos quando vão falar com outros amigos! Enfim, vou contar
minha história: Eu sempre fui criada só por minha mãe, que falava
que meu pai tinha saído para comprar pão, e nunca mais aparecera,
deixando ela sozinha para cuidar de mim. Então, Alfeu me achou
quando eu completei 4 anos, ele explicou toda a história de deuses à
minha mãe, que a princípio não acreditou, mas ele deu algumas
amostras, dentro do que a aura deixa ver. Então, eu fui bem nova
para o acampamento, se é que aquilo pode-se chamar de acampamento.
Fui descobrir um ano depois quem era meu pai. E eu descobri porque
uma criança de cinco anos, não deveria construir um robô que faça
o papel de um pai. Eu o destruí algumas semanas depois. Enfim, foi
daí que eles souberam: meu pai era Hefesto, deus da tecnologia, dos
ferreiros e do fogo.
— Nossa, que história — disse eu. — a respeito do
nervosismo, eu não fico nervoso com amigos a não ser que eles sejam
mais do que isso, sejam...
Não
precisou nem eu completar, ela me beijou, interrompendo minha fala.
Aquilo foi a melhor coisa que eu já sentira na vida. Eu até ficaria
o resto da noite, tentando lembrar meu nome, mas Arthur me fez esse
favor:
— Gabriel — disse ele entrando na caverna. — Quem vai ficar
com o primeiro turno da vigia, afinal monstros podem aparecer, e não
podemos deixar eles nos pegar de surpresa.
— Sim, claro — concordei eu. — Eu fico, estou menos
machucado e cansado. Vão dormir vocês dois, qualquer coisa eu
chamo.
Comecei
a tocar a flauta, numa melodia doce, até que os dois dormiram.
Fiquei pensando durante meu turno inteiro no que meu pai me
dissera, e tentei descobrir como liberar meus poderes. Não consegui
fazer uma tese concreta para testar então, desisti. Quando acabou
meu turno, fui dormir, e Rachel tomou meu lugar. Ela me deu mais um
beijo de boa noite. Tive um sonho estranho: eu estava em um caminho
que dava em duas portas, abri a primeira e vi minha vida antes de
saber que era um semi-deus, a vida “normal”. Abri a segunda e vi
minha nova vida, com os treinamentos, as batalhas que eu acabara de
lutar e algumas coisas que não haviam acontecido. Acho que era um
escolha. No momento em que eu fui escolher, acordei sendo chacoalhado
por Gabriel que estava gritando :
— Acorde Netuninho (Netuno é o nome romano do meu pai, então me
apelidaram de netuninho)!! Vamos rápido!
O sol estava nascendo. Ouvi muitos barulhos do lado de fora. O vulcão estava em erupção. Levantei rapidamente e começamos a correr. Vi o lago e pensei em usar a flauta para fazer com que a água atrasasse a lava. Mas nada aconteceu. Nem som saiu da flauta. A lava era mais rápida que nós com certeza seríamos derretidos se a flauta não funcionasse. Tentei mais uma vez e pensei: você tem que funcionar, por favor, não acredito que estou implorando pra uma flauta, se você não funcionar morreremos!
Então,
toquei mais uma vez. Nada. Diminuí o ritmo pois já tinha perdido as
esperanças. Quando senti a lava queimando meu tênis, senti que
Rachel me puxou e em sua silhueta dizia: Não desista agora,
precisamos de você, EU não quero perder você.
Então
entendi a mensagem de meu pai. Todos confiavam em mim. Menos eu.
Antes desse momento, eu confiava apenas na flauta. Mas, Rachel me
mostrou que não era a flauta que fizera aquilo mas, sim, eu. Meu pai
deixara aquela flauta na loja especialmente para me mostrar o que ele
queria dizer. Aumentei de novo o ritmo e passei à frente de Arthur e
Rachel. Me concentrei na água do lago. Pensei nos meus amigos, na
minha mãe, em tudo que importava para mim. Então, fiz um gesto com
a mão e, a água do lago se levantou em uma grande onda em forma de
mão e veio para cima de nós. Ela foi diretamente na lava, que
diminuiu sua velocidade. Um pouco foi para cima de mim e senti minhas
energias voltando.
Agarrei o braço de
Rachel e de Arthur, e puxei-os em velocidade impressionante, pouco
depois já estávamos longe da lava, no pé da montanha. Mas, não
podíamos parar de correr, pois a lava não se extinguira. Chegamos
ao vilarejo e fomos até às casas, vasculhando pois precisávamos de
um carro. Procuramos por toda à vila. Quando a lava já estava nela,
os moradores tinham saídos todos de lá, então, estávamos
sozinhos.
— Vamos correr
enquanto à tempo — gritei eu.
— Não —
disse Arthur. — estou com um pressentimento. Vamos até aquele
galpão.
Corremos até lá.
Entramos e procuramos por um carro. Nada. Quando estávamos saindo, Arthur achou uma chave que parecia de carro.
— Vamos
procurá-lo — disse ele.
Fomos até à única
casa que nós não vasculháramos e, na garagem dela, para a nossa
surpresa, tinha um porsche cayman S amarelo.
— Quem dirige ?
— perguntei eu — eu não.
— Eu —
disse Arthur. — Meu pai me ensinou.
Subimos no carro e
saímos da garagem. A lava já estava começando a consumir a casa.
Saímos velozmente. Logo, não se via mais o vilarejo.
— Qual a nossa
próxima parada? — perguntou Arthur.
— Roma —
respondeu Rachel. — Ou o lugar mais próximos que podemos chegar
de carro. Ou até o próximo aeroporto mesmo.
— Itália aí
vamos nós. — disse eu empolgado, como se eu não tivesse que
lutar com um exército de monstros quando chegasse lá.
— Ah, e à
propósito, você não me deve mais nada Rachel. Obrigado. Sem você
nós seríamos espetinho de semi deuses.
— De
nada — respondeu ela. — mas você também salvou nossas
vidas, de novo. Temos de agradecê-lo.
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